Título: Trabuco vê continuidade em equipe econômica
Autor: Agostine , Cristiane ; Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2010, Politica, p. A10

O mercado financeiro viu nas nomeações feitas pela futura presidente Dilma Rousseff sinais de continuidade com relação à política econômica do presidente Lula. O discurso de Guido Mantega, que continuará ministro da Fazenda, foi especialmente elogiado, assim como o do futuro presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

Para Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, a nova equipe econômica sinaliza "continuidade e renovação, sem quebra de paradigmas ou viradas de mesa". Para ele, Mantega, Tombini e a futura ministra do Planejamento, Miriam Belchior, têm como traço comum serem quadros experientes do setor público, que conhecem a máquina federal, todos os programas em andamento e as respectivas políticas públicas.

"São todos dedicados e comprometidos com o setor público e trazem no currículo uma sólida formação acadêmica e êxitos na condução de uma política que enfrentou a crise mundial, retomou o crescimento e elevou a renda da grande massa da população", afirmou Trabuco, em nota enviada por meio de sua assessoria de imprensa.

Para Marcelo Carvalho e Diego Donadio, analistas do BNP Paribas, a escolha de Mantega já era esperada. Mas seu discurso de ontem, defendendo a austeridade fiscal, surpreendeu positivamente. A nomeação de Tombini, no entender dos dois analistas, é boa para o mercado, e não só por suas qualificações técnicas. Sua fala, defendendo a independência do BC, foi bem vista pelos investidores, afirmam.

Para Marcelo Salomon, economista-chefe para Brasil do Barclays Capital, o time vai garantir a continuidade da política de "responsabilidade fiscal, taxa de câmbio flutuante e regime de metas de inflação". Ele diz que espera moderação nos gastos públicos, mas desconfia que, com o ministro Mantega, "a política fiscal deve continuar frouxa, com o crédito do governo ainda crescendo a taxas rápidas". Salomon lembra que Mantega chegou a declarar que não há conexão entre os juros praticados no país e a política fiscal e afirma que está cético com relação a qualquer ajuste no lado fiscal que mude o balanço de riscos atual.

Segundo Salomon, há dúvidas se Tombini, apesar de bem preparado, terá o suporte político necessário para começar a subir as taxas de juros nos primeiros meses da nova administração, ainda mais considerando-se a importância dessas taxas nas transações especulativas de estrangeiros conhecidas como "carry trade", que Mantega procura conter. "Será que o BC vai adotar primeiro medidas prudenciais, como elevação de depósitos compulsórios ou a limitação da expansão do crédito para tentar conter a demanda doméstica antes de pensar em subir juros?", ingada Salomon.

"Tiraram a raposa do galinheiro", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, sobre a saída de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central. O executivo disse que vê conflito de interesses em trazer um profissional do sistema financeiro para comandar a autoridade monetária, referindo-se ao fato de Meirelles, antes de chegar ao BC, ter sido presidente do BankBoston.