Título: Washington avalia que Dilma será menos voltada ao exterior que Lula
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2010, Politica, p. A8

A expectativa em Washington é de que o governo de Dilma Rousseff seja menos voltado para o exterior do que o de Lula - afinal o presidente que sai era um líder com bastante carisma reconhecido mundialmente e a presidente eleita, não. Já o presidente americano, Barack Obama, deverá manter também a prioridade de sua agenda nos assuntos internos dos EUA, o que evitaria uma rota de colisão imediata com o Brasil.

Por outro lado, a eleição de Dilma Rousseff pode ajudar a reconstruir as relações políticas do Brasil com os EUA, que foram negativamente afetadas pelos episódios do Irã e de Honduras, afirmam fontes de Washington ouvidas pelo Valor.

Embora Dilma represente a continuidade do governo Lula, ela é uma face nova na Presidência que não precisa ficar presa ao discurso da antiga administração em temas polêmicos que criaram atritos entre os dois países. Há também uma agenda econômica pragmática que deve contribuir para a reaproximação.

Até agora, não foi feito nenhum contato formal entre Dilma e o governo Barack Obama, até porque os dois lados estavam preocupados em aguardar o processo eleitoral. Segundo reportagem publicada pelo Valor, o presidente Lula cogita levar Dilma para a reunião do G-20 em Seul em novembro para ela ser apresentada aos líderes mundiais.

"A eleição um novo presidente representa uma oportunidade para virar a página da irritação mútua causada pelo episódio do Irã", diz Kellie Meiman Hock, diretor da consultoria McLarty Associates. "Espero que os dois governos aproveitem a oportunidade."

O diretor do Instituto Brasil do Woodrow Wilson Center, Paulo Sotero, acha que o reconhecimento do governo de Honduras pelo Brasil poderá ser o primeiro passo para reaproximar os países. "A Dilma deu declarações independentes do governo Lula sobre Honduras", afirma Sotero. "Isso criou uma expectativa aqui em Washington de que ela possa reconhecer o governo eleito de Honduras."

"Só o fato de ter uma pessoa nova na Presidência já ajuda", afirma Diego Bonomo, o diretor-executivo da Coalizão das Indústrias Brasileiras (BIC, na sigla em inglês), uma associação que faz lobby para empresas brasileiras em Washington. Ele lembra que, apesar do incidente político do Irã, a agenda econômica entre os dois países continuou a ser tocada, com um acordo para evitar retaliações no caso do algodão e discussões feitas em setembro para um acordo de comércio e investimentos.

Uma fonte do governo brasileiro lembra que a provável troca do ministro de Relações Exteriores do Brasil deverá contribuir para retomar as relações entre os países. O atual titular da pasta, o chanceler Celso Amorim, esteve na linha de frente nas negociações para evitar sanções ao Irã, por isso acumulou desgaste pessoal com autoridades americanas, sobretudo a chefe do Departamento de Estado, Hillary Clinton.

Um dos cotados para assumir o cargo, caso se confirme a saída de Amorim, é o atual secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota. Embora seja bastante ligado a Amorim, Patriota tem boas relações em Washington, onde atuou como embaixador. Uma fonte diz que, mesmo que Amorim permaneça no cargo, são boas as chances de estabelecer novas relações, já que estaria ligado a novo governo.