Título: Com UPA, Côrtes virou homem de confiança de Cabral
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2010, Politica, p. A12

Indicado pelo governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), um forte aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o médico e secretário estadual de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes, não é filiado a partido político e até pouco tempo era um cirurgião ortopedista do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into). Côrtes começou a trabalhar na emergência de um grande hospital do setor público, onde fez carreira.

Já foi ameaçado de morte ao dar fim a máfias de fornecedores quando dirigiu o Into e acabou alvo de denúncias que envolvem desde contratos sem licitação a pagamentos superfaturados na secretaria de Saúde. O secretário de Saúde de Cabral chegou a diretor do Into em 2002. Três anos depois, coordenou a intervenção federal em hospitais municipais do Rio na gestão do petista Humberto Costa no Ministério da Saúde, sob indicação dos irmãos Tião e Jorge Viana, do PT do Acre e tios de sua mulher, Verônica Viana. Na época, Côrtes travou embates com o então prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), um rival de Cabral na política do Rio.

Na primeira campanha de Cabral, em 2006, Côrtes sugeriu a criação das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), hoje uma das principais vitrines do governo estadual. Convidado para a Secretaria de Saúde, tornou-se rapidamente homem de confiança de Cabral. A ideia da UPA foi incorporada na campanha do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), e virou projeto do Ministério da Saúde, sob o comando de José Gomes Temporão.

A indicação de Côrtes desagradou parte dos profissionais da saúde pública. O secretário é visto como um nome com pouca estrutura técnica para tratar do Sistema Único de Saúde (SUS) em termos nacionais. "Ele é o homem da UPA", resume um político com origem na saúde pública. Outras resistências partem do PT. Alguns petistas gostariam de um ministro com experiência no gerenciamento das verbas do SUS. Políticos do PT e da base aliada têm defendido modificações na distribuição dos recursos do SUS. Além de mais recursos para a área, querem mais eficiência na gestão do sistema.

Côrtes chegou a sofrer um atentado em retaliação à revisão de contratos e à descoberta de desvio de cerca de R$ 100 milhões no Into. Hoje, é criticado pelo excesso de terceirizações. Um dos contratos, de manutenção de ambulâncias, é investigado por superfaturamento de R$ 2,6 milhões. A denúncia envolve César Romero Viana Júnior, ex-subsecretário de Côrtes e primo de sua mulher. Côrtes é investigado por crime de peculato na direção do Into.