Título: Derrota histórica ameaça chance de reeleição de Obama
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2010, Internacional, p. A12

A reeleição do presidente Barack Obama em 2012 ficou mais incerta depois da derrota nas eleições legislativas de anteontem, que deixou o governo com mãos amarradas para adotar novas medidas fiscais voltadas ao estímulo da economia. Obama terá de lidar com um Congresso dividido e polarizado, sem chances de avançar mais na sua agenda de reformas. O oposicionista Partido Republicano tomou o controle da Câmara dos Deputados e reduziu a maioria do Partido Democrata no Senado. Na Câmara, que estava toda em disputa, os republicanos tomaram 60 cadeiras dos democratas (veja quadro abaixo), na maior reviravolta eleitoral nos EUA desde 1948. Ontem à noite, ainda faltava definir o vencedor de 11 cadeiras. Já no Senado, que renovava apenas 33 das 100 cadeiras, os democratas tinham assegura a maioria de 51, contra 46 dos republicanos (três cadeiras ainda estavam por ser definidas).

"Nos dois ultimos anos, tivemos progressos, mas muitos [eleitores] ainda não sentiram esse progresso e nos deram um recado nas urnas", afirmou Obama ontem, fazendo o balanço das eleições. "Como presidente, assumo a inteira responsabilidade por isso."

Obama estendeu a mão aos republicanos para trabalharem juntos em medidas para reanimar a economia. "Nenhum partido será capaz de ditar nosso caminho daqui por diante, e teremos que encontrar pontos comuns para enfrentar os desafios que temos pela frente", afirmou o presidente.

Economistas ligados ao Partido Democrata acham que a melhor maneira de fazer a economia crescer de forma sustentada, algo fundamental para evitar a derrota na campanha de reeleição de Obama em 2012, é adotar novas medidas de estímulo fiscal, principalmente expansão de gastos e de investimentos.

Segundo essa visão, medidas monetárias e cortes de impostos não funcionariam na atual conjuntura, quando cidadãos e empresas estão mais inclinados a cortar gastos e a aumentar poupança.

A nova bancada republicana, porém, foi eleita com um discurso de austeridade fiscal e corte de impostos. Alguns economistas mais conservadores defendem a tese de que as empresas e os consumidores não estão gastando porque os crescentes déficits e a dívida pública criam incertezas sobre a estabilidade econômica.

Ao acenar para a possibilidade de acordo com os republicanos, Obama ensaia tomar o mesmo caminho que o ex-presidente democrata Bill Clinton. Em 1994, ele adotou uma agenda econômica mais conservadora após uma vitória republicana nas eleições legislativas. Naquele período, a agenda de austeridade fiscal funcionou, mas muitos acham que o bom resultado só foi possível porque se tratava de uma recessão mais moderada, bem menos grave que a atual.

Hoje, com o desemprego em 9,6% nos EUA e a recuperação econômica em ritmo lento, a grande maioria dos eleitores disse que a situação da economia é a sua maior preocupação. Criar empregos será uma prioridade política.

Obama disse que seu partido perdeu as eleições, em parte, porque os eleitores entenderam o pacote de estímulo de US$ 800 bilhões baixado pelo governo como uma política de aumento permanente do tamanho do Estado, não como uma medida emergencial para combater a crise. "Os homens e mulheres que nos mandaram para cá não esperam que Washington resolva todos os problemas", disse Obama. "Eles esperam que Washington trabalhe para eles, não contra eles."

Obama chamou os republicanos a trabalharem juntos em medidas de controle fiscal, mas definiu alguns limites do que não aceitaria fazer, como sacrificar despesas em projetos de infraestrutura, em educação e em pesquisa e desenvolvimento. "Teremos que discutir despesas que não estão contribuindo para o nosso crescimento e coisas que são absolutamente necessárias para o nosso futuro."

Ele também cobrou dos republicanos uma agenda mais ampla para estimular o crescimento do que simplesmente corte do déficit público. "A coisa mais importante que podemos fazer para (reduzir) a dívida e o déficit é o crescimento econômico", afirmou. "Quero ouvir deles quais são as políticas que eles propõem para estimular a criação de emprego e o crescimento, porque não acho que só o corte de impostos vai ser a receita certa para o tipo de expansão que precisamos."