Título: PT quer definir candidato à Mesa neste ano
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2010, Politica, p. A8

Como reação ao blocão parlamentar formado pelo PMDB, o PT estuda antecipar o processo de indicação do nome do partido para presidir a Câmara dos Deputados no primeiro biênio do governo da presidente eleita Dilma Rousseff (PT).

A definição do nome estava prevista para ocorrer apenas em 2011, mas diante da articulação do PMDB com PR, PTB, PP e PSC para compor o bloco com 202 deputados, os petistas querem acelerar o processo e chegar a um consenso, se possível, ainda neste ano.

Quatro nomes estão colocados: o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP); o vice-presidente da Câmara, Marco Maia (RS); e os ex-presidentes da Casa João Paulo Cunha (SP) e Arlindo Chinaglia (SP).

Vaccarezza continua sendo o favorito do Palácio do Planalto, mas como nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem Dilma explicitaram suas preferências, abriu-se espaço para outras candidaturas. Por isso já está sendo articulada a operação casada com o Palácio para que Lula e Dilma se manifestem, ainda que internamente. As conversas têm envolvido o deputado Antonio Palocci (SP), um dos coordenadores da equipe de transição de Dilma, Vaccarezza e João Paulo Cunha, que divide com Marco Maia a segunda opção da cúpula do governo. Gaúcho de Canoas (RS), Maia é antigo conhecido de Dilma desde os tempos de militância conjunta no Rio Grande do Sul.

João Paulo também tem grandes chances, mas sua candidatura e eleição pode impor riscos a Dilma, apesar da boa relação de ambos. O problema é indefinição do processo do mensalão, que tramita no Supremo Tribunal Federal. Como é réu no processo, há o receio de que, lançado seu nome, haja forte reação da oposição no Congresso e da opinião pública, o que poderia prejudicar o início do governo da petista.

João Paulo, porém, tem afirmado que cabe ao PT enfrentar eventuais reações negativas ao seu nome, principalmente no que se refere ao mensalão, uma vez que o discurso do partido é de que o pagamento de mesada a parlamentares nunca existiu. Nesse sentido, nada mais simbólico do que dar a ele o cargo. Além disso, dentre os cotados, é dono do maior votação: teve 255.497 votos, contra 207.465 de Chinaglia e 131.685 de Vaccarezza.

João Paulo tem ainda sua presidência da Câmara bem avaliada pelo governo e pelos deputados em geral, que eram recebidos e tinham suas demandas atendidas por ele. Vaccarezza, por sua vez, enfrentou as dificuldades do acirramento do embate entre governo e oposição durante o ano eleitoral e acumulou derrotas, como a da redistribuição dos royalties do pré-sal, o fim do fator previdenciário e o avanço da PEC 300.

Os critérios para definir o nome estão sendo estudados pelo partido. O primeiro deles é o atendimento à proporcionalidade das correntes internas do PT. Isso vale tanto na escolha da presidência da Câmara quanto da liderança da bancada. Vaccarezza, João Paulo e Maia são da Construindo um Novo Brasil, majoritária no partido e que tem mais da metade dos deputados. Chinaglia é do Movimento PT. Para liderar a bancada, colocaram-se à disposição Paulo Teixeira (SP), José Guimarães (CE) e Jilmar Tatto (SP). Teixeira é da Mensagem ao Partido, Guimarães da CNB e Tatto do PT de Luta e de Massas.

A esse critério das correntes internas soma-se o da regionalidade dos nomes. Com um partido mais nacional após oito anos do governo Lula, a expectativa é de que a força paulista que sempre foi hegemônica na sigla seja balanceada não só com Estados com tradição no petismo, como Rio Grande do Sul e Minas Gerais, mas também com os emergentes Norte e Nordeste. Por essa razão que dificilmente haverá dois paulistas ou ou dois integrantes do mesmo grupo nos dois cargos, a não ser que haja acordos internos de rodízio entre as correntes na indicação da liderança.