Título: Atrasos em obras da Anglo ameaçam projeto da Ternium
Autor: Durão , Vera Savedra
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2010, Empresas, p. B9
O projeto do grupo ítalo-argentino Techint, de construir uma siderúrgica de US$ 5 bilhões na retroárea industrial do terminal de minério da LLX, do grupo EBX de Eike Batista, no município fluminense de São João da Barra, corre o risco de ser atropelado pelos atrasos nas obras do sistema Minas Rio, de extração de minério de ferro da Anglo American, incluindo o mineroduto que vai despejar minério no Porto Açu. A Ternium, braço de aço da Techint, assinou em 2009 um memorando de intenções (MOU) com a mineradora sul-africana de contrato de fornecimento de 10 milhões de toneladas anuais de minério de ferro num prazo de 20 anos para suprir a futura usina. Agora, o projeto está ameaçado por falta da matéria-prima, pois a AngloFerrous, subsidiária da Anglo no Brasil, está tendo dificuldades para garantir o cumprimento do volume declarado no MOU, conforme apurou o Valor. Neste momento, Ternium e Anglo negociam uma solução para o problema. A expectativa é que surja logo, pois alguns gargalos para a implantação da usina do grupo Techint estão sendo resolvidos. O grupo entregou o EIA-RIMA, dando o primeiro passo para obtenção da licença prévia para o projeto no órgão ambiental fluminense, o terreno já está sendo desapropriado pela Codin e a questão fiscal e tributária está em negociação. A Ternium tinha previsão de iniciar operação da usina em 2013.
O imbróglio com a Anglo está mobilizando até o governo fluminense, pois caso a companhia suspenda o MOU, alegando problema no fornecimento de minério para a usina da Ternium, o grupo Techint poderá abandonar seus planos de investir no Brasil e buscar alternativas para instalar a nova usina em outros países.
Julio Bueno, secretário estadual de Desenvolvimento Economico, disse ao Valor que ele e o governador Sérgio Cabral estão preocupados e já entraram na negociação. "A solução, nesse caso, também é política, pois temo que o projeto da Ternium vá parar no México ou no Canadá", declarou. Bueno informou que se reuniu com representantes da Ternium, da Anglo e LLX em seu gabinete, quando o representante da Anglo disse que o problema tinha de ser discutido com a direção da mineradora, em Londres. Após essa informação, o governador Sérgio Cabral, segundo Bueno, enviou carta à Cynthia Carrol, CEO da Anglo, na qual pedia para viabilizar o projeto e cumprir o MOU.
"O interesse do governador nesse projeto é muito grande. Ele atende muito a necessidade de investimento no nosso Estado. Quando eu e o governador estivemos em Londres, em meados de 2008, nos reunimos com diretores-executivos da companhia e falei a eles que para nós era absolutamente fundamental que deixassem minério de ferro da Minas-Rio para suprir duas siderúrgicas que seriam construídas no Porto Açu", declarou Bueno.
O investimento da Ternium, uma das líderes da indústria de aços planos na América Latina, que faturou US$ 5,5 bilhões nos nove primeiros meses do ano e lucrou US$ 921 milhões, viabiliza a criação de um polo siderúrgico no distrito industrial no megaporto de Eike Batista. Segundo Bueno, Cabral tem dado forte apoio ao projeto de mineração da Anglo, principalmente no andamento do processo de desapropriação de terras por onde passa o mineroduto no Estado do Rio.
Os ativos do Minas-Rio foram adquiridos de Eike Batista pela Anglo por US$ 5,5 bilhões no início de 2008. Esse projeto inclui, além da exploração de minério na Serra do Sapo, na região de Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais, a construção de uma usina de beneficiamento de minério do tipo fino (pellet-feed) e um mineroduto de 600 km que transportará o minério até Açu.
A Anglo Ferrous Brazil, nome da subsidiária que opera o empreendimento no país, também é dona de 49% da LLX, empresa de logística do grupo EBX que é proprietária da área de carga e descarga de minério do porto fluminense.
Em meados de 2008, o então CEO da nova empresa, Bernie Pryor, disse ao Valor que em 2010 o Minas-Rio estaria atingindo a plena capacidade anual de produção de 26,6 milhões de toneladas. "Garantir o projeto no prazo é o nosso maior desafio", declarou na época. Até agora, o projeto não entrou em operação.
Ao apresentar os resultado do primeiro semestre de 2010, a Anglo informou que as dificuldades de obtenção de licença ambiental estavam atrasando a execução do Minas-Rio. O atraso também elevou o custo do investimento. Com início da produção previsto para o segundo trimestre de 2012, a mineradora informou na ocasião que a inauguração ainda deve demorar de 27 a 30 meses a partir da liberação de licenças pendentes.
A companhia previa custos adicionais de US$ 180 milhões a cada trimestre de atraso. Em fevereiro, a Anglo anunciou um aumento de US$ 2,7 bilhões, para US$ 3,8 bilhões, no orçamento da primeira fase de desenvolvimento do sistema de minério de ferro, devido às mudanças sobre o potencial das minas e do sistema de escoamento, além das mudanças no câmbio.
O Valor procurou o principal executivo da AngloFerrous Brazil, Stephan Weber, desde segunda-feira, para ouvi-lo sobre os atrasos nas obras e implicações no fornecimento à Ternium. Sua assessoria disse que não conseguiu contatá-lo até o fechamento desta edição.