Título: Palocci deve voltar ao núcleo do poder
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2010, Política, p. A11

De Brasília

O ex-ministro da fazenda Antonio Palocci está de volta ao centro do núcleo de decisões do Palácio do Planalto: a Casa Civil da Presidência da República. Pelo menos um ministro e um alto dirigente do PT confirmaram ontem que Palocci aceitou o convite da presidente eleita Dilma Rousseff, após relutância inicial em assumir o cargo de maior projeção do Planalto depois do presidente. Ele preferiria a Secretaria-Geral, cargo que deve ser ocupado pelo atual chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho. O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) deve ocupar outro posto na Esplanada dos Ministérios - provavelmente Previdência ou Saúde.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, cuja permanência no cargo chegou a ser defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva corre o risco de ser substituído. Sua cadeira é ambicionada pelo senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que é filho de general, candidato derrotado ao governo de São Paulo. Jobim poderia ficar mais dois anos, prazo necessário para concluir e consolidar a implantação do Ministério da Defesa, e negociar com o Congresso a instalação da "Comissão da Verdade", prevista no Plano Nacional dos Direitos Humanos.

A pedido da presidente eleita, Palocci fez uma sondagem sobre o interesse de Jobim em permanecer no cargo. O ministro respondeu que não cabia a ele dizer que queria ficar, mas ao governo eleito dizer se quer contar com seu serviço e em que condições. Disse que não ganha nada para trabalhar para o governo - de fato, como ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Jobim já recebe o teto salarial do funcionalismo público. Segundo fontes do PT, a presidente eleita não teria recebido bem a resposta de Jobim, ao falar em "condições" para permanecer. Mesmo sistema de negociação, por coincidência ou não, que atingiu Henrique Meirelles.

Além de Mercadante, que também tem em mira a Saúde e a Educação, a Defesa é cobiçada pelo vice-presidente eleito Michel Temer, presidente do PMDB, partido de Jobim, que não dá cobertura à sua permanência no cargo. Se ele ficar, será na cota da presidente eleita.

Com o apoio do PMDB, o principal parceiro do PT na eleição, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), que estava cotado para a Saúde, pode permanecer na coordenação política do governo, com assento no Palácio do Planalto. Para a Saúde, na realidade, Dilma procura um nome "da sociedade", segundo petistas, alguém com o perfil do médico Adib Jatene, que ocupou o cargo nos governos de Fernando Collor e do tucano Fernando Henrique Cardoso.

Palocci deixou o governo em março de 2006, na esteira do escândalo da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Na época, ele era um dos nomes cotados para disputar pelo PT a sucessão do presidente Lula. O ex-ministro não chegou a ser denunciado pela quebra do sigilo bancário do caseiro - o Ministério Público entendeu que não partira dele a ordem para os dirigentes da Caixa Econômica Federal. Em 2006, Palocci se elegeu deputado federal. Neste ano, trocou a candidatura à reeleição pela campanha de Dilma, credenciando-se ao ministério. Ele chega ao Planalto sofrendo a oposição de setores do PT.

O PSB será o primeiro partido da base aliada, fora do eixo PT-PMDB, a negociar pessoalmente com Dilma espaços no futuro governo. Os encontros acontecerão na próxima semana, após Dilma definir os ministros do núcleo palaciano. O PSB tem atualmente dois ministérios - Ciência e Tecnologia, com Sérgio Rezende, e Secretaria Nacional dos Portos, com Pedro Brito. O objetivo do partido é manter a influência que tem no Nordeste e ampliar a participação no Sudeste. Os principais governadores do partido, dos seis eleitos em outubro, concentram-se nessas regiões: Cid Gomes (CE), Eduardo Campos (PE) e Renato Casagrande (ES), os dois últimos com percentuais de votação acima de 80%.

O PSB considera fundamental recuperar o Ministério da Integração Nacional, que no começo do governo foi Ciro Gomes. No segundo mandato, o ministério passou para a cota do PMDB. O PSB quer retomar esse espaço, responsável pela realização de grandes obras no Nordeste, a principal delas a transposição das águas do São Francisco.

O PSB tem evitado apresentar oficialmente candidatos para essas vagas. "Não estamos interessados em apresentar nomes. Queremos saber os nossos espaços para escolher perfis qualificados". Ainda não se sabe, por exemplo, se Ciro terá espaço na Esplanada de Dilma. Ele reconciliou-se com Dilma durante a campanha eleitoral, mas não tem se manifestado abertamente sobre o tema.

Já em relação ao senador Antônio Carlos Valadares (SE), a questão é outra. Dirigentes do PSB consideram um desrespeito a maneira como o nome dele vem sendo tratado. A especulação é de que o PT cederia a ele uma vaga no ministério para que o suplente - José Eduardo Dutra, presidente nacional do PT - assuma uma cadeira no Senado. "Valadares está no terceiro mandato como senador, foi governador de Estado e é um dos nossos quadro mais preparados. Se for escolhido ministro, será por méritos, não para abrir uma vaga para Dutra", reclamou um integrante da cúpula do PSB.