Título: Importação recua 2,2% em outubro
Autor: Neumann , Denise
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2010, Brasil, p. A3
Impulsionadas por aumento de preços e quantidade vendida de commodities, principalmente de minério de ferro - cujo preço subiu 156,4% em 12 meses -, as exportações cresceram mais que as importações em outubro. Foi a primeira vez que isso aconteceu em 2010. Com alta de 58,1% na venda de produtos básicos, na comparação com outubro de 2009, as exportações aumentaram 37,1% e as importações, 35,9%. Como resultado, o saldo comercial do mês ficou em US$ 1,854 bilhão.
De acordo com o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, novembro e dezembro podem repetir o comportamento da balança comercial registrado em outubro, com aumento das exportações superior ao das compras no exterior. Na sua avaliação, a maior parte das importações já ficou pra trás. Em outubro, a receita com os embarques atingiu US$ 18,4 bilhões, valor 2,5% superior ao de setembro, enquanto as despesas com as aquisições feitas no exterior somaram US$ 16,5 bilhões, queda de 2,2% na mesma comparação.
Barral lembrou que setembro deste ano registrou recorde mensal de importações, de US$ 17,74 bilhões. Sazonalmente, a indústria compra menos lá fora no último trimestre, uma vez que as importações para as festas de fim de ano são feitas até setembro. Nas importações totais, a indústria é o maior comprador, respondendo por 84% do total, diz o ministério. Assim, o fator sazonal explica o ligeiro recuo das importações em outubro, ainda influenciadas pelo aumento na demanda por bens de capital.
No acumulado de janeiro a outubro, porém, as importações são recordes, com alta de 43,8% sobre período igual de 2009. Já o aumento das exportações, embora em ritmo menor (alta de 29,7% no mesmo intervalo), é motivo de comemoração, segundo Barral. Isso porque a variação está acima dos 19% de crescimento previstos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para o ano de 2010. A consequência do maior aumento das importações em relação às exportações é o encolhimento do superávit comercial, que caiu para US$ 14,6 bilhões até outubro, valor 35% menor em comparação ao contabilizado entre janeiro e outubro de 2009.
Tanto em outubro quanto no acumulado do ano, a boa performance das exportações brasileiras é puxada pelos produtos básicos (38,1%), "em especial devido à demanda asiática", cita Barral. Além do salto de 156,4% no preço e 202% na quantidade vendida de minério de ferro em 12 meses, o milho subiu 36,4% de preço e 178,9% em quantidade exportada, entre outros.
As vendas para a Ásia cresceram 75,8% em 12 meses e 34,9% no ano. Para a China, o aumento foi de 87,3% em 12 meses e 37,9% em 2010. Para o Mercosul, as exportações subiram 49,8% no ano, com elevação de 53% nas vendas apenas para a Argentina. Barral chama ainda a atenção para as relações comerciais Brasil e Estados Unidos. "O maior superávit deles é com o Brasil, pois estamos importando muito dos americanos", disse ele.
Em outubro, especificamente, o fator preço foi um dos determinantes para a ampliação das receitas. As maiores valorizações foram de minério de ferro (202%), milho em grão (179%), veículo de carga (105%), açúcar em bruto (62%) e celulose (52%).
Ao abordar a competitividade das exportações brasileiras, Welber Barral enfatizou que a manipulação do câmbio por parte de algumas economias gera vantagens artificiais de preços. A situação se agrava, segundo ele, porque o Brasil enfrenta gargalos na infraestrutura e excesso de tributação sobre as exportações. No lado das importações, em outubro, as compras de bens de consumo aumentaram 40%, as de combustíveis subiram 38%, as de máquinas avançaram 37% e as de matérias primas, 33%.
No acumulado do ano, do total de despesa de US$ 148,7 bilhões, maior parte, US$ 102 bilhões, é destinada ao setor industrial. Os bens de consumo, no total de US$ 25,3 bilhões, tiveram alta de 49% entre janeiro e outubro frente a 2009. O destaque é para a compra de carros no exterior, que somou US$ 6,7 bilhões, 60% acima de igual período de 2009.
Ao comentar o avanço das importações, o secretário voltou a afirmar que o Brasil não passa por um fase de desindustrialização. Ele reconheceu, porém, que em algumas cadeias produtivas há substituição efetiva de insumos e matérias-primas nacionais por similares estrangeiros. Nesta semana deverá ser publicada uma resolução da Câmara de Comércio Exterior (Camex) sobre regras de origem não preferenciais destinadas a aumentar a eficácia das medidas antidumping já adotadas.