Título: Pressionada, Irlanda fará corte de gasto profundo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2010, Internacional, p. A15
A Irlanda anunciou cortes profundos de gastos e aumento de impostos. O país, que enfrenta uma alta do déficit público e combate uma crise bancária, quer assegurar ajuda internacional. O governo irlandês entretanto foi criticado por mostrar confiança excessiva no crescimento da economia - muitos analistas dizem que a expansão deve ser bem mais modesta. No ano passado, o PIB de pouco mais de US$ 225 bilhões registrou uma contração de 7,6%.
A redução de gastos anunciada por Dublin chegará a 20% nos próximos quatro anos. Cortes de ¿ 2,8 bilhões (US$ 3,8 bilhões) em gastos sociais e aumentos de ¿ 1,9 bilhão no imposto de renda estão entre as providências planejadas para restringir o déficit orçamentário a 3% do Produto Interno bruto (PIB) até o fim de 2014. O déficit será de 12% do PIB neste ano. Se o cálculo incluir o pacote de ajuda ao setor bancário, o déficit chega 32% do PIB.
"Aqueles que podem pagar mais pagarão a maior parte, mas nenhum grupo será protegido", afirmou o governo, num relatório publicado na capital irlandesa. "Adiar essas medidas levará a grandes sobrecargas no futuro para os que podem suportá-las."
O governo planeja reduzir os gastos correntes domésticos em ¿ 7 bilhões e o investimento deverá cair em ¿ 3 bilhões. A remuneração dos recém-ingressados no funcionalismo público será reduzida em 10%. O governo também planeja reduzir o salário mínimo, atualmente de ¿ 8,65 a hora, em ¿ 1.
Ele elevará o imposto sobre vendas para consumidores em 2014, de 21% a 23%, e reduzirá as isenções de impostos para pagamento de pensões. Um imposto predial e territorial será instituído.
O ministro das Finanças, Brian Lenihan, manterá a alíquota de 12,5% do imposto de renda das pessoas jurídicas da Irlanda, criticada por alguns governos europeus como a Áustria. A Hewlett-Packard, maior fabricante mundial de computadores, disse nessa semana que poderá reconsiderar o seu investimento na Irlanda se o país elevar a alíquota do imposto de renda das pessoas jurídicas como parte de um acordo de ajuda.
O premiê Brian Cowen está correndo para concluir as conversas com a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre um pacote de ajuda de ¿ 85 bilhões à medida que sua coalizão de governo desmorona. Cowen disse no começo da semana que convocará eleições nacionais no começo de 2011. Antes da convocação, ele pretende aprovar o orçamento.
O gasto previdenciário reduzido e impostos pessoais mais altos são parte de um plano geral para gerar ¿ 15 bilhões adicionais no orçamento até 2014. O governo disse ontem que espera que a economia cresça a uma média de 2,7% anuais nos próximos quatro anos.
"Isso não me parece muito realista", afirmou Stephen Lewis, economista-chefe da Monument Securities, de Londres.
Embora os maiores partidos de oposição tenham se comprometido com o plano de reduzir o déficit, eles ainda não divulgaram detalhes sobre como atingirão essa meta. Os legisladores deverão votar o orçamento de 2011 no Parlamento em 7 de dezembro.