Título: PMDB defende bancada como critério para ministérios
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2010, Politica, p. A5
Antes da definição de nomes e cargos, o PMDB pretende acertar com o PT que o principal critério para definir a participação dos partidos no futuro governo Dilma Rousseff seja o da representação de cada legenda no Congresso Nacional. Com isso, sua intenção é desbancar o apetite de outros partidos, em especial o PSB, definido como seu principal adversário na composição da equipe. Considerado um dos grandes vitoriosos nas urnas, o PSB, todavia, trabalha na contramão: deseja que o critério seja o número de eleitores governados pelo partido. Uma forma, aliás, de valorizar o seu patrimônio obtido nas urnas em outubro. O partido dobrou o número de governadores: foi dos atuais três (Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte) para seis (Amapá, Ceará, Espírito Santo,Paraíba, Pernambuco e Piauí). No entanto, seu desempenho no Legislativo foi aquém do esperado: saltou de 27 para 34 deputados. Menos da metade do PMDB, que elegeu 79 deputados, mas mais do que os cinco governadores pemedebistas eleitos (Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Maranhão). No Senado, o PSB saltou de duas para quatro cadeiras e o PMDB foi de 17 para 19.
Uma vez acertado esse parâmetro, os pemedebistas avaliam que o critério de distribuição de espaços não deva ter grandes alterações em relação ao segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando a sigla esteve formalmente coligada com o governo. Por essa razão, imaginam uma participação semelhante à atual, com seis ministérios (Agricultura, Comunicações, Defesa, Integração Nacional, Minas e Energia e Saúde), embora admitam a possibilidade de troca de Pastas, desde que à altura do que foi trocado.
O certo é que não querem entrar em atrito com o partido da presidente eleita, tampouco deixar passar à população a imagem de fisiologismo à qual costumam ser associados. O alvo, no caso, é outro. Por essa razão, o PMDB decidiu ontem que apenas seu presidente, o deputado Michel Temer (SP), tem autoridade para falar em nome do partido durante o período de transição entre os governos petistas de Lula e Dilma.
Eleito vice-presidente, Temer teve encontros com a cúpula do partido e tomou a decisão para evitar o que avaliou ser "retratos diferentes" do que tem sido a relação entre os dois partidos após a eleição e o que foi noticiado desde domingo. Basicamente, de que seus dirigentes estão ávidos por cargos e pressionando o PT nesse sentido.
Reconhece, porém, que o noticiário negativo foi uma decorrência de declarações de pemedebitas sobre a ausência de integrantes da sigla na primeira reunião de Dilma com seus auxiliares petistas mais próximos para tratar da transição.
O primeiro a polemizar foi o deputado Eduardo Cunha (RJ), que disse: "Eles não vão governar sozinhos, vão governar com todo mundo". O segundo foi o também deputado Henrique Eduardo Alves (RN), que declarou que "o PMDB não cederá um milímetro nos seus direitos nem ousará faltar um milímetro nos seus deveres" e que "essa é a síntese do partido". A avaliação é de que as declarações prejudicaram a estratégia do partido de tirar de si a pecha de fisiológico.
"O noticiário logo depois das eleições não tem retratado as reais tratativas entre o PMDB e o PT. E com uma certa razão em virtude das declarações que tem permitido passar à opinião pública a idéia de que o PMDB está jogando duro e com a faca no pesoço, fazendo exigências descabidas. Isso não tem havido. O PMDB não vai praticar o jogo fisiológico", afirmou ontem Moreira Franco, um dos principais representantes do partido.
Outra definição que o partido fez foi a de que só Temer negociará com Dilma o papel da legenda na transição e no futuro governo: "Qualquer outra palavra do PMDB nessa transição que não seja a do Temer, não corresponde à realidade dos fatos", disse Moreira.
A primeira conversa entre Dilma e Temer foi na manhã de ontem, mas sem qualquer menção a cargos. "Não vamos nem tocar nesse assunto agora. Toda vez que se toca nesse assunto se tem a impressão de que o PMDB quer status. Falo aqui mais como vice-presidente, portanto como membro do governo, do que como presidente do PMDB", disse Temer.
Anteontem à noite, o encontro foi entre Temer e o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Nele ficou definido que haverá um rodízio entre os dois partidos no comando da presidência da Câmara dos Deputados, assim como ocorreu no segundo mandato do governo Lula. Quem ocupa o cargo primeiro, porém, fica para o começo do próximo ano. "A única coisa que dissemos é que iremos firmar um rodízio. Eu vou ouvir o PMDB, o Dutra vai ouvir o PT, mas [haverá] um documento em que se afirme que haverá um rodízio. Quem ocupará o primeiro ou o segundo biênio é coisa que vamos deixar lá para janeiro", afirmou ontem Temer.
Uma próxima conversa entre Temer e Dilma deve ocorrer no domingo, quando ela retorna de uma viagem de descanso.