Título: Não me autoproclamo líder, diz Aécio
Autor: Lima, Marli
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2010, Política, p. A6

Folhapress, de Belo Horizonte e Brasília

O senador tucano eleito por Minas Gerais, Aécio Neves, ex-governador do Estado, disse ontem que, antes de ter um nome para concorrer à Presidência da República em 2014, o PSDB precisa definir um "projeto" a ser apresentado ao eleitorado do país.

Foi dessa forma que ele se manifestou sobre as colocações o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), e também pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (SP). Ambos defendem que o PSDB antecipe para 2012 a escolha do seu candidato a presidente.

"[Temos que] deixar que o tempo, com naturalidade, coloque aquelas alternativas que vão conduzir um projeto, mas, antes de ter um nome, temos que ter um projeto. Não podemos deixar novamente para o início do processo eleitoral a difusão das nossas ideias e das nossas propostas", afirmou Aécio.

Segundo ele, o PSDB elegeu oito governadores que terão "papel extremamente importante" nas discussões programáticas que virão pela frente e que precisão estar afinados com suas bancadas no Congresso, onde essas discussões se darão.

"O PSDB tem a responsabilidade e todas as condições, ao lado dos seus aliados DEM e PPS, e de outros que virão, de construir com tranquilidade e com serenidade um projeto alternativo para o país", disse Aécio, que afirmou não ter a pretensão de ser líder da oposição.

"Eu não me autoproclamo líder de absolutamente nada", afirmou o mineiro, um dos presidenciáveis tucanos de 2014.

Aécio afirmou que tem "delegação" do eleitorado mineiro para atuar no Senado em favor dos interesses de Minas e na busca de uma agenda de reformas, como a política e a tributária, que vislumbre o que chama de "refundação da Federação" - a redistribuição de recursos com Estados e municípios.

"Não é agenda de um governo, é agenda de um país", disse Aécio, que acrescentou que procurará exercer uma "oposição responsável, absolutamente atenta e vigorosa na fiscalização das ações do Executivo, mas generosa para com o Brasil". Disse que a oposição não será como fez o PT durante o governo FHC, que votou contra o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Em carta encaminhada ontem a militantes, candidatos e colaboradores do PSDB, o presidente do partido defende que o partido faça uma oposição "forte" à presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), mas sem a prática do "quanto pior, melhor".

Mesmo depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que a oposição foi "raivosa" durante seu governo ao fazer a "política do estômago", Guerra adotou um tom ameno ao propor a fiscalização do governo Dilma.

O presidente do PSDB afirma, na carta, que as urnas deram ao partido a "obrigação" de fazer oposição ao governo Dilma, com a defesa de bandeiras tradicionais dos tucanos - como a liberdade de pensamento e do respeito às leis.

"Nunca fomos, e não seremos agora, a favor do quanto pior melhor. Entretanto, as urnas deram ao partido a obrigação de fazer uma oposição forte, sem concessões. E para defender bandeiras como a defesa da liberdade de pensamento e do respeito às leis, nós precisamos, mais do que nunca, da ajuda permanente de vocês", diz na carta.

Guerra pede o apoio dos aliados para fiscalizar o novo governo a partir de janeiro de 2011. "A luta pela democracia não se faz só em época de eleição, mas todos os dias, em todos os lugares, reais ou virtuais. Para essa grande tarefa de fiscalização do governo e de difusão dos nossos ideais, contamos com vocês."

Na carta, o tucano diz ainda que o PSDB "saiu maior, mais forte e unido" das eleições ao eleger oito governadores e manter bancadas "representativas" no Congresso e Assembleias Legislativas.

"Vocês sabem que nada nesta caminhada foi fácil. E nós sabemos que sem vocês não teríamos força para chegar aonde chegamos. Sabemos também que temos pela frente a tarefa de fazer o nosso partido avançar muito mais na sua organização e na sua integração com a sociedade."