Título: Nordeste e Sul terão mais hospitais particulares
Autor: Camarotto, Murillo ; Pitthan, Júlia
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2010, Empresas, p. B5

Assim como São Paulo e Rio, que estão recebendo grandes investimentos do setor de saúde privado, no Nordeste e no Sul do país hospitais e planos de saúde investem em expansão. A operadora de saúde >empres<, do Ceará, vai aplicar mais de R$ 100 milhões até 2011 na construção, reforma e ampliação de hospitais próprios, além de abertura de laboratórios. Este mês, o Hospital Baía Sul, de Florianópolis, inaugurou uma nova unidade que consumiu R$ 30 milhões. No Paraná, há projetos de R$ 110 milhões em andamento e em Porto Alegre, o bairro Restinga recebe quase R$ 50 milhões, até 2012.

Com cerca de 915 mil usuários, o grupo cearense Hapvida Saúde vai investir mais de R$ 100 milhões durante o biênio 2010-2011. Os recursos estão sendo alocados basicamente na construção, reforma e ampliação de hospitais próprios, bem como na abertura de clínicas, laboratórios de diagnóstico, equipamentos, emergências e tecnologia. O orçamento deste ano prevê investimentos de R$ 45 milhões. Para o ano que vem, mais R$ 60 milhões devem ser aplicados.

Somente em 2010 foram inaugurados dois grandes hospitais na região Nordeste, sendo um em Salvador e outro, no Recife. Ambos estavam em obras desde 2008. O Teresa de Lisieux, na capital baiana, custou R$ 45 milhões e reúne todas as especialidades médicas, com três tipos de UTI: neonatal, pediátrica e adulto.

No Recife, o Hospital da Ilha do Leite foi totalmente restaurado, mediante aporte de R$ 40 milhões. Há no local cem leitos de internação, sendo dez de UTI. "Acreditamos muito no potencial do setor em Pernambuco", afirmou o presidente do Hapvida, Jorge Pinheiro. Segundo ele, o hospital do Recife irá receber novas ampliações em breve.

Na semana passada o grupo também inaugurou o Hospital Guarás, em São Luís (MA), após investimento de R$ 7,5 milhões. A estrutura contará com centro cirúrgico com salas de parto e pré-parto, além de UTI adulto com nove leitos. De acordo com a Hapvida, em breve deverá funcionar no local uma UTI neonatal.

Também foram realizados neste ano investimentos em nove unidades do grupo em Pernambuco, incluindo centros de diagnóstico, atendimento ambulatorial e clínicas especializadas. Fortaleza recebeu aportes em três unidades, mesmo número de Salvador. Há ainda investimentos em Belém e Manaus.

Outro investimento importante em Pernambuco está sendo feito pelo Hospital Santa Joana, que pertence a um grupo familiar local. Em 2010 foram aplicados cerca de R$ 4 milhões na construção de 20 novos leitos de UTI, segundo informou a diretora-executiva do hospital, Juliana Vieira. Ela disse ainda que há planos para a construção de uma nova torre em 2011, o que poderá custar algo em torno de R$ 15 milhões.

O grupo também está investindo na renovação do seu parque tecnológico e no processo conhecido no meio médico como "Acreditação Hospitalar", pelo qual pretende alinhar seus processos a padrões internacionais de segurança.

A Unimed também tem investimentos previstos para o Recife. O grupo está levantando sua terceira unidade na capital pernambucana. Procurada pelo Valor, entretanto, a Unimed não respondeu aos pedidos de entrevista.

Em Florianópolis, entre médicos, é comum ouvir a brincadeira: se você precisar de internação e tem plano de saúde privado, a melhor alternativa é procurar o Aeroporto Hercílio Luz. Segundo dados do Ministério da Saúde, Florianópolis oferece 396 leitos privados e 1.192 no SUS para uma população de pouco mais de 400 mil habitantes.

O cenário levou a Unimed Grande Florianópolis a aprovar na última semana de outubro a aquisição de um hospital próprio. Segundo a assessoria de imprensa da cooperativa, a compra está em fase de análise de viabilidade.

O alvo da Unimed é o novo hospital do SOS Cárdio, formado por um grupo de cardiologistas para atender serviços de emergência na área para a comunidade de Florianópolis. O hospital tem 75 leitos preparados para atender demandas de alta complexidade. Segundo a Unimed, caso a análise demonstre inviabilidade da compra do hospital, a cooperativa médica irá lançar um edital ao mercado buscar outras propostas.

De acordo com o presidente da Unimed, Edevard Araujo, a aquisição do hospital próprio é fundamental para melhorar a qualidade da assistência médica aos clientes da operadora, assim como para proporcionar a regulamentação da rede nos serviços de alta-complexidade. Em Santa Catarina, o Sistema Unimed possui hospitais em Joinville, Chapecó, Balneário Camburiu, Criciúma e dois em Blumenau.

O crescimento do poder de consumo da população catarinense e uma recomendação do Ministério Público Estadual, que pôs fim ao uso de leitos e serviços em hospitais públicos por clientes de planos de saúde, têm levado empresários do setor a planejar empreendimentos capazes de suprir a demanda.

O Hospital Baía Sul, que recebeu investimentos de R$ 30 milhões, foi aberto na semana passada em Florianópolis. Trata-se de uma segunda etapa do Baía Sul Hospital Dia, localizado no centro da capital catarinense, que desde 2005 faz procedimentos cirúrgicos de baixa e média complexidades, que não dependem de internação. O investimento contou com recursos próprios de empresários locais. Os equipamentos foram financiados pelo Finame, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O complexo formado pelos dois hospitais irá oferecer nove salas cirúrgicas e 90 leitos, sendo 15 deles em unidade de terapia intensiva (UTI). A estrutura fará atendimento exclusivo de pacientes particulares e usuários de planos de saúde privados. Os aparelhos da UTI, importados da Alemanha, tiveram custo de R$ 2,5 milhões.

"O mercado nos pediu que ampliássemos nossos serviços. Hoje, Florianópolis tem baixa oferta de leitos de medicina intensiva", diz Newton Quadros, diretor-executivo do Baía Sul. De acordo com ele, muitos pacientes recorriam ao Baía Sul Hospital Dia procurando atendimento para problemas de alta complexidade. Em breve, o Baía Sul deve iniciar também o serviço de atendimento em pronto-socorro.

Essa demanda reprimida tem, em parte, explicação na pouca oferta de leitos privados oferecidos na região. Em 2006, o Ministério Público Estadual emitiu recomendação à Secretaria Estadual de Saúde que pedia a suspensão do atendimento de pacientes de planos de saúde nos hospitais com administração estadual.

De acordo com a promotora Sonia Maria Demeda Groisman Piardi, do MPE-SC, a recomendação foi feita com base no princípio de que os planos de saúde particulares precisam oferecer aos seus beneficiários alternativas de internação em hospitais próprios ou conveniados, mas sem criar prejuízo aos usuários do SUS. "A decisão acabou gerando a necessidade transversa de os planos investirem em hospitais", disse.

A Secretaria Estadual de Saúde acatou a recomendação do MPE, e os hospitais administrados pelo governo cessaram o atendimento dos clientes de planos. Há exceção para o Hospital Infantil Joana Gusmão e para alguns procedimentos de alta complexidade, oferecidos pelo Hospital de Caridade, que não são encontrados nos hospitais privados.

No Paraná, dois projetos, somando R$ 110 milhões, prevêem construção de um novo hospital e ampliação de outro. Em outubro, a Associação Paranaense de Cultura (APC), mantenedora da Pontifícia Universidade Católica, anunciou o investimento de R$ 50 milhões para erguer um novo hospital em Curitiba, o Marcelino Champagnat. Um mês depois, a direção do Hospital Santa Cruz, um dos mais sofisticados da capital, tornou pública a intenção de usar R$ 60 milhões na ampliação de sua estrutura.

Está prevista para 2011 a construção do novo prédio do Santa Cruz, a criação de consultórios médicos e a compra de equipamentos para atendimentos de alta complexidade. Neste ano, a instituição investiu R$ 6 milhões em estrutura, capacitação e implantação de novas áreas de atendimento.

Os dois anúncios mostram que os hospitais do Paraná pretendem oferecer em Curitiba o que alguns pacientes vão buscar em São Paulo e também atrair pessoas de outros Estados e até estrangeiros. "O turismo médico já existe aqui e deve crescer", diz o presidente do Santa Cruz, Alexandre de Oliveira Franco. Segundo ele, hoje o hospital possui área de 21 mil metros 2 e o novo prédio deve acrescentar mais 13 mil à estrutura. O número de 180 leitos para internação não deve aumentar, mas serão criadas novas UTIs e áreas para atendimento e realização de exames.

Franco diz que planeja buscar financiamento para 50% do projeto e o restante virá de recursos próprios. O hospital, que deve fechar 2010 com faturamento de R$ 100 milhões, pertence a um médico, Hamilton Leal, e já foi alvo de propostas de aquisição. Com a ampliação, será criado um andar exclusivo para a área de oncologia. Em dois pavimentos ficarão 30 consultórios médicos e um prédio de quatro andares que está sendo reformado será dedicado à radioterapia, centro cirúrgico e de diagnósticos.

O Santa Cruz não atende pacientes do SUS e também não aceita conveniados da Unimed, uma das maiores operadoras de saúde do Estado. Entre os planos da direção está ainda aquisições de unidades de atendimento menores em Curitiba, em 2012. O hospital faz cerca de 15 mil atendimentos e mil cirurgias por mês e está em processo para obtenção da certificação JCI (Joint Commission Internacional), uma das mais importantes da área.

A intenção da APC com o Hospital Marcelino Champagnat é atrair clientes de mais alta renda que hoje buscam tratamentos de alta complexidade fora do Paraná, além de tentar inibir a chegada de concorrentes em Curitiba. Marco Cândido, superintendente da APC, explicou que além dos R$ 50 milhões previstos para o projeto, vai destinar R$ 3 milhões em 2011 e 2012 para reformas no hospital universitário Cajuru, voltado a pacientes do SUS.

O Marcelino Champagnat terá 27 mil metros 2 e um prédio com 10 andares, com 72 consultórios, 7 salas cirúrgicas, 118 leitos (sendo 31 unidades de terapia intensiva), um centro de diagnósticos e um pronto atendimento. Será um hospital para adultos, com ênfase em ortopedia, cardiologia e neurologia. Ele deve ser inaugurado em outubro de 2011. A ampliação do Santa Cruz deve ficar pronta no fim de 2012.

No Rio Grande do Sul, pelo menos dois hospitais privados de grande porte estão tocando projetos de expansão. Como contrapartida à manutenção do certificado de filantropia, que garante isenção de recolhimento de contribuições sociais para o governo federal, o Moinhos de Vento vai bancar a construção de um hospital geral no bairro Restinga, no extremo sul de Porto Alegre, que atenderá pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e deve começar a operar em julho de 2012.

Procurado pelo Valor, o Moinhos não quis se manifestar. Conforme o Ministério da Saúde, que considera o hospital como uma das seis instituições de excelência no Brasil e também faz parte do projeto, o investimento soma R$ 49,6 milhões. O projeto inclui a implantação de 90 leitos, enfermarias para adultos e crianças, centros de especialidades e de diagnósticos e uma escola de gestão em saúde. O ministério informou que o bairro concentra 10% da população da cidade, que soma 1,365 milhão de habitantes, segundo o censo 2010 do IBGE.

Controlado pela Associação dos Funcionários Públicos do Estado do Rio Grande do Sul (AFPERGS), o hospital Ernesto Dornelles, que atende a convênios e pacientes particulares em Porto Alegre, está ampliando e modernizando a área de emergência, ao mesmo tempo em que constrói um novo centro clínico. A instituição também não quis se manifestar sobre o assunto.