Título: Aliados do bloco pemedebista recuam
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2010, Política, p. A11

A forte reação do governo à criação do bloco parlamentar com PMDB, PTB, PR, PP e PSC moderou o discurso dos envolvidos em sua formulação e fez surgirem dúvidas quanto à sua viabilidade. A intenção em dar continuidade às conversas para unir esses partidos foi mantida. Idealizador do bloco, o PMDB confirmou o interesse em levá-lo adiante, embora tenha visto alguns dos aliados ao projeto questionarem a ideia depois da intervenção do governo.

"É inoportuno discutir esse bloco agora. A renovação da Câmara foi alta e do partido também. Os novos deputados não podem chegar aqui já com a receita pronta. Além disso, a eleição para a Mesa é só em 15 de fevereiro. Qual o sentido de discutir isso agora?", afirmou Silvio Costa (PTB-PE), que comunicou ao líder do partido, Jovair Arantes (GO), a preocupação quanto aos andamentos das conversas. "Fala-se que é um processo embrionário, só que já virou um dinossauro, com efeitos colaterais negativos", disse.

O PP, após uma primeira ameaça de recuo - alegou não ter participado de qualquer conversa anterior -, reuniu-se com os partidos do bloco e confirmou seu interesse, mas deixou claro que o objetivo não era derrotar o PT e o governo na disputa pela presidência da Câmara em 2011. "Não tem nada contra o governo, nada contra o PT e nem compromisso com eleição para presidente da Câmara. É só para garantir espaço no Legislativo", afirmou o líder da sigla, João Pizzolatti (SC). De acordo com ele, o bloco apenas recria o grupo formado neste ano, com a finalidade de ocupar espaços principalmente das comissões temáticas da Câmara.

Pegos de surpresa pelo anúncio, deputados do PR reclamaram que não haviam sido consultados e solicitaram ao seu líder, Sandro Mabel (GO), uma reunião da bancada no fim do dia. A tendência, porém, era de adesão. "É fundamental. Juntos teremos mais força, é importante para a coesão da Casa. E também no sentido de ouvir as reivindicações dos partidos aliados na composição do governo", disse Lincoln Portela (PR-MG), vice-líder da legenda.

Em reservado, os petistas protestaram e ameaçaram clamar na cúpula do partido e do governo por pressões e eventuais perda de espaço no governo Dilma e risco na liberação de emendas parlamentares. Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu ontem ao bloco: de acordo com o presidente, os partidos precisam dialogar. "Acho que é hora de os partidos começarem a discutir. Quem vai ser presidente da Câmara, quem vai ser presidente do Senado. Acho que o papel dos partidos é conversar", afirmou, em evento após a 2ª Conferência Nacional de Economia Familiar.

Os pemedebistas, contudo, mantiveram a idéia de levá-lo adiante."O bloco está mantido com os mesmos objetivos divulgados no seu anúncio: não confrontar o PT e disputar os cargos legislativos em 2011", afirmou o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). De acordo com ele, a disputa pela presidência da Câmara passa necessariamente pelo bloco e o PT, se não quiser integrá-lo, terá que discutir com ele.

Os integrantes da legenda também querem utilizar o bloco para fazer as negociações por espaços no governo da presidente eleita Dilma Rousseff (PT). Há a avaliação de que o PT atribui ao PMDB o apetite por Pastas que estão nas mãos do PR, como Transportes, e Cidades, como o PP. Com o bloco, a negociação tende a ser primeiro internamente e depois o grupo leva suas reivindicações à presidente.

"O bloco unifica a base. Não tem qualquer confronto com o PT. Mas chegou um momento que parecia que o PMDB queria ocupar o ministério do PR, ou do PP. Então fizemos este bloco para harmonizar a base e respeitar o espaço de cada um", afirmou o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). Deputado reeleito para o seu décimo-primeiro mandato, foi ele quem anunciou o bloco anteontem e é o maior beneficiado pelo acordo entre os partidos, uma vez que pretende disputar a presidência da Câmara. No partido, avalia-se que um recuo do bloco minaria qualquer pretensão do partido e de Alves em levar adiante sua pretensão de presidir a Câmara nos próximos quatro anos. "isso seria uma tragédia para ele", afirma um dos deputados do partido.