Título: Bancos avaliam PanAmericano
Autor: Safatle , Claudia
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2010, Finanças, p. B12

Tudo indica que a Caixa Econômica Federal não comprará o controle do Banco PanAmericano, uma das hipóteses aventadas nos últimos dias desde que veio à tona o rombo patrimonial da instituição. O banco federal não poderia fazer isso por restrições legais. Segundo especialistas ouvidos pelo Valor, é improvável também que o banco estatal venha a vender sua participação de 36,6% no capital total e de 49% no votante, adquirida por R$ 739 milhões. Desde anteontem começaram a ser recebidas ligações de interessados em adquirir o banco e um cenário que se desenha como bastante provável no momento é que o controle do PanAmericano seja vendido a uma instituição de capital estrangeiro que poderia enxergar grande valor em uma parceria com a Caixa Econômica Federal.

A avaliação no governo é que após a injeção de R$ 2,5 bilhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) o PanAmericano está um banco excelente, ajustado, e que quem comprar fará um ótimo negócio. Segundo banqueiros de investimento especialistas em fusões e aquisições, o mercado espera com ansiedade o relatório da PwC para procurar entender exatamente qual o tamanho do rombo e ter mais clareza sobre qual seria o valor para aquisição.

Os especialistas veem alguns pontos fortes no PanAmericano. A licença de banco que atua no país é atrativa para estrangeiros que ainda não entraram no Brasil. A parceria com a Caixa Econômica Federal é de interesse para alguns. A atuação com destaque no crédito à dita população emergente pode ser um chamariz especial para um banco grande com fraca atuação nesse segmento específico e que queira mudar sua estratégia.

Há quem julgue o PanAmericano um bom negócio, apesar do escândalo de fraude. "Negócio mal gerido não significa que seja mal negócio", diz João Augusto Salles, analista da Lopes Filho. Entram na conta o baixo risco apresentado pelas operações de crédito consignado e de financiamento de veículos (que tem a garantia do bem). A financeira seria atraente, na opinião dele, tanto para um banco de médio porte que queira entrar nesse nicho ou reforçar participação como para os bancões de varejo. "O Bradesco, por exemplo, comprou o BMC, extinguiu a placa e hoje gere as carteiras."

Apesar das dúvidas com relação ao total dos ativos do PanAmericano e do tamanho exato do rombo, ontem suas ações PNs (sem direito à voto) subiram 4,61% e seu valor de mercado chegou a R$ 1,209 bilhão, segundo a Economática. Esse valor é abaixo do valor patrimonial do balanço, de R$ 1,5 bilhão.

Para comprar o controle do PanAmericano, o interessado teria de pagar um prêmio sobre o valor de mercado. Na época em que a Caixa anunciou a compra dos 36,6% do capital, por R$ 735 milhões, em dezembro de 2008, os bancos médios valiam cerca de 1,4 vezes seu valor patrimonial. A Caixa pagou um prêmio e o banco saiu a R$ 2,1 bilhão. Hoje, os bancos médios valem 1,8 vezes, na média. Analista de banco estrangeiro calcula que o PanAmericano poderia valer em torno de R$ 3 bilhões para a compra de controle.

A Caixa não teria interesse em ampliar sua participação no PanAmericano também por razões estratégicas, pois passaria a concorrer mais diretamente com o Banco do Brasil. Mas a lei que criou a CaixaPar, subsidiária da Caixa para investir em participações em outras empresas, proíbe que ela seja controladora. Isso, por duas razões fundamentais: direitos trabalhistas e agilidade nos negócios. Se a CEF ficar dona de um banco privado, os funcionários daquele banco passarão a ter os mesmos direitos trabalhistas dos funcionários da Caixa. E perde-se todos os benefícios de ter um banco privado: agilidade nas contratações e nas compras e não subordinação à lei de licitações.

Há quem veja pontos fracos determinantes para o valor da instituição após o escândalo da fraude, que inviabilizariam sua venda neste momento a não ser por um valor irrisório. Fora a questão da credibilidade dos números (e todos eles passaram a ser questionados), as dúvidas se concentram, basicamente, na capacidade operacional da instituição. Dois executivos de bancos médios acreditam que a compra do PanAmericano seria uma aposta arriscada devido ao seu alto custo de produção. Caso contrário, dizem, seus executivos não teriam recorrido à originação subsidiada por fraude. Para executivo, o PanAmericano passará a ser um "morto-vivo" e com dificuldades de captação.

Segundo banqueiros, faz mais sentido ao grupo Silvio Santos iniciar o pagamento do empréstimo do FGC com a venda de outros ativos dados em garantia, como o hotel Jequitimar e a Jequiti Cosméticos. Com prazo de 10 anos e carência de 3 para o início do pagamento, sem juros, o empréstimo ao FGC não exerce imediata pressão de caixa no grupo, que vai ter tempo portanto para vender os ativos em condições favoráveis. As 14 prestações semestrais a serem pagas, corrigidas pelo Índice Geral de Preços do Mercado, têm valor de R$ 357 milhões, em base anual. A geração de caixa das empresas do grupo, no entanto, será insuficiente para pagá-las, o que reforça a necessidade de venda de ativos.