Título: PMDB diverge sobre Agricultura
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2010, Politica, p. A12

A bancada do PMDB na Câmara está dividida em relação à indicação do ministro da Agricultura no governo da presidente eleita Dilma Rousseff. Parte da legenda defende a nomeação do deputado Mendes Ribeiro (RS) e outra parcela apoia o atual titular Wagner Rossi (SP).

Em reunião reservada, ontem, a bancada de deputados saudou Mendes Ribeiro (RS) como futuro ministro. Por diversas vezes, seu nome foi bradado em alto volume quando os deputados reclamavam da falta de liberação de emendas e reivindicavam canal direto com o nome indicado pela bancada.

Em seu favor, Wagner Rossi tem o vínculo com um padrinho forte, o vice-presidente eleito e comandante da sigla, deputado Michel Temer (SP). Mas Mendes Ribeiro, além de atender aos gaúchos, ajudaria a tirar o deputado Eliseu Padilha (RS) da condição de suplente, garantindo-lhe um quarto mandato na Câmara.

Mas ambos, Rossi e Ribeiro, ainda podem ser preteridos na Agricultura como solução para acomodar o ex-governador Moreira Franco (RJ) em outro ministério de maior visibilidade. A chamada "camarilha dos quatro", composta por Padilha, Temer, o líder Henrique Alves (RN), Moreira Franco, trabalha para ajudar seus fiéis integrantes.

Na reunião da bancada, os deputados elogiaram a gestão de Wagner Rossi na Agricultura e defenderam sua permanência no cargo. "Nossa diferença é que os ministros dos outros partidos são ministros deles e os do nosso partido não são ministros nossos. Talvez seja por isso que diminuímos nosso tamanho no Congresso. Não tivemos respaldo e apoio dos nossos ministros", afirmou Marcelo Castro (PI), em algum momento das negociações foi cotado para o Ministério da Integração Nacional.

Presente apenas no início do encontro, Michel Temer defendeu a unidade do partido durante a próxima legislatura: "Quando houver uma decisão partidária, que os não vitoriosos sigam a decisão dos vitoriosos. Só assim seremos um partido forte e respeitado". Ele disse que, quando assumir a Vice-Presidência, o PMDB não terá as portas abertas: "Ele simplesmente não terá portas".

O líder Henrique Alves afirmou que os deputados vão "se surpreender" com um novo ministério "da bancada". "Posso assegurar que, além da Agricultura, teremos outro ministério de primeiríssima linha anunciado até sexta-feira ou, no máximo, até segunda. Podem confiar. Será o melhor ministério", disse Alves, que recebeu moção de apoio de 54 deputados para disputar a presidência da Câmara.

Antes da reunião, Henrique Alves havia defendido, na presença de Padilha e de Temer, a manutenção dos dois ministérios da bancada (Agricultura e Integração Nacional), concedidos no início do segundo mandato de Lula.

A reunião também serviu para que os deputados pedissem a Henrique Alves que passasse a liderar as negociações com a equipe de transição, como forma de "poupar" Michel Temer de eventuais desgastes. "Devemos deixar Temer de lado, preservá-lo. Ele agora já faz parte do poder. E pode vir a assumir a cadeira. O Sarney não assumiu?", disse o senador Almeida Lima (SE), eleito deputado federal. A ideia também foi defendida pelo deputado Antonio Andrade (MG): "Disse ao Temer que ele é o presidente a qualquer momento, então deveria indicar pessoas para ter certo conforto. O sucesso do PMDB está na sua figura".

No encontro, as principais reclamações foram a demora na liberação de emendas e a falta de identificação dos ministros do PMDB com a base parlamentar. O líder Henrique Alves foi um dos mais enfáticos: "Asseguro que os nomes da bancada terão que ter aprovação e consenso dos parlamentares. Terão que vir aqui, sentar nessa mesa, ouvir e falar", disse. "Estou cansado da arrogância e prepotência de ministros do partido que não nos ouvem. Se quiser ter nosso apoio, tem que vir aqui dizer como vai ser", afirmou o líder.

Henrique Alves afirmou, ainda, que todas as queixas sobre as emendas serão feitas ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, com cópia para ele. "É preciso que sejamos bem representados. Percorri dois ministérios na semana passada e a informação que me foi passada é que dificilmente haverá novos empenhos neste ano porque o governo está apurando a Lei de Responsabilidade Fiscal para a saída de Lula do cargo", disse Lelo Coimbra (ES).