Título: Cabo eleitoral de Teo Vilela foi campeão de votos em AL
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2010, Politica, p. A9

Sem Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff ou José Serra, o governador reeleito de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB) foi de Biu. É assim se conhece o senador eleito de Alagoas, Benedito de Lira (PP), principal cabo eleitoral do governador reeleito do Estado, Teotônio Vilela Filho (PSDB). Político conservador do interior e fenômeno eleitoral, Biu, de 68 anos, obteve a maior votação na história de Alagoas: 904 mil votos para 1,5 milhão de eleitores que foram às urnas no primeiro turno. O senador barrou a volta de Heloísa Helena (PSOL) ao Senado à base de muito humor, literatura de cordel e forró. A vereadora de Maceió e candidata à Presidência da República em 2006 recebeu 418 mil votos.

A votação de Biu chegou a superar em 65 mil votos a de Renan Calheiros (PMDB), reeleito ao Senado. Biu teve mais votos que Vilela, que venceu o ex-governador Ronaldo Lessa (PSB) em disputa apertada. Vilela foi ao segundo turno com 535 mil votos (39,58% dos votos válidos) e se reelegeu com 712 mil votos (52,74%). Lessa teve 394 mil votos (29,16%) no primeiro turno e 638,762 (47,26%) no segundo.

A onda eleitoral começou com a propaganda eleitoral na TV. "Testamos ele no vídeo, mas ele era travado. Resolvemos contar a vida dele pela linguagem do cordel e com um jingle ao ritmo do forró", conta o marqueteiro responsável por sua campanha, Rui França. Deu tão certo que personagens foram criados e episódios eram veiculados em formato de novela. O objetivo era desconstruir a imagem de Heloisa Helena. Com Renan, Biu não mexia. "Meu partido é da base do governo e soubemos que o governo queria Renan reeleito", resume Biu, nome popular no Nordeste que passou a adotar nesta campanha.

Quem apresentava seu programa era o personagem de desenho animado Cabeça, um sertanejo que interagia com a Maritaca, associada à Heloisa Helena. Da sala de sua casa, Cabeça assistia na TV as propostas de Biu.

Outro hit da campanha alagoana foi "a dancinha do Biu". Durante a campanha com Vilela em um bairro popular de Maceió, o jingle de sua campanha tocou no palanque. Biu ainda não conhecia o forró e começou a dançar espontaneamente, arrancando risos dos políticos ao lado. A gravação da cena foi ao seu programa de TV e virou um sucesso. Senhoras do interior queriam dançar com Biu e reclamavam da ausência do candidato ao Senado em eventos onde só estava o governador tucano.

"Ele é um político tradicional, que desprezava o marketing. Quando me procurou, disse que não acreditava, só acreditava no porta a porta", conta o marqueteiro, veterano de campanhas no Estado. França começou a fazer campanha na eleição a prefeito de Maceió em 1992 para Ronaldo Lessa.

O sucesso do programa foi tanto que o presidente Lula gravou para Biu no meio da campanha. Após o primeiro turno, em uma reunião entre Vilela e o governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o presidente pediu cópias dos programas para assistir.

Para Biu, foi uma surpresa terminar eleito com 57% dos votos válidos. "Comecei a campanha com 6%. Os outros dois nadavam de braçada", conta o senador, que começou sua vida politica como vereador de sua cidade natal, Junqueiro, pela Arena. Depois, foi deputado estadual e deputado federal com passagens pelo PDS, PFL, PTB e PP. Hoje, preside o diretório estadual do PP, partido com 22 das 102 prefeituras de Alagoas.

A disputa eleitoral com Renan e com Heloisa Helena era tão desigual no início que Biu colocou o filho, Artur Lira (PP), para concorrer a deputado federal. "Eu saía da Câmara e tinha que deixar alguém no lugar, estava disputando uma eleição difícil."

Contrariando a tradição política local, Biu não é de família de usineiros. De origem pobre, fez curso técnico de construção de estradas e foi fiscal de rendas do Estado antes de entrar na política.

Apoiou Dilma e, ao mesmo tempo, a reeleição do governador tucano. Para o senador eleito, Lula "foi o melhor presidente da República para Alagoas" e foi quem mais destinou verbas ao Estado. Diz ter votado em Lula desde 1989 contra Fernando Collor, hoje senador pelo PTB.

O senador afirma ter conseguido trazer R$ 600 milhões para Alagoas nos dois últimos mandatos na Câmara. "O grande projeto é o VLT [metrô de superfície], em construção. Será o primeiro do Brasil", diz o senador eleito. A prioridade no Senado será trazer mais recursos federais para Alagoas, Estado sem capacidade de investimento, engessado com uma dívida de R$ 7 bilhões com a União. Biu faz coro com o governador reeleito e defende outra renegociação da dívida.