Título: PMDB exige critérios para nomeações
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2010, Política, p. A11

A presidente e o vice eleitos, Dilma Rousseff e Michel Temer, conversaram ontem por aproximadamente duas horas, um dia após o PMDB anunciar a formação de um megabloco parlamentar na Câmara dos Deputados. Os pemedebistas querem que Dilma estabeleça o quanto antes os critérios para a formação do governo, como quantos ministérios caberão a cada partido da base de sustentação política. Dilma disse a Temer que pretende anunciar os ministros da área econômica ainda este mês, talvez já na próxima semana, e os demais até 20 de dezembro.

Temer negou que a formação do megabloco com PP, PR, PTB e PSC e 202 deputados tivesse o objetivo de derrotar o PT na Câmara. Na prática, o megabloco durou menos de 24 horas, mas atendeu ao objetivo imediato do PMDB: começar a conversar sobre a composição do governo, uma negociação que o partido julga que está atrasada e deve ser acelerada. Segundo os dirigentes pemedebistas, não é intenção do partido criar caso para um governo do qual faz parte com o vice Temer. Mas pressionar por soluções rápidas e negociadas.

Este teria sido o objetivo do PMDB ao sugerir a manutenção da atual representação partidária nos ministérios - o partido detém sete Pastas, contando com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Por sinal, a cúpula pemedebista afirma não ser verdade que vete a nomeação de Meirelles na cota partidária. "Nós estamos dispostos a dar cobertura para ele permanecer na presidência do Banco Central", disse ao Valor um dirigente do PMDB.

Apesar de a proposta ter sido pública, o PMDB não recebeu nenhuma resposta de Dilma ou do PT. O anúncio da constituição do bloco foi uma advertência: se o PT insistir em "blindar" a presidente, o PMDB sempre reagirá na mesma medida.

Isso já teria ocorrido na campanha eleitoral, quando o partido deixou de frequentar as reuniões de coordenação por entender que elas não serviam para nada. Até 18 de outubro, quando Dilma, em entrevista ao "Jornal Nacional", esquivou-se de uma pergunta sobre declarações de Ciro Gomes, segundo as quais o PMDB era um "ajuntamento de assaltantes" e seu presidente, Michel Temer, "o chefe dessa turma". O PMDB voltou e ameaçou processar Ciro, caso Dilma não defendesse o candidato a vice, o que ela fez o no dia seguinte.

Além de dar cobertura para Meirelles ficar no BC, o PMDB reivindica seis ministérios, mas está disposto a trocar alguns que detém atualmente por outros "equivalentes". Os ministérios ocupados pelo PMDB são os da Agricultura, Comunicações, Defesa, Integração Nacional, Minas e Energia e Saúde. O partido gostaria de ficar com o dos Transportes, mas essa não é uma exigência incondicional. Outro ministério considerado "equivalente" é o de Cidades, para o qual é cotado o ex-deputado Moreira Franco, um nome certo na lista dos ministeriáveis do PMDB a Dilma.

O PMDB também considera "equivalentes" algumas estatais como a Petrobras e empresas de economia mista como o Banco do Brasil. Os pemedebista decidiram que, a partir de agora, só vice-presidente eleito Michel Temer fala em nome do partido sobre as negociações para a formação do governo que assume em 1º de janeiro de 2011.

O PMDB avalia que os problemas na Câmara só acabarão quando o PT firmar o compromisso de revezamento na presidência das Casa. No que se refere ao Senado, os deputados sugerem que o PT procure diretamente os senadores. Senadores pemedebistas passaram a acreditar que José Sarney pode desistir da reeleição, por motivos de saúde. O que é um problema, porque o partido não tem outro nome em condições de reunir maioria, no momento, a não ser o de Edison Lobão (MA). Mas Lobão só pensa em voltar ao Ministério das Minas e Energia e deixar a vaga no Senado com o filho.

A ideia do bloco com o PP, PR, PTB e PSC foi arquivada, mas não abandonada. Trata-se de uma aliança de centro-direita que deve ser retomada no início da próxima legislatura para servir de "ponto de equilíbrio" ao PT e ao bloco que eventualmente venha a formar à esquerda com o PSB, PCdoB e PDT para atuar em votações como a reforma política.