Título: Meirelles diz ter tomado decisão pessoal
Autor: Agostine , Cristiane ; Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2010, Politica, p. A10

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, acredita que cumpriu seu papel à frente da instituição e que sai na "hora certa". Ele diz que conversou "longamente" com a presidente eleita, Dilma Rousseff, na noite de terça-feira, mas que a decisão foi "pessoal", pois segundo ele, "as boas práticas recomendam que um presidente de banco central não fique mais do que dois mandatos".

"Acredito que um profissional deve iniciar e concluir sua missão na hora certa. Além do que, as regras de boas práticas de governança dos bancos centrais aconselham que um presidente não fique mais do que dois mandatos, que no Brasil coincide com o mandato de presidente da República", afirmou em entrevista coletiva à imprensa, na manhã de ontem, no Senado.

Para ele, a hora certa é ao fim do governo, participando, portanto, da próxima reunião do Comitê de Política Monetária, nos dias 7 e 8 de dezembro, a última do ano. "Não considero a possibilidade de sair antes e não acho que seria encerrar na hora certa."

"A minha intenção e objetivo é concluir minha missão juntamente com o presidente Lula. Um governo de sucesso que mudou a face do país", disse ele, pouco antes de participar de audiência conjunta das comissões de Assuntos Econômicos e de Constituição e Justiça do Senado sobre o caso do banco PanAmericano. "Saio feliz, gratificado e realizado"

Ele afirmou ainda que a decisão de permanecer à frente do BC tomada em março, em meio a dúvidas se concorreria ao Senado, foi a mais acertada. "Se tivesse saído naquele momento não teria sido a hora certa", diz. "Os fatos me deram razão. Não era céu de brigadeiro. Houve refluxo da economia mundial, com risco de duplo mergulho e problemas de evolução de preços de alimentos. Permanecer mostrou-se a decisão adequada".

Ele disse ainda que o anúncio da troca de comando no BC foi tomado no momento "adequado" e que a autonomia da autoridade monetária será mantida. "Incertezas no mercado financeiro podem levar a custos desnecessários. É preciso ter tranquilidade e sangue frio".

Sobre a indicação do diretor de Normas, Alexandre Tombini, para seu lugar, Meirelles afirmou: "É uma excelente escolha de um profissional completamente preparado para a função. Trabalhamos juntos por cinco anos e tenho plena confiança nele".

Questionado se ainda assumiria algum cargo ou se concorreria a algum posto político, não descartou nenhuma possibilidade e ainda brincou: "Meu pai se aposentou aos 92 anos e comentou comigo, depois, que achava que tinha tomado uma decisão prematura".

A alguns interlocutores, porém, Meirelles tem dito que pretende aproveitar a experiência dos oito anos de Banco Central para exercer uma atividade no setor privado semelhante à de Warren Buffett, lendário empresário e investidor americano. Ele pretende ser uma referência, interna e externa, para a realização de investimentos no país.