Título: Escudeiros, ainda que longe
Autor: Almeida, Daniela ; Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 21/07/2010, Política, p. 7

Três principais presidenciáveis e seus respectivos vices nutrem relação de confiança e mantêm agendas separadas para intensificar as campanhas em locais diferentes

Afinados no discurso e nas estratégias, mas distantes no dia a dia da campanha, os três principais candidatos à Presidência e seus respectivos vices passaram a nutrir uma relação de proximidade máxima na busca por votos. Ao mesmo tempo em que afinam posições, os candidatos adotam agendas diferentes dos vices para uma campanha mais onipresente.

Pelo lado petista, a campanha de Dilma Rousseff decidiu colocar os holofotes sobre o vice, o deputado Michel Temer (PMDB-SP), para forçar uma comparação com Índio. Dilma e Temer apareceriam juntos apenas em locais mais estratégicos. As agendas independentes tentam aumentar o volume da campanha.

Essa maior exposição ocorre num momento em que petistas dizem que Dilma e Temer estão mais afinados do que nunca, trocando informações e consultas sobre cenários políticos locais. O candidato a vice tem uma sala ao lado da de Dilma no comitê central da campanha. O líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), conta que a relação dos dois era fria. Agora, eles estão afinados, se entendem. Estão se admirando, disse o parlamentar.

A relação de confiança também é palpável entre o tucano José Serra e seu vice, o deputado Índio da Costa (DEM-RJ). Serra saiu na contramão da opinião do próprio partido ao endossar as declarações de Índio sobre a ligação do PT com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e ao narcotráfico. Serra concordou com Índio, ainda que o comando da campanha tucana tenha sustentado que a declaração foi resultado de uma participação solo, descolada de qualquer estratégia traçada.

Apesar das aparições individuais nos compromissos de campanha, Serra e Índio se comunicam diariamente, por e-mail ou por telefone. Suas agendas, entretanto, permanecerão separadas e Índio deve aumentar as aparições no Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral e seu reduto de votos.

Verdes No voo solo do PV, o vice da candidata Marina Silva, Guilherme Leal, é quem financia a campanha, abre as portas perante o empresariado e traça o plano de governo. Na viagem a Nova York iniciada ontem para apresentar o projeto de governo a investidores estrangeiros, Marina Silva seguiu escoltada por Guilherme Leal. Existe a maior sinergia possível entre os dois, afirma o coordenador da campanha, João Paulo Capobianco.

O nome de Guilherme Leal não sai mais dos discursos de Marina. Eu e Guilherme estamos nesta luta, repete sempre. A relação dos dois é de sintonia e convergência para a bandeira da sustentabilidade.

Eles estão afinados, se entendem. Estão se admirando

Henrique Eduardo Alves, deputado do PMDB-RN, referindo-se a Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer

O número 1.061 Pedidos de registros de candidaturas em Minas Gerais para o cargo de deputado estadual Michel Temer

O vice de de Dilma Rousseff representa a presença consolidada do PMDB na chapa petista. Temer preside a sigla, é o presidente da Câmara dos Deputados, e foi o responsável por assegurar a participação do partido na coligação de Dilma. Em 2002, ano da primeira eleição de Lula, Temer esteve ao lado de José Serra.

Índio da Costa

Depois de uma longa indefinição, o deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ) foi escolhido para ser o vice de José Serra (PSDB) na disputa à Presidência. É o primeiro mandato de Índio na Câmara. Até ser relator da Lei da Ficha Limpa e a posterior indicação para a vice de Serra, era um parlamentar discreto.

Guilherme Leal

O vice de Marina Silva (PV-AC) é o candidato mais rico na disputa presidencial. Com fortuna estimada em US$ 2,1 bilhões (aproximadamente R$ 3,7 milhões), Guilherme Leal faz doações de campanha regularmente, inclusive para Marina. Proprietário da Natura Cosméticos, o empresário debuta numa disputa eleitoral.