Título: Dilma diz que garante continuidade política, não de cargos
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2010, Politica, p. A5
A presidente eleita, Dilma Rousseff, garantiu ontem, em entrevista coletiva concedida ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, até o momento, não existe qualquer definição de nomes para compor o seu ministério. Também rebateu as especulações de que alguns ministros estariam assegurados em seus cargos após o dia 1º de janeiro de 2011, quando tomará posse. "Não estou falando agora de continuidade de nenhum ministério do ponto de vista das pessoas. Estou falando da continuidade do ponto de vista das políticas", afirmou Dilma.
Dilma disse também que sua decisão passará por critérios como competência técnica, histórico das pessoas que não tenham "problemas de nenhuma ordem e tenham vínculos muito fortes com o Brasil e com a política que eu defendo". Ela brincou que não cairá na armadilha de anunciar a data e a hora em que escalará seus ministros. "Se eu atrasar, vocês vão escrever que eu adiei o anúncio do meu ministério", declarou.
Lula deixou claro que a presidente eleita terá toda liberdade para escolher os nomes que quiser para compor a equipe, afastando especulações de que vai pedir que muitos dos atuais ministros permaneçam. Lembrou que, em 2002, abria os jornais e via a "fotografia de pessoas que você nunca pensou em colocar no governo como escolhida ou uma pessoa que você quer colocar lá, destituída". Lula afirmou que dará uma lição de como um ex-presidente deve se comportar. "O governo da Dilma tem que ser a cara e à semelhança da Dilma. É ela - e somente ela - quem pode dizer quem ela quer e quem ela não quer; somente ela é quem pode dizer aos partidos aliados se concorda ou não com as pessoas, e somente ela e os partidos aliados é quem irão construir a coalizão", disse Lula.
Nos últimos dias surgiram informações das autoridades que cercam a candidata que Lula teria pedido para manter Henrique Meirelles no Banco Central, Guido Mantega na Fazenda, Fernando Haddad na Educação e Nelson Jobim na Defesa. De acordo com o presidente, ele não exercerá esse papel. "Na minha cabeça funciona a seguinte tese: rei morto, rei posto. Um ex-presidente da República, não indica, não veta; um ex-presidente da República, poderá dar algum conselho se, um dia, for pedido; se for para ajudar; para atrapalhar, nunca".
Um ministro que acompanhou de perto a campanha presidencial afirmou ao Valor, no entanto, que Lula e Dilma vão aproveitar a viagem que farão juntos para a Coreia do Sul - onde participarão na próxima semana da reunião do G-20 - para discutir os pontos de convergência entre os dois governos. Um dos conselhos dados pelo presidente à futura presidente é que ela monte uma equipe harmoniosa, para evitar brigas que possam atrapalhar o bom funcionamento do governo.
Para Lula, no entanto, Dilma tem todas as condições de formar um bom ministério. "Primeiro, porque ela conhece muito mais gente do que eu conhecia em 2002. Segundo, porque a relação com os partidos está muito mais consolidada do que em 2002. Terceiro, porque ela passou oito anos no governo, ela conhece por dentro e por fora, conhece as pessoas boas e as pessoas que não são tão boas, conhece os craques e os que não são tão craques".
O presidente rebateu ainda as informações de que esteja pensando em candidatar-se novamente à Presidência em 2014. "Chegar ao final do mandato com o reconhecimento popular que tem o governo, com a aprovação do governo como um todo e com a aprovação pessoal minha, voltar é uma temeridade porque a expectativa gerada é infinitamente maior. É muito pequeno, nesse momento, a gente estar discutindo 2014. A gente deveria estar discutindo 2011".
O presidente também disse que vai discutir com Dilma a nomeação do 11º primeiro ministro do Supremo Tribunal Federal e escolher o fabricante dos caças e repor as vagas que serão abertas na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).