Título: Graça Foster deve ganhar mais poder em governo Dilma
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2010, Política, p. A9

Do Rio

Cotada para cargos no governo de Dilma Rousseff que vão desde o Ministério da Casa Civil até a presidência da Petrobras, em substituição a José Sergio Gabrielli, Maria das Graças Silva Foster, ou Graça, como prefere ser chamada, conheceu a presidente eleita em 1999, quando Dilma era secretária de Energia do Rio Grande do Sul e presidente do conselho de administração da distribuidora Sulgás. Ao contrário de outros cotados à Casa Civil, a atual diretora de gás e energia da Petrobras não tem pretensões eleitorais, o que conta a favor do ocupante do cargo que tem o governo nas mãos.

Ter seu nome sob os holofotes não é uma situação confortável para essa executiva de 56 anos formada em engenharia química com mestrado em engenharia nuclear e MBA em economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) que é a jovem avó de uma menina já adolescente. Respondeu aos pedidos de entrevista essa semana dizendo que não tinha o que dizer já que não recebeu nenhum convite e, além disso, avalia que qualquer declaração sua pode parecer que estaria "se promovendo".

Quando conheceu a presidente eleita, a executiva era gerente da área de Tecnologia do Gás Natural da Gaspetro, subsidiária da Petrobras e subordinada, na época, a Rodolfo Landim, então presidente da Gaspetro. Ambos respondiam a Delcídio Gomez do Amaral, hoje senador pelo PT do Mato Grosso do Sul e primeiro diretor da área de Gás e Energia da estatal.

O contato com Dilma no Rio Grande do Sul trouxe a confiança que a levou a futura presidente do Brasil a convidar Graça Foster para a secretaria de Petróleo e Gás quando assumiu o ministério de Minas e Energia (MME) no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela ocupou o cargo por dois anos e oito meses, período em que as duas mulheres fortes da área de energia ficaram ainda mais próximas.

"A relação entre elas se fortaleceu no Ministério de Minas e Energia até porque as duas têm um estilo gerencial muito parecido", afirma um interlocutor privilegiado de ambas. "Naquela época Dilma não tinha contato com a Petrobras, só com a Gaspetro, e Graça era alguém que ela conhecia e podia chamar", lembra um executivo da época.

Após sua aproximação com Dilma, a ascensão de Graça Foster na Petrobras foi muito rápida. Ela voltou de Brasília - cidade em que não gostou de morar, principalmente porque estava longe da família - para ocupar a presidência da Petroquisa. A botafoguense "doente" e moradora de Copacabana voltava para o Rio depois de ficar dois anos e oito meses em Brasília, onde trabalhou no MME de janeiro de 2003 a setembro de 2005.

Da Petroquisa a executiva foi presidir a BR Distribuidora, ocupando o lugar de José Eduardo Dutra, onde organizou o mercado de biocombustíveis. Ficou na subsidiária até setembro de 2007, quando se tornou a primeira mulher a assumir uma diretoria da Petrobras, substituindo Ildo Sauer - um desafeto da presidente eleita - que foi afastado do cargo. Naquele ano a área de Gás e Energia da Petrobras registrou prejuízo de R$ 1,38 bilhão, que se transformou em lucro de R$ 914 milhões no ano passado. O resultado da área ainda foi negativo em R$ 315 milhões em 2008, grande parte provocado por multas cobradas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) por descumprimento de contratos de suprimento de gás.

Uma das missões de Graça quando como diretora da Petrobras era melhorar o relacionamento institucional da estatal com a agência reguladora de energia elétrica, que havia se tornado muito tenso na gestão de Sauer, quando a Aneel era comandada por Jerson Kelman. Com Graça na Petrobras e Nelson Hubner, outro aliado da presidente eleita, na diretoria-geral da Aneel, as tensões foram, aparentemente, contornadas.

"A Petrobras teve que aprender o setor de energia elétrica na visão do gerador de energia de base hídrica, teve que aprender como funciona e opera. E as geradoras de energia hídrica aprenderam o que é o gás e o petróleo. Foi um aprendizado. [Tivemos] Momentos muito difíceis para todos e a gente vem recompondo essa relação ao longo desse ano", contou Graça Foster em uma entrevista ao Valor em setembro de 2007.

O estilo de Graça é duro, muito parecido com o da própria Dilma, e alguns executivos que lidaram com ela nos últimos anos usaram as palavras como "intransigente" quando questionados sobre sua gestão na área de Gás e Energia da Petrobras. Nenhum quis se expor ao dar declarações. Com a Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás (Abegás) ela travou uma queda de braço em torno dos preços do gás natural que terminou por retirar a Gaspetro da associação este ano, apesar da subsidiária ter participação acionária em 21 das 27 distribuidoras de gás do país. Na época, Graça justificou a medida em entrevista ao Valor dizendo que a Petrobras tinha que se unir às empresas que produzem, carregam e transportam gás, não de quem vende.

Outra característica da executiva é o horário de trabalho, que pode começar às 7h e se estender até as 21h, além do fervor quase religioso com que defende a Petrobras como corporação. "Ela tem um carimbo na testa. E está escrito Petróleo Brasileiro S/A", diz um interlocutor de Brasília. Tanto esforço lhe rendeu críticas nas negociações para regulamentação da Lei do Gás. Mas Graça defende a lei que, segundo ela, "traz disciplina ao mercado".