Título: Ideia de novo padrão-ouro gera críticas e ceticismo
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2010, Internacional, p. A11

O presidente do Banco Mundial fez uma proposta ousada, de que as principais economias mundiais considerem retomar o padrão-ouro para evitar solavancos em suas moedas, que foi recebido ontem por uma muralha de ceticismo.

Em um artigo publicano no "Financial Times", Robert Zoellick disse ser necessário um sistema cambial "Bretton Woods II" para substituir o regime cambial que foi adotado em Bretton Woods, mas que desmoronou nos anos 70.

Zoellick disse que o novo sistema "provavelmente precisaria envolver o dólar, o euro, o iene, a libra e o yuan". O preço do ouro, que vem sendo negociado ao redor de US$ 1,4 mil a onça, perto de seu patamar recorde de alta, não mostrou grande reação à proposta de Zoellick, pelo menos até ontem.

O padrão-ouro foi um mecanismo cambial criado em 1944, no acordo de Bretton Woods, e ratificado pelo Congresso dos EUA em 1945. Ele previa que os países mantivessem reservas de ouro suficientes para lastrear a sua moeda.

O sistema ajudou o início de reconstrução da economia mundial mesmo antes do fim da Segunda Guerra. Esse padrão de conversibilidade da moeda em ouro se manteve até agosto de 1971, quando o presidente dos EUA, Richard Nixon, abandonou o modelo.

A ideia de Zoellick, ainda vaga, foi criticada por economistas. Alguns analistas dizem que ele pode estar propondo um sistema em que a moeda do Banco Mundial (o direito especial de saque, SDR, na sigla em inglês) reflita o valor de uma cesta de moedas e do ouro.

"Um tal sistema tem a desvantagem de ser submetido à extração do metal", destaca Gunther Cappelle-Blancard, professor da Universidade Paris 1. "E o ouro está relativamente mal distribuído no planeta, o que daria um peso muito importante aos países que o produzem." Para ele, retornar ao padrão-ouro seria "uma reforma estrutural difícil de ser executada".

É consenso entre analistas que o mercado de ouro é pequeno demais para absorver uma demanda desse porte. "Não acreditamos que nenhuma forma de padrão-ouro vá ser adotada de novo. Simplesmente não há oferta suficiente de ouro", disse Edel Trully, estrategista de metais preciosos do UBS. "Já vimos os limites desse tipo de sistema", lembra René Defossez, analista do Natixis.

Alguns economistas entretanto viram bons pontos na proposta.

A ideia de "reintroduzir do ouro no sistema" não é, em si, ruim, considera Jean Pisani-Ferry, diretor do centro de estudos europeu Bruegel. "No sistema monetário atual, os bancos centrais vigiam as taxas de inflação, ancoradas nos preços dos bens, mas não vigiam os preços globais de matérias-primas", afirma. Numa reforma do sistema, tal como preconizada por Zoellick, "poderiam também reagir em função das variações dos preços do ouro", conclui o economista.