Título: Volta Redonda vai de PV, apesar de sindicatos e PMDB
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2010, Especial, p. A16

Numa cidade onde o sindicalismo é forte e o prefeito é do PMDB, o governador Sérgio Cabral recebeu 67,51% dos votos e os candidatos ao Senado Lindberg Farias (PT) e Jorge Picciani (PMDB) foram os mais votados, a candidata à presidência do PV, Marina Silva, recebeu 40,02% do votos, batendo por meio ponto percentual a candidata Dilma Rousseff (PT). Volta Redonda, a cidade do aço fluminense, surpreendeu até o vice-governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), considerado um dos caciques da região e responsável pela campanha no interior do Estado.

Pezão não tem dúvidas em afirmar que a vitória de Marina na cidade é influência das igrejas católicas e evangélicas. "Minha mulher foi à missa (em Piraí) e contou que a orientação dada era para não votar em Dilma", diz Pezão. "Isso aconteceu em toda a região."

Jorge Oliveira, o Zoinho (PR), candidato mais votado na cidade para deputado federal, com 37.995 votos, confirma a tese. "A resistência entre os cristãos contra a Dilma e as posições que ela representa foram fortes", afirma. Zoinho, que já foi vereador por três mandatos, entre 1989 e 2000, diz que é católico e não apoiou Dilma, apesar de seu partido ter feito parte da base da ex-ministra.

O pastor David Cabral, presidente da Assembleia de Deus em Volta Redonda e também candidato a vice-governador na chapa de Fernando Peregrino (PR), garante que sua igreja não falou mal de Dilma nesta campanha. "Não foi a orientação que demos", conta. "No entanto, sempre fizemos campanha contra o PT em razão de suas posturas anticristãs. Bati muito na inconstitucionalidade do PNDH-3 (se referindo ao Programa Nacional dos Direitos Humanos). Sempre disse que o PT encarna e defende bandeiras anticristãs." Procurados pelo Valor, representantes da Igreja Católica não foram encontrados para dar explicações se houve ou não a indicação direta. O bispo da diocese local, dom João Maria Messi, está de férias na Itália. O vigário-geral, padre Bernardo Thus não foi encontrado e o assessor de imprensa da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Adionel Carlos não retornou as ligações telefônicas.

O prefeito de Volta Redonda, Antonio Francisco Neto (PMDB), joga panos quentes na discussão e faz um mea culpa. "Existe uma resistência na cidade. Aqui foi o único lugar em que a Jandira Feghali ganhou de Francisco Dornelles na campanha do Senado em 2006. Culpo mais a nossa campanha do que a igreja", diz.

Quem também defende a tese de que os políticos não se empenharam tanto no primeiro turno é o cientista político da PUC-RJ Cesar Romero. Para ele, por a culpa nas igrejas é mais fácil do que assumir a falta de empenho. "Para eles, era melhor que a Dilma não fosse eleita no primeiro turno, para não ter tanta força e precisar negociar apoio. Assim, podem conseguir algo em troca."

Já Renato Soares Ramos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda e Região, com 15 mil filiados, diz que os trabalhadores votaram com Dilma. Mas ele culpa a postura "prepotente e muito arrogante de Lula no fim da campanha". O sindicato de Volta Redonda é independente e não está filiado a uma central sindical. (Colaborou Vera Saavedra Durão)