Título: Crise na Irlanda gera calafrios na UE
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Fonte: Valor Econômico, 12/11/2010, Internacional, p. A20

A União Europeia entrou em estado de calafrios por causa dos temores de um ressurgimento de sua crise de dívida. O custo do seguro da dívida de Irlanda, Portugal e Espanha atingiu níveis recordes, enquanto os receios com a situação dos países da periferia da zona do euro persistem. O euro, também afetado por essas preocupações, recuou.

De acordo com a empresa de pesquisa Markit, o spread (prêmio) dos swaps de default de crédito (CDS) de cinco anos da Irlanda subiu 27 pontos-base, para 620 pontos-base; o da Espanha aumentou 15 pontos-base, para 294 pontos-base; e o de Portugal cresceu 14 pontos-base, para 505 pontos-base, superando o patamar de 500 pontos pela primeira vez.

Receios de que a Irlanda seja forçada a buscar socorro do restante da Europa, agora que os custos do serviço da sua dívida subiram para mais de 8%, têm sido o principal motor da redução do apetite por dívida da zona do euro. Também preocupam os bancos que são mais expostos à Irlanda, cujas ações vêm operando em baixa.

O sistema bancário irlandês também está na berlinda. Morgan Kelly, professor de economia que é conhecido na Irlanda como "Doutor Apocalipse", por causa de suas previsões ruins sobre a situação do país, disse que o risco de inadimplência dos financiamentos imobiliários pode forçar o governo a ter de socorrer o sistema bancário com ¿ 70 bilhões. A estimativa inicial do governo irlandês era da necessidade de um pacote de auxílio de ¿ 50 bilhões.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, disse hoje que "a União Europeia está pronta para ajudar a Irlanda" se isso for necessário. Analistas

Além dos problemas na Irlanda, Portugal teve de oferecer um yield (retorno ao investidor) recorde de mais de 6,8% para conseguir atrair investidores para o leilão de bônus de 10 anos, o que reforçou os desafios que Lisboa enfrenta enquanto tenta consertar suas finanças públicas.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, disse hoje que "a União Europeia está pronta para ajudar a Irlanda" se isso for necessário. Analistas

Na Espanha, dados oficiais mostraram que a tímida recuperação econômica foi paralisada no terceiro trimestre, com um Produto Interno Bruto (PIB) estável em relação ao segundo trimestre.

A ministra espanhola da Economia e Finanças, Elena Salgado, considerou hoje que a volatilidade dos mercados está prejudicando "em muitíssimo menor grau" a Espanha, em comparação com Portugal e com a Irlanda. Salgado admitiu "uma certa preocupação". Ela admitiu que a situação do sistema financeiro irlandês prejudica, "de forma lateral, todos os países".

Os investidores voltaram a se concentrar nos problemas de dívida da zona do euro nas últimas semanas, após uma iniciativa da Alemanha e da França que pode forçar os detentores de bônus a arcar com parte dos prejuízos em um possível futuro socorro a um país europeu.

Os dois países defendem um conjunto de sanções mais amplo para os países da zona do euro que infringirem gravemente os princípios de base econômica do bloco monetário.