Título: Tombini está mais para Armínio do que para Meirelles
Autor: Lyra , Paulo de Tarso ; Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2010, Politica, p. A6

Alexandre Tombini, 46 anos, terá como sua mais árdua tarefa à frente do Banco Central enfrentar o recrudescimento da inflação. Conhecimento e preparo para isso, o atual diretor de Normas do BC tem, garantem tanto ex-dirigentes da instituição que trabalharam com ele quanto os atuais. Bacharel em economia pela Universidade de Brasília (UnB) com doutorado na Universidade de Illinois, Tombini, tem formação acadêmica sólida e grande familiaridade tanto com o regime de metas para a inflação, que ajudou a construir em 1999, quanto da área de fiscalização e supervisão bancária. Até a noite de ontem Henrique Meirelles, presidente do BC por oito anos, não havia sido convidado para uma conversa com a presidente eleita, Dilma Rousseff. Na equipe de transição, porém, seu nome ontem já estava sacramentado.

Meirelles pretende executar seu plano B: aproveitar toda a experiência acumulada nos oito anos em que esteve no comando do BC para exercer uma atividade, no setor privado, semelhante a de Warren Buffett, legendário empresário e investidor americano. Ele pretende ser um interlocutor e uma referência, interna e externa, para a realização de investimentos no país.

Como diretor do BC, Tombini frequentou as reuniões do Comitê de Basileia, tem boa reputação na comunidade dos bancos centrais e acompanhou toda a discussão sobre regulação e supervisão bancária do pós crise global.

Para os que o conhecem "trata-se de uma escolha feliz", como comentou um ex-presidente do BC. Mas há quem, no mercado, tenha receios de que, por ser um funcionário de carreira, ele terá menos autonomia para administrar a taxa básica de juros de forma a trazer a inflação para a meta de 4,5%.

Essa é uma questão que só o tempo dirá. Como a autonomia operacional do BC para controlar a inflação é concedida pelo presidente da República, e não amparada em lei, o espaço de trabalho de Tombini, de certa forma, dependerá também do relacionamento que tiver com Dilma Rousseff. Lula, nos oito anos de governo, deu autonomia para Meirelles no BC.

Vários analistas de mercado argumentam que Meirelles errou para menos na gestão dos juros este ano, talvez influenciado pelo calendário eleitoral. Tanto que a inflação já mostra suas garras e as expectativas para 2011 superam 5%. No governo, a avaliação é de que a inflação está muito concentrada em alimentos e, portanto, assim como os preços dubiram agora, tendem a cair mais adiante. Alimentos sempre devolve a inflação que gera.

A dúvida predominante, porém, é se o próprio Meirelles já aumentará os juros em dezembro, na sua última reunião do Copom, ou se deixará essa tarefa para seu sucessor.

"Nem "dovish" nem "hawkish", nem falcão nem pombo", avaliam dirigentes e ex-dirigentes do BC . Tombini é economista com visão global e mesmo quem não lhe tem grande simpatia profissional considera um erro e mesmo uma "injustiça" considera-lo mais "heterodoxo".

Fontes do mercado acreditam que que ele tenderia a ser um presidente mais parecido com Armínio Fraga do que com Henrique Meirelles. Isso porque Armínio usou mais a banda do regime de metas para acomodar choques inflacionários, alegam. A margem de tolerância de 2 pontos percentuais acima ou abaixo do centro da meta de 4,5%, no entanto, existe exatamente para que isso seja feito: acomodar os choques de oferta e combater seus efeitos secundários.

Gaúcho e torcedor do Internacional, Tombini foi indicado por Meirelles para ser seu sucessor em março deste ano, quando o atual presidente do BC pensou em ser vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff. Seu nome também contou e conta com o apoio do Ministério da Fazenda, tanto por parte do secretário de Politica Econômica, Nelson Barbosa, quanto por parte do ministro Guido Mantega. Não exatamente por ser considerado um "heterodoxo", que ele não é, mas por manter boas relações com ambos, o que não foi possível entre Meirelles e Mantega. Nos anos 90 ele trabalhou tanto na Casa Civil quanto na Fazenda.

Tombini já foi diretor de Assuntos Internacionais e diretor de Estudos Especiais do BC e trabalhou no Fundo Monetário Internacional (FMI). Junto com o diretor Sérgio Werlang, criou em 1999 o departamento de Estudos e Pesquisas do BC, responsável pelas informações e análises que sustentam as decisões do Comitê de Política Monetaria (Copom).

Casado com Michel, americana que conheceu quanto estudou nos EUA, Tombini tem dois filhos.