Título: Saldo da balança comercial brasileira em novembro é o menor do ano
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2010, Brasil, p. A6

As importações brasileiras cresceram mais que o esperado pelo governo e baixaram o saldo do comércio exterior do país no mês de novembro para apenas US$ 312 milhões, o menor do ano. Embora em termos absolutos o maior aumento nas compras tenha sido de matérias-primas e máquinas e equipamentos industriais, provocado pelo vigor da produção doméstica, o maior salto, em termos proporcionais, ocorreu nas importações de combustíveis (76%) e nas de bens de consumo durável, como automóveis, eletrodomésticos e móveis, que aumentaram em média 53% em relação a novembro do ano passado.

As vendas externas também cresceram, a ponto de levarem o Ministério do Desenvolvimento a aumentar pela quarta vez a previsão de resultado para exportações em 2010, de US$ 190 bilhões para US$ 198 bilhões. Mas esse resultado se deve principalmente às vendas de produtos básicos, como minério de ferro, milho, carnes e soja.

O aumento nas vendas de manufaturados, em novembro, se deveu a poucos setores: o automotivo, as siderúrgicas e os aviões da Embraer. Os produtores de manufaturados, como celulares, óleos combustíveis, geradores, conservas alimentícias, sucos, brinquedos, papéis e cartões, tiveram quedas nas vendas, em novembro, acima de 70% em alguns setores.

As exportações cresceram quase 40% em novembro em comparação com o mesmo mês do ano passado, mas as importações tiveram crescimento superior a 44%. "É histórica a tendência de aumento nas importações em novembro, o mercado está aquecido e realmente aumentou a demanda por bens importados", comentou o diretor de Planejamento da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), Roberto Dantas. "Em termos relativos, o aumento da importação de bens duráveis foi maior, mas é importante assinalar que continua o ritmo de compra de matérias-primas e bens de capital, que aumentam a produção doméstica."

Em termos absolutos, o que mais pesou entre as importações foram as compras de matérias-primas, com aumento de quase US$ 2,3 bilhões entre janeiro e novembro deste ano, em comparação com o mesmo período do ano anterior. As compras de bens de capital e de combustíveis e lubrificantes (esses devido ao aumento de preços e à entrada em funcionamento de usinas a carvão e gás) cresceram US$ 1,1 bilhão cada. E, embora proporcionalmente maior, o crescimento das compras de bens de consumo ficou em US$ 900 bilhões, aproximadamente.

Para Dantas, as compras no exterior têm complementado a produção doméstica, que está utilizando quase 90% da capacidade de produção no país. Os números divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento mostram que é grande, porém, a penetração dos importados em setores sensíveis, como o de móveis (80% de aumento em novembro comparado a novembro de 2009), de máquinas e aparelhos de uso domestico (70%), de automóveis (50%) e de objetos de adorno, uso pessoal e outros (42%).

A previsão de exportações de US$ 198 bilhões significa a volta dos níveis de vendas externas anterior à crise que estourou em 2008. A recuperação das exportações em novembro levou a um resultado recorde para o mês, ainda que insuficiente para deter a queda do superávit nas contas comerciais do país, que ficou em quase US$ 15 bilhões nos primeiros 11 meses do ano, 35% abaixo do resultado no mesmo período de 2009.

Baseado nesses dados, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) divulgou ontem avaliação de que já é provável um déficit nas contas de comércio do país no futuro próximo. Os dados dessazonalizados do Iedi mostram que a média diária das importações cresceu mais de 9% em novembro em relação a outubro, e a média das exportações, menos de 4%. O Iedi atribui o forte ritmo das importações em primeiro lugar à taxa de câmbio desfavorável aos produtores brasileiros, em segundo, à forte demanda interna e, em terceiro, à queda nos preços dos fornecedores estrangeiros, interessados em conquistar mercados para compensar o desaquecimento nas vendas em vários países.

O minério de ferro, mais uma vez, foi a estrela nas exportações brasileiras, com crescimento nas vendas - especialmente aos paises asiáticos - de pouco menos de US$ 1,2 bilhão, ou 176% em novembro, em relação ao mesmo mês de 2010. Entre os manufaturados, o melhor desempenho foi na venda de aviões, com crescimento de quase US$ 200 milhões, 91,9% a mais que em novembro de 2009. A Embraer registrou uma preferência por aeronaves de maior porte, que encontraram mercados diversificados, com vendas, principalmente para o Reino Unido, Argentina e Emirados Árabes.