Título: Estoques reduzem ritmo na indústria, mas setor espera recuperação forte
Autor: Otoni , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2010, Brasil, p. A4

Conjuntura: Pedidos às fábricas crescem e CNI prevê vendas recordes nos próximos meses

Estoques industriais acima dos níveis desejados provocaram ligeira redução no uso do parque fabril em agosto. O indicador de utilização da capacidade aferido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) passou de 82,5% em julho para 82,3% no último mês.

Essa trajetória não deverá se repetir nos meses seguintes. O maior volume de encomendas feitas pelo comércio às fábricas leva a CNI a projetar vendas recordes e resultados excepcionais em setembro, outubro e novembro. Com isso, é maior a probabilidade de elevação do emprego e da capacidade instalada.

A queima dos estoques em agosto é, na análise do gerente-executivo da unidade de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, uma preparação para o período de maior dinamismo. "A expectativa é de intensificação da atividade industrial e outubro é o mês mais forte para o setor."

Ele lembra que, a partir de setembro, os indicadores industriais serão comparados com uma base mais alta de expansão, que caracterizou o fim de 2009, e podem não exibir taxas de expansão elevadas como as verificadas entre janeiro e agosto.

Ainda assim, ressalta Castelo Branco, os percentuais serão expressivos e refletirão uma produção em nível alto, destinada a abastecer o mercado doméstico no fim do ano em uma conjuntura de maior emprego, renda, oferta de crédito e propensão ao consumo.

Os economistas da CNI salientaram que o uso da capacidade registrou a quarta retração consecutiva em agosto. O indicador saiu de 83% em abril e está em 82,3%. Essa trajetória, contudo, tende a ser interrompida em setembro. Em um contexto em que as horas trabalhadas na produção e o emprego industrial avançam, a CNI aponta a maturação dos investimentos como o fator que dá condições às empresas para ampliar a produção sem ameaçar os limites da capacidade instalada.

O indicador dessazonalizado do faturamento recuou 0,3% em agosto frente a julho. Para a CNI, esse resultado não reflete desaceleração efetiva, mas acomodação após o aumento de 3,6% em julho. Entre janeiro e agosto, a receita está 11,5% acima do verificado em igual período de 2009, indicando que o faturamento no setor industrial deve encerrar 2010 em dois dígitos. Em agosto deste ano, na comparação com igual mês de 2009, os setores que se destacaram foram vestuário (22,8%), automóveis (22,7%) e couros e calçados (24,3%).

As horas trabalhadas e o emprego mantêm trajetória de ascensão. Em agosto, as taxas dessazonalizadas para esses dois indicadores foram de 0,5% e 0,8%. No período de janeiro a agosto, os índices acumulados foram de 8,1% e 5,1%. De acordo com a CNI, o nível de emprego acumula 13 meses de crescimento "quase ininterrupto".

A massa salarial registrou alta de 8,5% somente em agosto, como consequência do maior número de admissões. No acumulado, o acréscimo é de 6%. Como o salário do trabalhador industrial está estabilizado, o indicador do rendimento médio real apresenta taxa bem mais modesta. O acréscimo foi de 1% em agosto e está em 0,9% nos oito primeiros meses do ano.

A CNI prevê a continuidade da expansão no setor industrial, baseada na constatação de que a renda do consumidor continua em elevação, os empresários permanecem otimistas, há investimentos em curso e a expansão industrial é generalizada entre todos os subsetores. (Colaborou Azelma Rodrigues, de Brasília)