Título: Guerra cambial sem saída rápida
Autor: Rosas , Rafael
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2010, Finanças, p. C8

O desequilíbrio cambial global não deverá ser resolvido no curto prazo e as conversas no G-20 não deverão passar de "algumas queixas e promessas". A análise é do consultor e ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, para quem o "mundo vai ser competitivo e não cooperativo".

"Os chineses dizem que vão melhorar a conversibilidade, mas querem quatro anos e o que os americanos pedem é que seja em dois dias. Fica um diálogo de surdos e por isso acho que no G-20 não vai acontecer nada, exceto algumas queixas e promessas", frisou Mendonça de Barros, que participou do Fórum Nacional, no Rio de Janeiro. "Acho que vamos ter um dólar baratinho, um real muito valorizado", acrescentou.

O economista ressaltou que é difícil crer que medidas internas - como a que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% para 6% - possam fazer frente à tendência global de queda da moeda americana.

"Uma operação tipo IOF coloca um pouco de areia na roda, mas não evita a valorização do real. Não tem muita coisa mais que possa ser feita", afirmou.

Uma medida interna mais eficiente seria, na avaliação de Mendonça de Barros, o controle do gasto público, o que, segundo ele, permitiria ao Banco Central reduzir as taxas de juros.

"Torço para que haja avanço fiscal, mas confesso que estou um pouco cético quanto à sua possibilidade concreta", destacou.

O economista também explicou que é uma tendência a adoção de uma cesta de moedas nas negociações internacionais, mas ponderou que tal iniciativa não se dá por decreto, mas "com acordos, ao longo do tempo, e com cooperação".

"Uma cooperação maior dos países encaminharia essa questão melhor, mas é difícil colocar essa cooperação em pé", disse. "A China não quer ser o Japão do século 21. O Japão de 1985 valorizou muito rapidamente sua moeda, gerou bolha imobiliária, bolha nas ações, que explodiu e [o país] está estagnado até hoje", acrescentou.