Título: Fenômeno de votos cresceu à revelia de partidos
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2010, Politica, p. A10

Eleições: José Antônio Reguffe teve a maior votação proporcional do país

O deputado proporcionalmente mais votado no país, José Antônio Reguffe, do PDT, eleito pela coligação que apoia Dilma Rousseff, do PT, começou a carreira parlamentar no PSDB - quando foi derrotado em 1998, na primeira tentativa de eleger-se deputado distrital. Egresso do movimento estudantil, na Universidade de Brasília, tem boa relação com o movimento cristão, e, como mostra sua trajetória, é um político pouco ligado às estruturas partidárias. Antes de eleger-se pelo PDT, em 2006, foi pelo PSB, em 2002, sua segunda tentativa de se eleger para a Câmara Distrital.

O candidato que concentrou mais de 18% dos votos dos brasilienses popularizou-se pelas medidas de austeridade, como corte no número de funcionários e dispensa de verbas em seu gabinete. Franco atirador, de grande prestígio entre estudantes, começou a ganhar notoriedade como jornalista, em um programa de entrevistas, por uma emissora de TV em UHF - que lhe rendeu acusações de ter recebido financiamento do governo local, levantadas pelo então adversário Chico Vigilante, do PT. O petista desafiou Reguffe, em 2006, a devolver R$ 216 mil que recebeu da Câmara Legislativa como patrocínio ao programa - onde, por sinal, eram frequentes às críticas ao desmoralizado Legislativo de Brasília.

Vigilante também acusou Reguffe de beneficiado por nepotismo, por ter sido funcionário comissionado do Senado no gabinete de um tio, o ex-senador Sérgio Machado (PMDB-CE), hoje presidente da Transpetro. Reguffe exibiu documentos mostrando ter sido funcionário assíduo e produtivo no Senado. Para o site Contas Abertas, argumentou que era positivo o fato de seu programa de TV ter patrocinadores privados e públicos e manter uma linha independente.

Reguffe, que no início da carreira chegou a ser elogiado, em conversas com jornalistas, por líderes do PSDB como o atual vice-presidente do partido, Eduardo Jorge Caldas, ligou-se a um dos políticos mais populares da cidade, o senador e ex-reitor da UnB Cristóvam Buarque, do PDT. Antes disso, porém, já era um fenômeno na propaganda política boca a boca na capital, com colaboradores espontâneos principalmente na UnB, onde cursou economia (formou-se em jornalismo por uma instituição particular, o Iesb).

Com frequência, votou isoladamente contra gastos do governo, principalmente em publicidade. Ganhou antipatia dos colegas na Câmara Distrital ao defender o corte nas vantagens dos parlamentares e criticar abertamente o envolvimento de deputados em escândalos de corrupção. O novo deputado leva para a Câmara sua agenda moralizadora, que já lhe rendeu conselhos de moderação por parte de correligionários. Ele defende o fim do voto obrigatório, que considera a razão de fenômenos como a eleição do palhaço Tiririca, é favorável ao fim da reeleição para cargos no Executivo e quer proibir a candidatura a mais de dois mandatos parlamentares, como forma de acabar com a figura do político profissional.

Um dos primeiros projetos a serem apresentados pelo deputado se destinará a proibir as doações privadas às campanhas políticas. Ele quer instituir o financiamento público por meio de um modelo no qual a Justiça Eleitoral contrataria por licitação as empresas destinadas a fazer impressos e propaganda eletrônica de todos candidatos, segundo um padrão pré-definido. Os candidatos teriam de ganhar votos por suas propostas, defende.

Reguffe também já anunciou que, como fez na Câmara Distrital, abrirá mão dos salários extras, das passagens de avião a que tem direito e do auxílio moradia. Pretende reduzir o número de funcionários - na Câmara Distrital dispensou 14 dos 23 a que tinha direito. Carioca, solteiro, 38 anos, ele perdeu o pai, almirante da Marinha, ainda criança. Segundo declarou à Justiça eleitoral, seu patrimônio soma pouco mais de R$ 1,8 milhão, a maior parte em imóveis - tem uma casa no Lago Sul, área nobre de Brasília, e dois apartamentos, um no bairro de classe média Sudoeste, outro na cidade satélite de Águas Claras.

Criticado por alguns correligionários por ter se envolvido pouco nas campanhas majoritárias (não participou dos eventos promovidos por Cristóvam Buarque, nem das atividades em favor de Dilma Rousseff), Reguffe garante não ter contratado nenhuma empresa durante a campanha, que contou com voluntários e lhe custou, segundo declara, apenas R$ 143 mil.