Título: Dutra pede cautela a senadores eleitos
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2010, Politica, p. A8

O presidente do PT, José Eduardo Dutra (SE), pediu ontem à bancada eleita de senadores do partido que não vete os nomes indicados pelo PMDB para a presidência do Senado para não criar problemas para a presidente eleita Dilma Rousseff. Durante três horas de reunião, Dutra mostrou aos correligionários que o bloco suprapartidário formado pelo PMDB na Câmara não tem relação com a sucessão nas Mesas, mas sim uma maneira de pressionar por mais espaço na Esplanada. E que o PT deveria ter consciência do seu papel na sustentação ao governo que toma posse em janeiro.

A intervenção de Dutra surtiu efeito e o líder do partido na Casa, Aloizio Mercadante (PT-SP), amenizou o discurso contrário a nomes como José Sarney (AP) ou Renan Calheiros (AL) para a presidência da Casa. "Não vetaremos nem indicaremos nomes de outros partidos e respeitaremos o princípio da proporcionalidade. A bancada do PT do Senado não será problema, será solução", afirmou.

O PT insistiu, contudo, para que o princípio da proporcionalidade seja respeitado também na Câmara, onde a maior bancada para a próxima legislatura é a do PT, com 88 deputados eleitos. O PMDB elegeu 79. Os petistas querem a presidência da Casa, de preferência por quatro anos, encerrando a proposta de rodízio que vigorou pelo período 2007-2010, durante o qual revezaram-se Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Michel Temer (PMDB-SP).

Caso isso não ocorra, o PT se sentirá autorizado a conversar com outros partidos para definir o que fará nas eleições para as Mesas do Congresso, marcadas para o início de fevereiro. Mercadante assegurou que as conversas mantidas pelo PT com o PR, PRB, PSB, PCdoB e possivelmente o PDT para formar um grande bloco parlamentar não são uma maneira de pressionar o PMDB. "Esse bloco, caso o PDT se integre a ele, deve ficar com 25 senadores. O PMDB está acertado com o PP, o que deve colocá-los com 27 parlamentares. Não queremos ter um bloco maior do que o PMDB", disse Mercadante.

Por enquanto, o partido, como segunda bancada do Senado, prepara-se para ocupar a primeira secretária da Casa, que administrou no ano passado um orçamento de R$ 2,7 bilhões e enfrentou várias denúncias de escândalos durante o início da gestão do atual presidente José Sarney. "Sabemos que é um desafio enorme e temos ex-governadores e ex-ministros experientes para essa função", disse Mercadante. A bancada deve se reunir no dia 2 de dezembro para definir os pré-candidatos.

Dutra não quis polemizar sobre o revezamento no comando das Mesas do Congresso, preocupado em administrar o princípio de crise vivido pelos dois maiores partidos da base de apoio a Dilma. "Cada biênio e cada Casa com sua agonia, vamos com calma", disse. Lembrado que o PT sempre tentou vincular a eleição na Câmara à do Senado - na última disputa, o partido lançou a candidatura de Tião Viana (PT-AC) contra Sarney, gerando uma crise que só foi resolvida com a intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - ele lembrou que eram outros tempos. "Naquela época, nossa bancada era bem menor do que a do PMDB. Hoje, essa diferença diminuiu", ponderou o presidente do PT.

Na parte da tarde, Dutra conduziu a reunião da Executiva do PT, que preparou uma resolução a ser aprovada hoje pelo Diretório Nacional do partido. O texto base vai reforçar a responsabilidade do PT no sucesso do governo Dilma e defender que todas as negociações, tanto para o Congresso quanto para a composição do futuro Ministério, devem ser feitas com todos os partidos da base aliada. O presidente do PT ouviu a reclamação de que as decisões do governo de transição estão sendo tomadas sem consultar o partido.