Título: Meta é reduzir dívida do setor público, diz Dilma
Autor: Camarotto , Murillo ; Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2010, Politica, p. A6
A presidente eleita, Dilma Rousseff, reiterou ontem que seu governo perseguirá meta de redução da dívida líquida do setor público para 30% do PIB, em 2014. Para cumprir a meta, o governo vai gerar superávits primários (que excluem o gasto com juros da dívida) de 3,3% do PIB ao ano nas contas públicas. Ela assegurou que não mudará o regime de câmbio flutuante em vigor no país há 12 anos.
Segundo Dilma, a queda da relação entre dívida e PIB deverá permitir ao país convergir as taxas de juros brasileiras para padrões internacionais. Ela deixou claro, no entanto, que seu governo não trabalhará com meta para juros. Rejeitou também a ideia de que, em 2014, a taxa de juros real (já descontada a inflação) cairá a 2% ao ano.
"Todo mundo fala em 2% porque seria mais ou menos essa a taxa de juros consistente, mas não necessariamente. Tem que ver. São essas variáveis aí [superávit e relação dívida líquida/PIB] que formam [os juros] e não a taxa de juros que forma essas variáveis porque, senão, não seria estável", explicou em entrevista coletiva.
A presidente eleita informou que definiu essas metas fiscais quando do lançamento da segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), antes de sair candidata à Presidência. Os números, informou, estão nas projeções previstas no documento.
No texto, está previsto crescimento anual médio, entre 2011 e 2014, de 5,5%. A meta de inflação seria de 4,5% até 2012 e o superávit primário necessário para reduzir a relação dívida/PIB, de 3,3% ao ano. Hoje, essa relação está em 41%.
Ao anunciar os números, Dilma se confundiu ao dar a entender que a meta de dívida, para 2014, seria de 38% e não de 30% do PIB. Na verdade, a meta de 38% é para 2011. "[A meta de 30%] não é para 2011 porque, se fosse, nós tínhamos que fechar todos os investimentos, todos os programas sociais. Não é compatível com 2011", esclareceu. "Prometi [30% do PIB] nesse intervalo de 2011 a 2014."
Procurada, a assessoria de Dilma disse que "as declarações [dela] sobre o percentual da relação dívida líquida/PIB referem-se às variáveis macroeconômicos definidas no PAC 2, que apontam projeção em torno de 30% em 2014".
Questionada sobre a apreciação do real frente ao dólar, a presidente eleita disse que o mundo assiste a uma guerra cambial provocada por desvalorizações competitivas lideradas pelos Estados Unidos e a China. Ela rejeita, no entanto, a adoção de medidas unilaterais para enfrentar o problema.
"Numa situação dessa, não tem solução individual. Você pode ter medidas de proteção para o seu país, mas, quando começam com uma política de desvalorização competitiva, a última vez deu no que deu: a Segunda Guerra Mundial", argumentou.
Dilma disse que seu governo concluirá obras iniciadas no governo Lula, como a integração da Bacia do Rio São Francisco, a ferrovia Transnordestina e a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Ela desdenhou os críticos da construção do trem-bala entre Campinas (SP), São Paulo e Rio de Janeiro. "É absurdo achar que o trem-bala não precisa ser feito. Nos anos 80, essa conversa vigorou para metrô. Dizia-se que o Brasil não devia gastar com metrô porque era muito caro. Por isso, somos um país que atrasou o investimento em metrô."