Título: Paulo Bernardo deve assumir o Ministério das Comunicações
Autor: Romero, Cristiano ; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 30/11/2010, Politica, p. A10

Paulo Bernardo, atual ministro do Planejamento, comandará, a partir de janeiro, o Ministério das Comunicações. O convite foi feito a Bernardo na semana passada, mas o anúncio oficial só será feito nas próximas duas semanas, quando for definida a participação, no novo governo, dos partidos que apoiam a presidente eleita, Dilma Rousseff.

O ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, do PT, deverá assumir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Assim como no caso de Paulo Bernardo, o anúncio será feito mais adiante, para evitar problemas nas negociações com as legendas aliadas, especialmente o PMDB, que ambiciona ter pelo menos quatro ministérios sob seu comando.

A presidente eleita formalizará, na sexta-feira, convite para que o atual ministro da Defesa, Nelson Jobim, permaneça no cargo. Um primeiro contato já foi feito, por telefone, na semana passada, mas o convite oficial só ocorrerá no encontro de sexta-feira, quando Jobim retornará de viagem ao exterior. Embora seja filiado ao PMDB, ele será ministro da cota pessoal da presidente eleita.

Dilma também já conversou com o deputado José Eduardo Cardozo (PT), um dos coordenadores de sua campanha. No encontro, ela disse que gostaria de tê-lo na equipe de governo. Não confirmou ainda a vaga, mas a grande aposta, na equipe de transição, é que Cardozo seja o titular do Ministério da Justiça.

Ontem, a presidente eleita conversou, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde a equipe de transição está trabalhando, com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). O principal tema do encontro foi a guerra ao tráfico de drogas promovida pelo governo fluminense nos últimos dias.

Amanhã, Dilma reunirá durante seminário, no CCBB, especialistas em saúde, entre eles, o ex-ministro Adib Jatene. A ideia é ter um diagnóstico do setor e colher sugestões para a gestão do Ministério da Saúde. Somente depois disso, a presidente eleita começará a discutir nomes para essa área.

"Ela está guardando os nomes para esse ministério a sete chaves", conta um aliado da presidente eleita. Dilma também fez um seminário, há duas semanas, para debater a questão da pobreza no país - para o Ministério do Desenvolvimento Social, ela deve manter Márcia Lopes, atual ministra, que assumiu o cargo em abril deste ano, em substituição a Patrus Ananias.

Até sexta-feira, a presidente eleita deve anunciar a escolha do deputado Antonio Palocci (PT) para a Casa Civil e de Gilberto Carvalho, atual chefe do gabinete pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para a Secretaria-Geral da Presidência da República. Alexandre Padilha, atual ministro encarregado da Secretaria de Relações Institucionais, deve ser mantido e anunciado também esta semana.

Antes de ser confirmado para as Comunicações, o ministro Paulo Bernardo esteve também cotado para assumir o Ministério da Previdência Social ou algum cargo com status de ministro dentro do Palácio do Planalto. Nome da estrita confiança de Dilma, Bernardo é considerado um "coringa" da futura equipe ministerial.

Além de comandar um ministério importante, Bernardo, que é ministro do Planejamento desde março de 2005, integrará o núcleo político do novo governo, ao lado de nomes como Antonio Palocci, Michel Temer (eleito vice-presidente), Alexandre Padilha e Gilberto Carvalho, além do ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Não podia ser melhor. Paulo Bernardo é um ministro crucial. Vai para um ministério que precisa ser refundado. É um quadro do núcleo do governo", elogiou ontem um ministro do governo Lula.

Dilma planeja fortalecer o Ministério das Comunicações, que continuamente perdeu importância, a partir de 1998, por causa da privatização do Sistema Telebrás. Na reta final da gestão Lula, ganhou relevância com o lançamento do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e a recriação da Telebrás, mas sua estrutura permanece acanhada para os objetivos que Dilma pretende atingir em seu mandato.

Além de tocar o PNBL, cuja meta é levar internet de alta velocidade à maioria dos municípios brasileiros até 2014, Bernardo terá como desafios a reestruturação da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) e a discussão sobre a adoção de um marco regulatório para o setor de radiodifusão. "Bernardo está talhado para a função. Tem experiência, é um gestor duro e, ao mesmo tempo, sabe compor quando possível", comentou um aliado da presidente eleita.

As discussões sobre mudanças na estrutura de governo vêm sendo lideradas pela própria presidente eleita. É dela a ideia de tirar do Ministério da Defesa a Secretaria Nacional de Aviação Civil e transferi-la para um novo ministério, que ficaria encarregado também de gerir os portos federais. "São mudanças pontuais de quem sabe onde estão as ineficiências da atual estrutura de governo", observou um interlocutor de Dilma.

Uma outra mudança que vem sendo avaliada é a transferência, para o Ministério da Justiça, da Secretaria Nacional Antidrogas, hoje vinculada ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República. A secretaria saiu da Justiça ainda no primeiro mandato do governo Fernando Henrique Cardoso por causa do perfil do então ministro-chefe do GSI - o general Alberto Cardoso.

A presidente eleita pretende também "desidratar", nas palavras de um aliado, a Casa Civil, que no governo Lula centralizou inúmeras ações de governo. Além do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que a partir de janeiro ficará a cargo do Ministério do Planejamento, o Minha Casa, Minha Vida deverá será transferido para o Ministério das Cidades. Com isso, o futuro ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, poderá se dedicar mais a atividades políticas do Palácio do Planalto.

Segundo um aliado de Dilma, continuarão vinculados à Casa Civil, no entanto, a Secretaria de Assuntos Governamentais, que reúne todos os projetos em andamento no governo; a Secretaria de Assuntos Jurídicos, que atesta a constitucionalidade dos projetos e iniciativas legais; e a Secretaria de Assuntos Administrativos, a grande "prefeitura" do Palácio do Planalto. O contato com governos estaduais e prefeituras continuará sendo feito pela Secretaria de Relações Institucionais.