Título: DEM antecipa troca de dirigentes
Autor: Agostine, Cristiane; Lima, Vandson
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2010, Política, p. A6

De São Paulo e de Brasília Sob pressão do grupo do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e do ex-senador Jorge Bornhausen (SC), o DEM decidiu antecipar a eleições internas para presidente nacional e dirigentes regionais do partido. O atual presidente da legenda, Rodrigo Maia, deputado federal pelo Rio, não participou da reunião. Maia estava em Washington em encontro com políticos do Partido Republicano. O partido marcou uma reunião para 8 de dezembro, quando definirá as novas datas das convenções municipais, estaduais e nacional.

Em pé de guerra com Maia, Kassab ganha tempo para tentar converter a maioria do partido à sua tese de incorporação do DEM ao PMDB.

Maia é contrário à fusão por conta de dificuldades que teria com o PMDB do Rio. Por e-mail, o ex-prefeito do Rio e candidato derrotado ao Senado Cesar Maia, pai de Rodrigo, disse que "nunca existiu" a possibilidade de fusão. Sobre a antecipação das eleições para a escolha de novos dirigentes, afirmou não ver problema. "A executiva se reúne, convoca uma convenção extraordinária e esta convoca a convenção para definir uma nova executiva ou manter a mesma", afirmou.

Ontem, por unanimidade da direção executiva do DEM, a possibilidade de fusão foi descartada, mas pode voltar ao debate dependendo do novos dirigentes. As convenções do DEM estavam marcadas entre outubro e dezembro do ano que vem. A intenção do DEM agora é antecipar a votação interna para o primeiro semestre de 2011. A ideia do Democratas é realizar as convenções municipais em março, as estaduais em abril e a nacional, em maio.

A eventual fusão partidária seria para Kassab solução eleitoral em São Paulo, onde pretende sair como candidato ao governo ou ao Senado em 2014. Sem apoio político do grupo do governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), Kassab poderia viabilizar sua candidatura sem o PSDB. O prefeito é aliado a outro grupo no PSDB, dos tucanos em torno do ex-governador José Serra.

Uma outra saída para Kassab seria sua migração para o PMDB, mas ele teria problemas em levar a bancada que elegeu em São Paulo - oito deputados estaduais e seis deputados federais - devido à decisão do Supremo Tribunal Federal que determinou que em casos de migração partidária, os mandatos de cargos proporcionais ficam com o partido.

Para representantes do DEM, somente com uma "janela" os deputados de Kassab poderiam sair do DEM sem a perda dos mandatos - uma nova lei que substituísse a regra em vigor. A análise, contudo, é de que haveria pouca aceitação entre os partidos, desde o DEM e o PSDB, como entre o PT, que ficaria com uma bancada menor que a do PMDB. "Se houver essa janela, o PMDB ganha 30 deputados", disse uma liderança do DEM.

Oficialmente, a justificativa para a antecipação das eleições internas é a necessidade de renovação dos quadros de olho nas eleições municipais de 2012. A intenção é dar espaço aos eleitos em 2010 e a novos nomes para 2012 antes do fim do prazo de filiações. Somente no Câmara, dos 43 eleitos, 18 são novatos. Caso as convenções fiquem para o fim do ano, o partido perde o prazo legal de filiação, sem dar espaço aos novos nomes.

Em almoço com Maia e Kassab no sábado, Bornhausen cobrou de Maia um plano de revitalização do partido, a ser apresentado na reunião de 8 de dezembro. No almoço, o tema da fusão foi dado como encerrado. Ontem, Bornhausen afirmou que o partido "não foi feliz nas eleições".

Segundo Bornhausen, a ideia é atrair novas lideranças para um bom desempenho eleitoral nas eleições municipais de 2012 "para ter direito de pleitear uma candidatura própria a presidente da República". Ele afirmou que, se o partido quiser propalar suas ideias, tem de aproveitar o horário eleitoral no rádio e na televisão em 2012.

O ex-presidente deixou clara sua insatisfação com o atual comando partidário. Disse que em 2007, quando os diretórios foram dissolvidos, o objetivo era fazer uma mobilização, o que não aconteceu em alguns diretórios. "Continuamos a ter setores cartoriais", afirmou. O ex-senador considerou as notícias sobre articulações de Maia e Kassab com outras legendas "uma batalha de Itararé" (a que nunca existiu) porque o assunto nunca foi levado à executiva.