Título: Cautelosa, Telefônica avança em banda larga, mas freia vídeo
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2010, Empresas, p. B3
Telefonia: Operadora conquista 501 mil novos clientes de internet, porém perde 20 mil assinantes de televisão
Antonio Carlos Valente, da Telefônica: após problemas com rede em 2009, tele simplifica serviços e adota cautelaPassados 12 meses desde a dissolução do gabinete de crise que montou para resolver as panes em sua rede de internet, a Telefônica celebra o melhor ano de sua história para as vendas de banda larga. O desafio da operadora, agora, é retomar o crescimento dos serviços de TV por assinatura, segmento em que perdeu 20 mil clientes nos últimos nove meses.
No fim do terceiro trimestre, a operadora somava 466 mil assinantes de televisão paga, ante 486 mil no encerramento do exercício anterior. A receita acumulada por essa atividade entre janeiro e setembro, de R$ 358 milhões, caiu 2,8% na comparação com igual período de 2009.
A Telefônica atua no mercado de televisão por meio de três tecnologias: DTH (satélite), MMDS (micro-ondas) e cabo (em parceria com a Abril, acionista da TVA). A operadora entrou nesse segmento em 2006, com o objetivo de poder oferecer a seus clientes pacotes "três em um", que combinam telefonia, banda larga e vídeo.
O presidente da Telefônica no Brasil, Antonio Carlos Valente, afirma que a desaceleração da tele é proposital. "A TV por assinatura tem particularidades. É um setor que está em efervescência em termos de tecnologia e de regulamentação", afirma o executivo. "Ao ver esse panorama, decidimos ir com prudência."
Segundo Valente, há muitas novidades no mercado de televisão - inclusive em tecnologias já testadas pelo grupo na Espanha, como é o caso da transmissão de vídeos sobre protocolo de internet (IPTV). No campo regulatório, está em debate no Senado um projeto de lei que define novas regras para o setor de TV paga - entre elas, deve permitir que o controle de operadoras de televisão a cabo por grupos estrangeiros.
"Estamos trabalhando na qualidade da rede de TV, por isso reduzimos o ritmo", afirma Mariano De Beer, diretor-geral da Telesp, empresa de telefonia fixa, banda larga e TV do grupo espanhol no Brasil.
Valente e De Beer concederam entrevista exclusiva ao Valor.
Depois de enfrentar uma série de problemas em sua rede nos anos de 2008 e 2009, a Telefônica adotou uma estratégia de "gato escaldado" em seus serviços. Em outras palavras, isso significa agir com cautela para evitar problemas como os que levaram a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) a proibir temporariamente a venda de acessos de banda larga, no ano passado.
No caso da televisão paga, a companhia tirou o pé do acelerador para dominar melhor os processos, afirma De Beer. Só agora a operadora está voltando à carga, com uma plano que oferece conexão de banda larga de 1 megabit por segundo (Mbps) a R$ 29,90 para quem assinar também um pacote de TV e uma linha fixa.
Neste ano, boa parte dos esforços da Telefônica foi dedicada a reconquistar a credibilidade e os assinantes perdidos no segmento de banda larga. A operadora fez os investimentos em infraestrutura que foram exigidos pela Anatel, simplificou as ofertas e melhorou o acompanhamento dos clientes no pós-vendas.
Deu certo. Entre janeiro e setembro, a Telefônica conquistou 501 mil assinantes (novos clientes menos cancelamentos) de internet rápida - o que já coloca 2010 como o melhor ano de vendas de banda larga para a companhia. Com isso, a operadora chegou a um total de 3,1 milhões de acessos de internet. O resultado também supera as adições líquidas de linhas banda larga feitas pela Oi (113 mil) e pela Net (447 mil) nos nove primeiros meses do ano.
Para isso, a Telefônica atacou em duas frentes. De um lado, a operadora lançou mão de um exército de mil vendedores porta a porta, com foco nas classes C e D e nos municípios do interior paulista. "Esses segmentos passaram a ter uma preponderância razoável nas vendas de banda larga", afirma Valente.
Em outro flanco, a companhia está atacando os consumidores de maior valor aquisitivo com ofertas de banda larga de maior velocidade. No topo dessa estratégia, está a internet via fibra óptica. A tecnologia foi lançada pela Telefônica há dois anos e atualmente está disponível para 400 mil domicílios nos bairros nobres da capital paulista, de Campinas e de Santos.
A Telefônica deve passar de 8,5 mil para mais de 10 mil clientes de fibra óptica este ano, um número ainda pequeno. "Mas a partir do ano que vem vamos começar a alcançar cifras telefônicas, na casa das centenas de milhares de assinantes", afirma Valente. Em cinco anos, a Telefônica espera ter pelo menos 1 milhão de assinantes de internet em fibra óptica, acrescenta De Beer.