Título: PSDB tem dificuldades para decidir modelo preferido
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Fonte: Valor Econômico, 22/11/2010, Especial, p. A12

Para que a causa do voto distrital prospere, o deputado Arnaldo Madeira sabe que uma das primeiras tarefas suas é convencer os próprios correligionários a se renderem à bandeira. Desde que a discussão da reforma política entrou com mais força na agenda do Congresso, na esteira do episódio do mensalão de 2005, o PSDB nunca conseguiu se definir em relação ao tema. Enquanto as direções de PT e DEM tomaram posição pela adoção da lista fechada, o partido oscilou constantemente sem saber para onde ir. Na primeira votação, em 2007, na Câmara dos Deputados, os tucanos foram a plenário dispostos a apoiar a lista fechada. Pela manhã, votaram no projeto que havia saído da comissão especial que tratava do assunto na Casa desde 2003. O Brasil nunca havia estado tão perto de mudar seu sistema eleitoral utilizado desde 1945. No entanto, depois de uma reunião de bancada, na qual parlamentares fizeram discursos inflamados, o PSDB decide mudar de posição. Era agora contra a lista fechada.À noite, com a ajuda de defecções do PT, na segunda rodada de votação, os tucanos são os principais responsáveis pelo projeto de reforma não vingar. No ano passado, na nova tentativa de se aprovar a lista fechada, o PSDB chega mais decidido. Afinal de contas, no ano anterior, havia estabelecido em congresso e posto no programa partidário que era a favor do voto distrital, fosse puro ou misto. E eis que, mais uma vez, em cima da hora, a legenda muda de posição e vota a favor da lista fechada - que, nesta oportunidade, é derrubada pela ação de partidos pequenos.A postura decidida do PT pelo modelo de lista fechada é fácil de explicar. A legenda ostenta, de longe, a mais alta taxa de identificação partidária. Durante a campanha presidencial, pesquisas indicaram que a sigla era a preferida de até 28% dos eleitores. PSDB e PMDB vinham com 6%. Logo, nada mais atraente para os petistas do que mudar para um sistema em que o cidadão só vota em partidos.Já a indecisão dos tucanos e o flerte com o modelo preferido dos adversários podem ser explicados pela oportunidade que a lista fechada traria a reboque: a aprovação do financiamento público de campanha. O projeto é desejado pela maioria da classe política, mas teria enorme resistência de ser aplicado no sistema em vigor. Bancar integralmente as campanhas eleitorais de candidatos dificilmente seria aceito pela opinião pública. Fazer com que o voto seja dado apenas a partidos seria uma maneira de se justificar o financiamento público. "É o que eu mais ouço: deputados dizendo que estão cansados de pedir dinheiro a empresários. O financiamento público tem muito apelo. Mas sou contra", afirma Madeira, que prefere o modelo atual. (CK)