Título: Paulistas de Piquete moveram-se pela religião e pelo PV
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2010, Especial, p. A16
Em São Paulo, a região que mais votou em Marina Silva (PV) foi a do Vale do Paraíba, onde a candidata à Presidência chegou a obter, em alguns municípios, um patamar próximo ou superior a 30% da votação. O pequeno município de Piquete, com apenas 14.709 habitantes e 10.566 eleitores, deu à Marina a maior votação percentual no Estado: 35,72%.
Ali, a candidata do PV ficou em segundo lugar, pouco abaixo de José Serra, que alcançou 38,68%, enquanto Dilma Rousseff, em terceiro lugar, marcou 24,04%. Em Lorena, cidade vizinha, Marina chegou a 32,32%, o que também lhe garantiu a segunda colocação.
Dois fatores podem explicar a boa votação de Marina no Vale do Paraíba: a presença de políticos do PV, que se empenharam em captar votos para a presidenciável, e a forte religiosidade da região - que abriga a Basílica de Aparecida e onde houve a disseminação de uma campanha contra Dilma Rousseff, pela suposta posição favorável da petista ao aborto e à união civil de homossexuais.
O PV conta na região com dois prefeitos - em Tremembé, onde Marina ficou em segundo lugar, com 27,7%, e em Jambeiro, onde ficou em terceiro, com 20,63%, na média obtida no Estado. Uma força política importante do partido, porém, é representada pelo padre e deputado estadual Afonso Lobato, ele mesmo uma síntese dos dois fatores - o apoio partidário e a religiosidade - que podem ter ajudado a votação de Marina na região. Em Taubaté, base de seu reduto eleitoral na região e onde a candidata ficou em segundo, Padre Afonso alcançou 44.233 votos - quase a mesma votação de Marina Silva, que teve 44.849.
Eleito com 87.674 votos para seu terceiro mandato na Assembleia, Padre Afonso conta que sua votação e de Marina são reflexos de uma campanha casada, feita com muitos encontros com cristãos, não só católicos, mas também evangélicos.
Ele afirma que uma corrente forte de opinião contra Dilma Rousseff se formou nos últimos 20 dias da campanha, depois que a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou um documento recomendando aos fiéis que não votassem na petista, devido à sua suposta posição sobre aborto e homossexualismo.
"Vi pastores pregando contra ela. Eu não destaquei isso na minha campanha, a não ser, claro, quando o público era propenso ao assunto", afirma o padre, que foi candidato a prefeito por Taubaté, em 2008, e perdeu por apenas um porcento.
Outro político do PV na região que fez campanha para Marina foi o deputado federal Marcelo Ortiz, que, contudo, não se reelegeu.