Título: Kassab pressiona DEM por mudança na direção
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 24/11/2010, Politica, p. A10

Em conversas com setores do Democratas, ontem, em Brasília, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, condicionou sua permanência no partido à troca de comando da legenda. Aparentemente, estava recuando em relação à ida para o PMDB. A ala ligada ao atual presidente, deputado Rodrigo Maia (RJ), considerou tentativa de "golpe" e "chantagem". Para eles, trata-se de um recuo estratégico. O prefeito estaria apenas buscando uma desculpa para deixar o DEM, já que sua permanência no partido limita seu projeto político em São Paulo, onde o partido é ligado ao PSDB. Estaria o prefeito construindo a saída legal para não ser atingido pela lei da fidelidade partidária e assim manter o seu mandato. Kassab, em entrevista, defendeu antecipação da convenção nacional que vai eleger os próximos dirigentes e disse que seu partido precisa ser "revigorado". O mandato de Rodrigo Maia termina em dezembro de 2011. Perguntado, o prefeito não admitiu estar negociando sua ida para o PMDB nem revelou seus planos. "Meu futuro está ligado ao desempenho como prefeito de São Paulo", desconversou. No entanto, em reunião anteontem com dirigentes dos partidos PCdoB, PSB e PDT, em São Paulo, anunciou sua migração para o PMDB e começou a articular formação de aliança para enfrentar o PSDB.

Kassab almoçou com o ex-presidente do partido, Jorge Bornhausen, e com o líder do partido no Senado, José Agripino (RN), com os quais discutiu os riscos políticos de eventual mudança para o PMDB. Afirmou que gostaria de permanecer no DEM, desde que fosse prestigiado, o que significa maior controle do partido. "Não haverá cenário de deposição de Rodrigo Maia ou chantagem", disse um demista irritado com a posição de Kassab.

A Executiva Nacional do DEM tem reunião no dia 8 de dezembro, quando deve ser decidida a antecipação ou não da convenção nacional. Até lá, dirigentes do partido trabalharão para evitar um racha. Qualquer divisão implode o partido, dizem. Os principais bombeiros, com bom trânsito em todos os setores da legenda, são Agripino e o deputado ACM Neto (BA).

Rodrigo Maia tem dito a seus aliados estar aberto a uma mudança no calendário das convenções municipais, estaduais e nacional, mas desde que seja negociado. Não aceitará imposição. Kassab e o grupo que o apoia - inclusive Bornhausen - não têm maioria para derrubar Maia. Os próximos dias serão de intensa negociação.

Kassab havia avançado nas negociações com o PMDB, para filiar-se à legenda, e havia até autorizado deputados de outras legendas a divulgar essa informação. Indo para o PMDB, poderia disputar o governo em 2014, articulando apoio de partidos da base governista, como PSB, PDT e PC do B.

A interlocutores, o prefeito defende um partido revitalizado e com rotatividade no comando. "O desempenho do partido nas eleições está sendo avaliado. Até o final de março teremos a conclusão desse levantamento, para decidir o futuro do DEM e revigorar o partido", disse. Kassab esteve no Senado para assinar convênio com o primeiro secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), para impressão gratuita em braile de publicações da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SMPED) na gráfica do Senado.