Título: Disputa regional opõe Braga e Nascimento
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2010, Politica, p. A5
Uma disputa regional com vistas às eleições de 2012 e 2014 foi transposta para os gabinetes da equipe de transição e está por trás do embate entre o PMDB e o PR pelo comando dos bilhões de reais de investimentos do Ministério dos Transportes. O embate nos bastidores tem de um lado o ex-governador e senador eleito do Amazonas, Eduardo Braga, que já formalizou ao núcleo pemedebista liderado pelo vice-presidente eleito, Michel Temer, seu interesse em ocupar a Pasta. O ministério, porém, está desde 2004 nas mãos do senador Alfredo Nascimento (AM) , presidente nacional do PR e candidato derrotado nas eleições estaduais desse ano. Ele licenciou-se neste ano para fazer a campanha e espera retornar ao cargo.
Após largar na frente nas pesquisas, Nascimento acabou a eleição com 25,9% dos votos válidos e perdeu em primeiro turno para Omar Aziz (PMN), vice-governador de Braga desde 2003, que obteve 63,87% dos votos. Sem o governo estadual, o que lhe resta é terminar o mandato de senador, para o qual foi eleito há quatro anos. Ele, porém, tem dito a aliados que manter-se no Senado não seria a melhor opção para sua carreira política, pois ficaria sem os recursos financeiros e o caráter executivo dos Transportes, ambos necessários para iniciar a reconstrução política de seu grupo no Amazonas.
Braga sabe disso e quer eliminar Nascimento da Esplanada, pois antevê uma disputa entre ambos ao governo do Estado em 2014. Foi isso que o levou a romper um acordo feito em 2006 com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo qual o pemedebista se candidataria à reeleição naquele ano mas apoiaria, na sua sucessão, o presidente do PR. No início deste ano, o ex-ministro José Dirceu foi ao Estado cobrar a segunda parte do acordo, já que também beneficiaria o PT, pois o suplente de Nascimento no Senado é também o presidente do diretório regional da legenda, João Pedro. O então governador, porém, afirmou que o cenário havia mudado e lançou seu vice Aziz, um político sem tradição de disputa eleitoral no Estado, o que lhe valeu a alcunha de "a Dilma do Eduardo". Como estratégia política, encampar Aziz teve como principal objetivo facilitar seu retorno ao cargo em 2014, uma vez que o governador eleito não pode concorrer à reeleição.
Veio a campanha e Braga, um dos governadores mais populares do país, alavancou seu candidato e ainda ajudou a derrotar o senador Arthur Virgílio (PSDB), desafeto de Lula, na reeleição ao Senado. Para tanto, empenhou-se na campanha da deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB), que elegeu-se senadora com 22,89% dos votos válidos. Braga teve 42,07%. Também elegeu a maioria de seus aliados na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa.
Enfraquecido nas urnas, a Nascimento restou lutar pelo poderoso Ministério dos Transportes, com o qual pretende se recompor politicamente. Cogita concorrer à Prefeitura de Manaus em 2012, cargo que ocupou entre 1996 e 2004. Depois dela, sairia novamente candidato a governador em 2014.
Ocorre que, para ser viável em ambas as eleições, mais do que o grande orçamento que a Pasta de Transportes oferece - são R$ 16,7 bilhões em investimentos previstos só em 2011 -, o presidente do PR precisa iniciar um processo de recuperação de imagem que se desgastou na campanha deste ano. E não será via Senado que conseguirá fazê-lo.
Isso porque Braga e Aziz formularam uma espécie de "agenda negativa" de Nascimento no Estado e a levaram para a campanha. Ela se baseou em imprimir à sua gestão no ministério a pecha de que pouco fez pelo Amazonas nos quase sete anos que chefiou a Pasta. O foco das críticas foi a desconstrução de sua gestão no ministério devido à não conclusão da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, e ao baixo número de inaugurações de portos fluviais construídos para a interligação dos 62 municípios do Estado, altamente dependente dos seus rios para o transporte de pessoas e cargas. Isso a despeito de tanto a rodovia quanto os portos estarem incluídos no Plano de Aceleração do Crescimento, uma das vitrines do governo Lula durante o segundo mandato. O grupo de Nascimento alega que enviou os recursos para Braga, mas que ele, por razões políticas, promoveu um ritmo lento de obras para fragilizar o ministro e futuro adversário.
Em sua gestão, segundo o Ministério dos Transportes, foram projetados 45 terminais fluviais com recursos federais, sendo que em 26 a execução foi delegada ao Estado - cinco foram concluídos - e em 19 a execução coube à União - oito foram inaugurados. Quanto aos 880 km da BR-319, aproximadamente 400 foram inaugurados nos últimos anos, mas o chamado "trecho do meio" travou em licenciamentos ambiental nacional.
Nesse sentido, retornar ao ministério significa, para Nascimento, mais do que o orçamento cheio, a possibilidade de reverter o cenário político e a imagem que seus opositores lhe imprimiram durante a campanha. Braga, contudo, tem trabalhado por seu nome desde a eleição. Passou a frequentar os encontros da cúpula do PMDB ligada a Temer, na residência oficial do presidente da Câmara, em Brasília, onde se colocou como ministeriável dos Transportes. Isso a despeito de ter construído uma imagem de governador ligado ao meio ambiente, participando de fóruns internacionais e com ações internas bem sucedidas. Tanto que, inicialmente, era cotado para o Meio Ambiente.
Seu maior adversário para a Pasta bilionária, por enquanto, é o próprio Lula, que tem grande simpatia pelo presidente do PR. Nascimento foi o primeiro prefeito de capital a declarar apoio ao petista nas eleições de 2002. Neste ano, seu partido foi dos primeiros a aderir à campanha de Dilma Rousseff. Por outro lado, a presidente eleita quer renovar os lugares daqueles que há muito tempo estão em alguns cargos. Se essa for sua opção, restará a Nascimento lutar por indicações de aliados nas três autarquias amazônicas: Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e o Banco da Amazônia (Basa). Só que nelas, além de a disputa ser por órgãos com atuação mais restrita, a disputa envolve não só Braga, mas lideranças de outros Estados da região amazônica.