Título: Indústria tem recuperação tímida
Autor: Villaverde, João
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2010, Brasil, p. A3

O resultado de novembro do nível de utilização de capacidade instalada, do grau de confiança e do índice de expectativas da indústria não confirmou a recuperação do setor sugerida por alguns indicadores em outubro. Segundo a Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getulio Vargas (FGV), a utilização de capacidade caiu de 85,2% em outubro para 84,5% em novembro, feito o ajuste sazonal, o mais baixo desde março de 2010, enquanto o Índice de Confiança recuou 1,1%, para 112,7 pontos, o menor desde novembro de 2009. São números que não corroboram a melhora esboçada em outubro pelo Indicador Nacional de Atividade (INA), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que subiu 0,5% sobre setembro.

A forte concorrência externa num cenário de câmbio valorizado e a expectativa de alta em breve dos juros influenciaram o resultado em novembro, apontam analistas como Aloísio Campelo, coordenador da FGV. "Há hoje mais incerteza na economia, com a possibilidade de elevação dos juros, por causa da inflação em alta, e da possibilidade que o novo governo faça um ajuste fiscal mais forte."

Para ele, a sondagem sugere a acomodação da indústria a um ritmo de expansão menos robusto. A queda considerável da utilização de capacidade em novembro, segundo Campelo, reflete uma produção mais fraca, ainda que também possa se dever à maturação de investimentos que ajudaram a aumentar a capacidade produtiva.

Em relatório, o Banco Fator diz que o recuo da capacidade instalada e do índice de expectativas - de 1,9% sobre outubro - "é sinal de menor crescimento e menor pressão sobre o fator de produção capital e, portanto, sobre a inflação de bens industriais".

A pesquisa da FGV mostrou também que cresceu o percentual das companhias que veem a situação dos negócios atuais como fraca. Essa fatia subiu de 7,2% em outubro para 13% em novembro, a maior desde os 18% de novembro de 2009. Campelo destaca que arrefeceu o ímpeto das empresas de fazer novas contratações nos próximos três meses. Em outubro, 32,7% das empresas planejavam aumentar o número de empregados, percentual que recuou para 28,6% em novembro, o percentual mais baixo desde janeiro de 2010.

Os empresários também se revelaram menos otimistas em relação ao ambiente de negócios nos próximos seis meses. Das 1.192 empresas ouvidas, 51,7% projetam melhora dos negócios para o período, bem abaixo dos 59,7% do mês anterior e o menor desde os 49,7% de setembro de 2009. Campelo aponta a queda expressiva do nível de demanda interna como um dos pontos que ajudam a explicar a piora da percepção dos empresários. O indicador caiu de 120 pontos em outubro para 117 pontos em novembro, o mais baixo em um ano. O principal motivo é que a fatia de empresas que vê a demanda interna como forte recuou de 30,1% para 23,5%.

O economista chama a atenção para o mau desempenho do setor de metalurgia, que vem perdendo espaço para produtos importados no mercado interno. "O índice do nível de demanda interna do segmento despencou, caindo de 148,4 pontos em junho para 93,5% no mês passado", ressalta ele.

Com esses números da sondagem, fica em xeque a recuperação da indústria apontada em outubro pelo INA, da Fiesp. O indicador subiu 0,5% sobre setembro, quando havia recuado 0,4% em relação ao mês anterior. Nos últimos 12 meses, houve expansão de 10,8%. A expectativa dos analistas é que a produção industrial de outubro, a ser divulgada amanhã, registre alta na casa de 0,5% a 0,7%.

Já o Sensor Fiesp, que mede as perspectivas dos empresários para alguns setores, revelou uma situação mais próxima à registrada pela sondagem da FGV. A pesquisa teve em novembro o pior resultado desde junho de 2009. "O Sensor indica as preocupações das empresas com o cenário futuro. Não temos uma resposta para isso, mas creio que o alerta tem a ver com o aumento das importações. A demanda não está sendo atendida apenas pelo mercado interno", diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp.

O economista Bernardo Wjuniski, da Tendências Consultoria, diz ser precipitado concluir que a produção industrial irá mal em novembro, porque os números da FGV desenharam um quadro pouco animador. Segundo ele, nem sempre esses indicadores andam juntos. Para Wjuniski, a sondagem é importante como um sinalizador da tendência da indústria, que aponta para expansão moderada. (Colaborou Fernando Taquari)