Título: Marina volta ao Senado para lutar pelo Código Florestal
Autor: Chiaretti , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2010, Politica, p. A7

Eleições: A exemplo do que aconteceu na gestão Lula, PV deve aderir à base do governo Dilma Rousseff

O primeiro foco de Marina Silva, terceira colocada na eleição presidencial com quase 20 milhões de votos, será a volta ao trabalho no Senado. Depois, em fevereiro de 2011, os planos são de prosseguir com a militância e o esforço de colocar a sustentabilidade no centro da política. De imediato, a senadora Marina Silva já prevê um embate: bloquear as mudanças ao Código Florestal que tramitam no Congresso.

"A primeira coisa a fazer é evitar que seja aprovada a mudança do Código Florestal do jeito que está", disse no sábado, por telefone, ao Valor, enquanto almoçava com o pai em Rio Branco, no Acre. A senadora votou no domingo pela manhã no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), da estrada de São Francisco, em Rio Branco. De lá embarcou para Brasília. Em coletiva no Acre, não divulgou seu voto. Voltou a dizer que há um cansaço no eleitorado da polarização entre PT e PSDB. Marina acredita que os brasileiros buscam outra via.

Este é um dos debates que ela pretende acender. Marina tem simpatia pela lista cívica, uma experiência mais forte na Itália. Por este mecanismo, indicam-se nomes de candidatos a prefeito e vereadores não filiados a partidos, mas ancorados na sociedade. O instrumento tem sido empregado na Itália em municípios menores, com até 15 mil habitantes. "É uma discussão complexa, mas interessante", diz. "A experiência na Itália é bem focada no legislativo e no poder local", conta. "A discussão é se ela se adequaria ao Executivo. Mas poderia representar uma oxigenação na política brasileira."

Em Brasília, depois do resultado da eleição, Marina parabenizou a presidente eleita Dilma Rousseff (PT) e disse que "voltará para a sociedade" para "lutar pela sustentabilidade ambiental do nosso país."

No Senado, Marina quer fazer andar o Projeto de Lei de Acesso aos Recursos Genéticos. É dela o primeiro projeto sobre este tópico, de 1995. A tramitação foi atropelada por Medida Provisória editada no governo Fernando Henrique. Ao assumir a pasta do Meio Ambiente, Marina voltou ao assunto. O tema é complicado e quando o projeto chegou à Casa Civil recebeu objeções e emendas dos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Agricultura. Acabou na gaveta da Casa Civil, sem ir ao Congresso. "É um assunto importante para o Brasil e mais atual do que nunca."

O projeto, que também seria uma trava à biopirataria, volta aos holofotes. Na semana passada, no Japão, ao fim da conferência sobre biodiversidade das Nações Unidas, mais de 190 países assinaram o Protocolo de Nagoya sobre acesso e a repartição de benefícios aos recursos da natureza.

Em 2011, o retorno de Marina à sociedade acontecerá em dois fronts. Ao deixar o Senado, sua atuação deve acontecer no Partido Verde e no Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), criado em outubro de 2009. Marina é fundadora do IDS e irá reassumir sua presidência. A reestruturação do PV deve prosseguir e o IDS, decolar. "Retorno à militância institucional e partidária", diz ela. "Não abro mão de ter este espaço com os núcleos vivos da sociedade."

O IDS surgiu como resultado do Movimento Brasil Sustentável, que se formou depois de Marina sair do governo, em maio de 2008. Juntou empresários e profissionais liberais em torno do mote da sustentabilidade. "O IDS pode funcionar como um "watch dog", vigiando o governo pela grade de tópicos que o PV apresentou ao PT e ao PSDB depois do primeiro turno", diz um coordenador da campanha de Marina. "Mas ainda não está claro como vai operar e ainda temos que sentar para planejar 2014."

Foi a sustentabilidade e a ética na política que seduziram eleitores em torno de Marina, acredita Adriana Ramos, da executiva nacional do PV. O IDS deve trabalhar com ONGs que tenham esta pauta como o Instituto Ethos, o Transparência Brasil e o Instituto Socioambiental (ISA), por exemplo.

Os 15 parlamentares eleitos pelo PV tendem a fechar com o governo nos embates do Congresso. "A bancada verde costuma ser mais governista, o PV sempre tem a postura de colaborar, de contribuir para fazer", diz Adriana. "Tende a ser uma bancada que vai querer ajudar o governo, mas ao mesmo tempo é uma bancada de princípios. Nas questões ambientais vai querer pautar o debate."

Marina não fala diretamente sobre a eleição presidencial de 2014. "O projeto é colocar a sustentabilidade no centro e isso só começou", diz Adriana. "Tem muito futuro pela frente." Sobre o risco de a pauta desaparecer, Adriana acredita que "a sociedade deu uma manifestação muito clara do que quer e a demanda tem densidade, não é passageira", continua a dirigente do PV. "Cabe a nós, na liderança, ter capacidade de permanecer ativos nesta agenda."

"O caminho para ela construir sua base pode ser até mais interessante trabalhando na sociedade civil do que sendo governo ou parlamento", diz um ambientalista. "A sociedade brasileira vai ter que se fortalecer, a cooperação internacional foi embora, o Brasil não é mais um país pobre", continua. "São as ONGs que vão fortalecer este chamado. Este é o momento em que a sociedade brasileira tem que ter um projeto de país. "