Título: PT do Senado insiste em alternância
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2010, Política, p. A11

O PT do Senado respeita o direito do PMDB de indicar o futuro presidente da Casa, por ter a maior bancada a tomar posse em fevereiro, mas reivindica a possibilidade de ocupar o cargo no segundo biênio da próxima legislatura, se os dois partidos fizerem acordo de revezamento no comando da Câmara. Essa posição será defendida hoje ao presidente do PT, José Eduardo Dutra, pelos senadores petistas, atuais e eleitos, em reunião no Senado.

"Não estamos reivindicando alternância. Não é condicionalidade nem imposição. Mas, se o princípio é partidário e se o argumento vale para a Câmara, tem que valer para o Senado", afirmou ao Valor o atual líder da bancada do PT, Aloizio Mercadante. "Se a discussão [de rodízio na Câmara] prosperar, deve ser discutida nas duas Casas", completa. Em fim de mandato, ele não estará no Senado em 2011, mas tem conduzido as conversas com os parceiros da base governista na formação de blocos partidários.

"Mercadante atrapalha bastante as conversas. Não existe essa coisa de incluir o Senado no pacote da Câmara. Não existiu na época em que Mercadante era senador, que dirá quando não for", afirmou o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), que foi reeleito e trabalha para continuar na função na próxima legislatura.

Renan articula a reeleição do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que tem dito não desejar permanecer no cargo. Mas os senadores dizem que ele é candidatíssimo. "Sarney tem dito que não quer, mas há um esforço de setores do Senado, eu sobretudo, para que ele admita a hipótese. Um Senado renovado em mais de dois terços exige alguém experiente, com domínio da Casa e que conviva bem com todos."

Os senadores petistas preferiam que o PMDB indicasse um novato. Falam em "renovar e modernizar as práticas administrativas" do Senado. Mas Mercadante nega que haja vetos ou vontade de impor uma indicação ao PMDB.

O PMDB terá 20 senadores na próxima legislatura. Acaba de perder um dos eleitos, Marcelo Miranda (TO), que teve o registro da candidatura negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na terça-feira. Seu mandato de governador foi cassado no ano passado por suposto abuso de poder político nas eleições de 2006. Cabe recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF). No lugar de Miranda, assumirá Vicentinho Alves (PR), elevando a bancada do PR para 5 senadores.

O PT, com 14 senadores, terá a segunda bancada e vai indicar o ocupante da primeira secretaria, segundo posto mais importante da Casa, responsável pela administração do Senado, hoje sob comando do PMDB. O partido hoje tem oito senadores e forma o Bloco de Apoio ao Governo, de 17 parlamentares, com o PR (4), PSB (3), PRB (1) e PCdoB (1).

A intenção dos petistas é manter esses partidos unidos em um bloco, para fortalecer a base de sustentação do governo Dilma Rousseff e enfrentar a hegemonia do PMDB. Com o crescimento dessas siglas (o PT ganhou 6 e PR, PSB e PCdoB terão 1 a mais cada), o bloco teria 25 senadores - exatamente o mesmo tamanho que deverá ter o bloco formado do PMDB (20), caso Renan consiga manter o bloco com o PP (que tem 1 senador e elegeu 5).

O PDT está sendo sondado pelo PT a entrar para o Bloco de Apoio ao Governo, o que o tornaria maior do que o do PMDB. O PDT terá 4 senadores. Mercadante preocupa-se com o risco de estimular divergências com o principal parceiro do governo. "Não devemos fazer um bloco maior do que o PMDB, para não criar uma disputa, não gerar uma discussão sobre o critério de composição da Mesa", afirmou. Hoje, o critério que vale é o do tamanho do partido e não do bloco.

O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) diz que o partido ainda não decidiu se permanece no bloco do PT. Há, segundo ele, possibilidade de a sigla tentar se unir a PSB, PRB, PMN e PSC em um bloco sem o PT: "Mas isso só acontecerá se conseguirmos musculatura. Um blocão aqui de 13 senadores poderá pleitear uma comissão importante."