Título: A bolsa verde
Autor: Bellotto, Alessandra
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2010, Investimentos, p. D1

Quarenta e duas empresas aderiram, voluntariamente, ao Índice Carbono Eficiente (ICO2), lançado ontem pela BM&FBovespa em parceria com o BNDES. A iniciativa, nesse primeiro momento, tem como objetivo fomentar a adoção de práticas de gestão ambiental voltadas para mudanças climáticas. O próximo passo será promover o índice entre os investidores, por meio do lançamento de um fundo negociado em bolsa, conhecido como ETF (Exchange-Traded Fund), que vai replicar o ICO2.

Para participar da iniciativa, foram convidadas todas as companhias que integram o IBrX-50, composto pelas 50 ações mais negociadas na bolsa. Apenas seis delas ficaram de fora: CSN, Gerdau, Gerdau Metalúrgica, Petrobras, Usiminas e Vale. Outras nove empresas que tinham potencial de ingressar no IBrX-50 (Braskem, Copel, CPFL, Duratex, AES Eletropaulo, Klabin, Light, Ultra e Souza Cruz) aderiram ao processo, mas acabaram fora do ICO2 por não terem entrado no índice de referência.

O novo indicador levará em conta o peso de cada empresa no IBrX-50, ponderado pela eficiência em termos de emissões de gases de efeito estufa das empresas. Isso significa que as companhias mais eficientes, se comparadas à média de seu setor e à da carteira total, tendem a ganhar relevância no ICO2 em relação ao peso que detêm no IBrX-50. Para se ter ideia, o coeficiente de emissões do novo índice é cerca de 25% inferior ao coeficiente do IBrX-50, já descontadas as empresas que não aderirem à iniciativa. Quanto menor, maior a eficiência.

As empresas que estão no índice de carbono são aquelas que aceitaram abrir suas emissões de gases de efeito estufa, diretas e indiretas. "O índice é um marco zero na vida da empresa que pretende adotar uma política de gestão de emissões de gases de efeito estufa, seja por meio da redução ou da compensação", afirma o gerente de produtos ambientais da BM&FBovespa, Guilherme Fagundes.

Além disso, ao privilegiar a transparência, o índice naturalmente torna a empresa alvo da cobrança da sociedade, seja acionista, cliente, fornecedor, empregado. "Investidores e consumidores são os que fazem a roda girar", diz.

Na visão da gerente do departamento de operações de meio ambiente do BNDES, Priscila Camacho, a iniciativa, ao estimular o cálculo das emissões, está preparando as empresas para o ambiente competitivo da "economia de baixo carbono". "Emissão é custo", destaca Priscila. Os Estados Unidos, segundo ela, já sinalizaram que pretendem impor barreiras tarifárias a companhias poluidoras. Fagundes lembra ainda que nos setores de papel e madeira já há restrições quanto a produtos não certificados.

Do ponto de vista do investidor, empresas que consideram a variável meio ambiente em sua política de gestão do negócio representam menos risco de descontinuidade de suas atividades, afirma o diretor da Carbon Market Consulting, Rodrigo Franco.

Para essa primeira carteira, a bolsa optou por uma abordagem inclusiva, ou seja, as empresas não foram obrigadas a apresentar um inventário de emissões, apenas fornecer informações para que estimativas fossem feitas. O cálculo das emissões, assim como a harmonização dos dados fornecidos pelas companhias, foi feito pela consultoria global de pesquisa ambiental Trucost.

Para a carteira que irá vigorar a partir de setembro de 2011, as empresas terão de apresentar um inventário das emissões diretas e indiretas, essas geradas pelo consumo de energia elétrica. Em 2012, haverá ampliação das fontes contempladas que serão definidas a partir de estudo a ser realizado em 2011. A carteira será rebalanceada quadrimestralmente com base na participação das empresas no IBrX-50 e anualmente, no mês de setembro, com base no coeficiente de emissão.

A ideia foi inspirada em iniciativas do mercado internacional, conta Priscila, do BNDES. É o caso do índice S&P Carbon Efficient Index, lançado em 2009 pela Standard & Poor"s. A grande diferença, segundo ela, é que lá fora as empresas não são consultadas; a S&P escolhe as companhias menos poluentes levando em conta estimativas próprias.

O próximo passo, segundo Priscila, é dar liquidez e visibilidade ao índice. Para isso, o BNDES prepara uma oferta pública de cotas de um ETF que vai replicar o ICO2, nos mesmos moldes do Papéis do Índice Brasil Bovespa (PIBB). Até o fim do ano, o banco esperar anunciar o gestor do fundo para então contratar a instituição que vai liderar a operação.

A carteira do fundo será constituída por ações hoje detidas pela empresa de participações do BNDES, a BNDESPar, de modo a replicar o Índice Carbono Eficiente. A expectativa é de que a oferta vá a mercado ainda no primeiro semestre de 2011, mas tudo vai depender das condições de mercado. Priscila não revela o tamanho da oferta, mas diz que ela será bem significativa.

Como a metodologia do ICO2 não capta ações de compensação de emissões de gases de efeito estufa, a bolsa abriu um espaço específico no site Em Boa Companhia para as empresas participantes divulgarem seus inventários de emissões e outras ações de gestão de emissões.