Título: Dilma discutirá com governadores medidas de saúde e segurança
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2010, Politica, p. A13

A presidente eleita, Dilma Rousseff, nomeou ontem o vice-presidente eleito Michel Temer, o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, e os deputados Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo como os integrantes da equipe técnica de transição. Pelo decreto presidencial editado no fim de junho, o responsável pela transição no lado do governo é o secretário-executivo da Casa Civil, Carlos Eduardo Esteves Lima. Dilma viaja hoje para descansar em Porto Alegre e, a partir de segunda-feira, dia 8, começará a despachar no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, sede do governo de transição. Uma das primeiras providências da presidente eleita será convidar governadores eleitos em todo o país para debater medidas para as áreas de saúde e segurança.

A escolha de Michel Temer para compor a equipe de transição de Dilma já reflete a reclamação do PMDB, que se sentiu preterido nos dois primeiros dias após a eleição de Dilma. O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, negou, contudo, um início de crise. "Temer está na coordenação da transição por ter sido eleito vice-presidente. Além disso, não nos chegou qualquer reclamação", desconversou.

Secretário-geral do PT e também integrante da coordenação, o deputado José Eduardo Cardozo também buscou diminuir atritos com o principal aliado na coalizão governista. "O PMDB é um partido parceiro, e o vice-presidente estará conosco permanentemente desenvolvendo os trabalhos", declarou.

Dilma permanecerá apenas um dia em Brasília na volta das férias. No dia 9, ela viaja com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para Maputo, capital de Moçambique, onde será inaugurado um laboratório de medicamentos retrovirais produzidos pela Fiocruz. De lá, acompanhará o presidente na reunião do G-20, em Seul, na Coreia do Sul. Lula vai aproveitar essas viagens para apresentar a presidente eleita aos demais líderes internacionais.

Muitos deles já falaram para Dilma, no domingo e na segunda-feira. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ligou para parabenizar Dilma pela eleição e colocou-se à disposição para parcerias no setor energético, além de elogiar a atuação brasileira no Haiti. Integrantes da equipe de transição adiantaram ao Valor o interesse de Dilma em reaproximar-se dos Estados Unidos, depois de um estremecimento nas relações por causa da tentativa de mediação do Brasil em favor do Irã.

Do ponto de vista econômico, Dilma frisou em seu primeiro discurso oficial que pretende reduzir o ritmo do gasto público, embora não tenha dado mostras claras de como fará isso. O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, negou que a presidente eleita pretenda promover qualquer tipo de ajuste fiscal rigoroso, como defendem alguns analistas econômicos. "O Brasil demonstrou com clareza que tem todas as condições de enfrentar as turbulências com suas próprias forças, como aconteceu durante a recente crise financeira. Não haverá ajustes, mas vamos monitorar os sinais externos para adotar ajustes pontuais", declarou Marco Aurélio, responsável pela elaboração do programa de governo da presidente eleita.

A presidente eleita terá, por exemplo, que definir ainda este mês qual será o valor do novo salário mínimo a ser pago a partir de janeiro de 2011. Na peça orçamentária enviada pelo atual governo ao Congresso, está previsto um mínimo de R$ 538,15, podendo ser arredondado para R$ 540. Durante a campanha, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, defendeu um reajuste para R$ 600. Há quem defenda no governo Lula que seja definido um número o mais próximo possível da proposta do tucano, para apropriar-se da bandeira da oposição.

O valor do salário mínimo precisa ser definido rapidamente porque ele é balizador para uma série de outras despesas governamentais. Dilma repetiu, por diversas vezes, defender o modelo de reajuste que vigorou nos últimos quatro anos de governo - inflação mais variação do PIB de dois anos antes. Durante a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), esse mecanismo foi derrubado, substituído pela livre negociação do governo com as centrais sindicais.

Dilma ainda não deu sinais claros também sobre a composição ministerial. Em entrevista ao "Jornal Nacional", na segunda-feira, e ao "Jornal da Band", ontem, a presidente eleita afirmou que pretende ampliar o número de mulheres na Esplanada - pedido feito por Lula ainda durante a fase da pré-campanha. Prometeu também não ser conivente com desvios éticos em sua equipe de governo. "Uma das causas do aumento da corrupção é a impunidade. Se houver um desvio, e ele for comprovado, a pessoa será afastada e punida", disse.