Título: Serra sugere que voltará a disputar Presidência
Autor: Costa , Raymundo ; Taquari , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2010, Politica, p. 4

Eleições: Tucano agradece empenho de Alckmin e ignora Aécio Ao reconhecer ontem a derrota para Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) sugeriu que pode voltar a se candidatar, pela terceira vez. Aos 68 anos, Serra terá 72, em 2014. Serra foi enfático nos agradecimentos que fez ao governador eleito Geraldo Alckmin por seu empenho no segundo turno - no primeiro, Serra venceu em São Paulo com uma diferença pequena de pouco mais de 800 mil votos. Agora, conseguiu 1 milhão de votos a mais. O candidato derrotado disse que sua mensagem não era "um adeus, mas um até logo."

Assim como foi enfático nos elogios a Alckmin, Serra não citou uma única vez o nome do ex-governador e senador eleito por Minas Gerais, Aécio Neves. Mais cedo, o coordenador do programa de governo do tucano, Xico Graziano, insinuara que Aécio Neves não se esforçara o suficiente na campanha do paulista. "Perdemos feio em Minas Gerais. Por que será?", postou Xico em seu Twitter na internet.

Aécio parecia esperar a reação paulista. Logo cedo, o tucano mineiro divulgou uma nota oficial na qual afirmou que o PSDB se orgulha do "candidato e das propostas que apresentou ao país". Segundo Aécio, "ao contrário do que pode parecer para muitos, o resultado de uma eleição não se resume a quem venceu e a quem perdeu", disse. "Há o resultado político e o resultado eleitoral que nem sempre têm o mesmo significado. Muitas vezes, tão importante quanto o resultado em si, é em nome do que se vence e em nome do que se é derrotado".

A reação de Serra surpreendeu muitos tucanos. Até a véspera da eleição, ele não dizia nem aos amigos mais próximos o que faria, caso perdesse uma eleição que considerava ganha, ao deixar o governo de São Paulo. Estava certo de que venceria Dilma com facilidade, nos debates, achava que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era de fato muito popular, mas nunca calculou que seu poder de transferência de votos chegasse a tanto.

Para Serra, esta foi uma campanha muito diferente que a de 2002. Agressiva. Há oito anos, sua briga foi com Ciro Gomes, na campanha, e Roseana Sarney, na pré-campanha. Tudo o que ele não queria era ser o candidato anti-Lula. Foi levado a ser, pelas circunstâncias de uma campanha polarizada. Em entrevista coletiva a jornalistas depois de votar, por volta das 11 horas, Serra retomou o tom do início da campanha. Ele enfatizou a "beleza da democracia" e afirmou que "talvez hoje mesmo vejamos a beleza da alternância no poder".

"Hoje, dezenas de milhões de brasileiros estão decidindo com seu voto o futuro do Brasil nos próximos quatro anos. Esta é a beleza da democracia. O povo vota, o povo escolhe, o povo decide. O que vamos fazer agora é aguardar o resultado", disse.

Serra tinha convicção da vitória, mas nas últimas semanas aprendeu a conviver com a possibilidade de derrota. O tucano passou a campanha irritado com o presidente Lula, por entender que ele passou os três últimos anos fazendo trabalho eleitoral em favor de Dilma. "É só o que ele gosta de fazer. Campanha: ele não gosta de trabalhar", dizia aos interlocutores habituais.

Governador de São Paulo, Serra estabeleceu boa relação com Lula, Antonio Palocci e, depois, com Guido Mantega (Fazenda). Mas está certo que Dilma Rousseff, tanto nas Minas e Energia como na Casa Civil, trabalhou para boicotar projetos estaduais como a prorrogação da concessão de hidrelétricas e até mesmo a venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil.

Uma hipótese especulada no PSDB, mas que era descartada pelo candidato, é que ele concorra à Prefeitura de São Paulo em 2012. Na realidade, Serra surpreendeu ao reconhecer que pode concorrer de novo à Presidência. Há um movimento dentro do PSDB para que ele assuma a presidência da sigla e torne uma espécie de "oráculo" dos tucanos, papel hoje desempenhado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Apesar da insinuação de Serra, FHC e Aécio Neves são os nomes em alta no PSDB. Aécio é o favorito no partido para a disputa presidencial de 2014, pois o projeto de Geraldo Alckmin seria a reeleição, segundo os tucanos. São quatro anos, mas na projeção atual os aliados de Serra não veem perspectiva de ele voltar a pensar na Presidência da República. Ele de fato foi um "oráculo", mas um "oráculo do mal", diz um tucano.

O problema dessa equação é que ela é do PSDB paulista, e é crença generalizada entre os tucanos - alguns deles de São Paulo - é que haverá uma mudança de eixo de poder no partido, mesmo com FHC na condição de "oráculos" tucano, e Aloysio Nunes Ferreira como principal senador paulista do partido.

Na avaliação da cúpula do PSDB, esta é uma derrota "positiva" para os tucanos. Por vários motivos. A não ser pelos disparos de Serra no último minuto da campanha, o partido julga sair mais unido para a eleição de 2014 muito provavelmente com Aécio Neves, hoje o nome preferido do partido, embora tenha restrições localizadas.

Aécio, por seu turno, cumpriu todos os ritos para se credenciar efetivamente como candidato em 2014. Mesmo que Serra tenha perdido a eleição em Minas Gerais, boa parte dos tucanos reconhece o esforço do senador eleito. Um candidato paulista teria normalmente dificuldades em Minas Gerais, sobretudo tendo esse candidato desbancado o nome de um mineiro. Sem falar que a candidata eleita é de Minas.

Ontem, no QG da campanha, no centro de São Paulo, Serra agradeceu aos governadores eleitos que o apoiaram, mas dispensou atenção especial a Alckmin, a quem chamou para ficar ao seu lado esquerdo antes de iniciar seu pronunciamento. No lado direito estava sua mulher, Mônica. Serra se referiu a Alckmin como "o meu querido companheiro de muitas jornadas" e como alguém que "se empenhou na minha eleição mais do que se empenhou na sua".

Cercado por líderes tucanos - entre eles o senador eleito Aloysio Nunes Ferreira e o presidente do partido, Sérgio Guerra e aliados do DEM como Rodrigo Maia e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (Aécio não veio a São Paulo) - Serra tentou mostrar que a derrota não enfraquecerá a sua disposição de fazer frente ao PT. E sem dizer claramente, sugeriu que poderá voltar a disputar a Presidência.

"Para aqueles que nos imaginavam derrotados, eu quero dizer: nós apenas estamos começando uma luta de verdade", disse ele. "Nós vamos dar nossa contribuição ao país, em defesa da pátria, da liberdade, da democracia, do direito de todos têm de falar e de serem ouvidos, da justiça social", continuou. E acrescentou que essa a contribuição será dada pelos partidos da frente que o apoiou, "como indivíduo, como parlamentares, como governadores. Por isso minha mensagem não é um adeus, mas um até logo".

Aloysio Nunes, mostrava-se, ontem cedo, confiante na vitória de Serra, já que, segundo ele, as pesquisas de intenção de voto não captam movimentos de última hora do eleitor. "Três dias antes das eleições, eu tinha 19% das intenções de voto, mas acabei sendo eleito com 32%".

Perguntado por jornalistas se Serra sairia menor desta eleição, como insinuou o presidente Lula, Nunes disse que quem deve sair menor é Lula, que, segundo o senador eleito, contrariou não só as regras do decoro presidencial como também a legislação eleitoral