Título: Perillo impõe derrota a Lula em Goiás
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2010, Politica, p. A14

No duelo entre as duas maiores lideranças políticas goianas dos últimos 20 anos, ganhou o mais jovem. Doze anos depois de surpreender e vencer Íris Rezende (PMDB) para o governo de Goiás, o vice-presidente do Senado Marconi Perillo (PSDB) derrotou o pemedebista por 52,99% a 47,01% dos votos válidos.

Com a vitória, o tucano, aos 48 anos, não deixa mais dúvidas sobre sua condição de maior líder político do Estado, pois vence uma eleição estadual pela quarta vez seguida contra uma coligação de vários partidos, apoiados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se empenhou pessoalmente para tentar derrotar Perillo, de quem é desafeto desde a denúncia do mensalão. Perillo afirmou, na época, que teria avisado o presidente sobre as irregularidades antes de estourar o escândalo.

Ele foi candidato em 1998 e reelegeu-se em 2002. Há quatro anos lançou seu então vice, Alcides Rodrigues (PP), que também venceu a eleição, mas rompeu com o padrinho político durante o mandato, lançou um candidato que perdeu e apoiou Íris neste segundo turno. O apoio ao pemedebista, ao lado do empenho pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Íris, fez com que Perillo disputasse a eleição contra a atuação de duas máquinas públicas: a estadual e a federal.

O resultado foi uma agressiva polarização no Estado, tanto que, na entrevista concedida ontem pela manhã, disse que sua primeira atitude como governador seria "desarmar os palanques". Logo após o resultado, Íris reconheceu a derrota. Disse que "no fundo não está satisfeito, mas vai para casa tranquilo" e que "se a maioria do povo preferiu assim, que se faça a vontade deles".

No plano nacional, a volta de Perillo ao governo estadual mostra que a força do principal partido de oposição do país, o PSDB, não ficará limitada ao Sul e Sudeste do país, já que os vizinhos Goiás e Tocantins elegeram tucanos para seus governos (Siqueira Campos foi eleito em Tocantins). Sua eleição também coloca mais um empresário no Senado, já que deixará sua cadeira no Senado para o seu primeiro suplente, Cyro Miranda, liderança classista e proprietário, entre outras empresas, da Servbom, distribuidora da Kibon no Estado.

Em nível estadual, a vitória tucana gera dois efeitos diretos. Pelo lado administrativo, o tucano deve retomar investimentos por parte do Estado depois de quatro anos em que o governador Alcides Rodrigues (PP) optou por ajustar as contas para conseguir obter financiamentos de outras fontes, em especial, do governo federal. Além disso, pretende incentivar a realização dos chamados contratos de gestão, modelo administrativo que busca parcerias com entidades civis por meio de metas a serem alcançadas na prestação de serviços públicos. Também quer promover a descentralização de alguns setores de governo com a criação de polos regionais de desenvolvimento econômicos, turísticos e administrativos.

Do lado político, o resultado tende a por fim à carreira política de um dos mais tradicionais políticos da história do Estado. Aos 77 anos, Íris Rezende começou sua carreira em 1958, eleito vereador por Goiânia. Depois, foi prefeito, deputado estadual, governador eleito por duas vezes, ministro da Agricultura de do ex-presidente José Sarney (1985-1990) e da Justiça de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), além de senador. Dado como morto politicamente após as derrotas de 1998 para o governo do Estado (contra Perillo) e 2002 para a reeleição ao Senado, ressurgiu em 2004 ao conquistar a prefeitura de Goiânia e se reeleger em 2008.

Decidiu sair da prefeitura em uma articulação com o PT, que a assumiu e o apoiou para o governo, em um embate com forte viés revanchista. Íris sentira-se humilhado com as derrotas de 1998 e 2002. Com a de ontem, a tendência é se aposentar e passar o bastão do PMDB regional para o grupo de jovens em que investiu durante a prefeitura. O mais eminente deles é o deputado estadual Thiago Peixoto, 36 anos, economista formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) que foi secretário de governo de Goiânia e se elegeu neste ano deputado federal. Com as bandeiras da educação e do ambiente, forma junto com outros jovens do PMDB o que a imprensa local chama de os "golden boys" do partido que, sem Íris, tentarão manter a longeva polarização com o PSDB no Estado.

A dúvida é se o PT continuará um aliado do PMDB ou se tentará ocupar o espaço deixado por Ìris e tentar colocar-se como a segunda força no Estado. Com as duas principais cidades em mãos, Goiânia e Anápolis, alguns petistas defendem essa tese de caminhar com as próprias pernas, embora saibam que somadas as forças com o PMDB, as chances de vencer os tucanos são maiores.