Título: Países ricos divergem sobre Protocolo de Kyoto
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2010, Especial, p. A16

De Bruxelas

O pessimismo que ronda a conferência de Cancún tem onde se alimentar. Além de todos os problemas que vieram à tona em Copenhague, há o fortalecimento da crise econômica na Europa e nos EUA. "Não parece que Cancún será o lugar onde se aprovarão novas metas de redução [de emissões]", reconhece Connie Hedegaard, a comissária de Ação Climática da Comissão Europeia. O recado é para os países em desenvolvimento, que esperam que os países ricos apresentem seus números.

Em 2009, um dos grandes fronts de conflito entre Norte e Sul foi o futuro do Protocolo de Kyoto. O mundo em desenvolvimento quer que ele continue e que os países ricos coloquem suas metas para o segundo período, depois de 2012. Mas o Japão não quer ouvir falar nisso, a Rússia também não, o Canadá idem. A Europa é ambígua neste ponto. "Nós não temos problema com a continuidade de Kyoto", diz Hedegaard. "Mas é preciso corrigir suas falhas", continua. "Também é preciso notar que não se faz um acordo deste da noite para o dia, leva tempo."

Outro ponto de possível tensão em Cancún é o que os europeus chamam de "qualificar o debate". Isto significa, por exemplo, tentar descolar as economias emergentes do bloco do G-77, onde estão os países em desenvolvimento.

A esperança é que Cancún seja uma etapa do processo, mas com resultados. "Alguma coisa concreta Cancún terá que mostrar", reconhece um diplomata brasileiro. O Brasil costuma defender a posição que ou se tem o pacote completo - um acordo com todas as suas facetas - ou não se tem nada. Mas, no México, o Brasil pode exibir alguma flexibilidade. (DC)