Título: Para Macroplan, viés 'palociano' tem 65% de probabilidade
Autor: Junqueira, Caio ; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2010, Politica, p. A10

O ano de 2011, o primeiro do governo Dilma Rousseff, "não será monótono, nem tranquilo". A previsão é da consultoria Macroplan, especializada em cenários políticos e econômicos. Claudio Porto, economista e sócio presidente da consultoria, antevê para os próximos doze meses maior tensão econômica no plano internacional devido à guerra cambial e, no plano interno, pressão inflacionária aliada a maior tensão política derivada da disputa e acomodação dos espaços de poder na coalizão governista, sem a arbitragem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A principal incerteza em relação ao novo governo é qual será a política econômica dominante. A consultoria trabalha com dois cenários para a economia no período. O primeiro, com 65% de probabilidade tem viés "palociano" de política econômica mais ortodoxa com contenção fiscal e política monetária mais rígida para reprimir os preços, apesar da meta da presidente ser derrubar os juros. O PIB deve crescer até 4% , a inflação esperada fica no centro da meta (4,5%) e a Selic inicia o ano com taxa de 11,75%, podendo terminá-lo com 9,75%, dependendo do IPCA.

O segundo cenário, com 35% de probabilidade, é expansionista. A Macroplan antevê o predomínio da política desenvolvimentista ao estilo do ministro da Fazenda Guido Mantega, onde não faltará ousadia e uma aposta na sustentação do crescimento, como prevaleceu entre 2008 e 2010. Para o cenário expansionista a consultoria trabalha com PIB entre 5% e 6% no ano, uma Selic mantida em 10,75% e inflação entre 6% e 7%.

O primeiro sinal de como pode ser conduzida a política econômica de Dilma será dado na próxima reunião do Copom, que acontece entre 18 e 19 de janeiro, alerta Porto. "Manter a Selic nos atuais 10,75% já será considerado pelo mercado com uma certa frouxidão do governo dada a atual pressão inflacionária, indicando tolerância com uma inflação que pode chegar a 6% e 7% sem fazer muito barulho". Para o executivo, o aumento de apenas um ponto percentual no juro básico, que saltaria dos atuais 10,75% para 11,75% "seria o suficiente para o Copom indicar para o mercado que a nova administração está atenta a área monetária".

O economista acha que é grande a tentação da equipe econômica de tentar fazer um "blend", uma mistura de dois por um na dosagem da política econômica. Adotar uma política monetária mais rígida num primeiro momento, aumentando o juro em janeiro e depois, dependendo da trajetória da inflação, ir derrubando a Selic. "Nesse ambiente, não seria impossível a Selic ir declinando gradualmente e chegar ao final do ano com taxas entre 9,75% a 9,5%".

Porto faz questão de destacar que um cenário mais ortodoxo num governo Dilma certamente teria dosagens de política fiscal e monetária mais softs que as do período 2003 e 2004, quando Palocci tocava a economia e a incerteza dos mercados era enorme sobre o que Lula ia fazer. "Hoje esta incerteza é muito menor, o governo tem margens de manobra muito maiores para evitar crises. O Banco Central está sentado em reservas de quase US$ 300 bilhões, a inflação ainda é de um dígito, a taxa de cambio é muito valorizada. Quando Lula entrou o dólar chegou a valer quase R$ 4. Hoje as condições para abrir a economia para um cenário mais expansionista dependem apenas de "um choque de gestão".

Dadas as tensões políticas que o novo governo pode enfrentar nesse primeiro ano, adotar logo um cenário desenvolvimentista pode ser visto como o melhor caminho, diz o presidente da Macroplan. "O cenário palociano tem um custo político maior , pois vai gerir restrições. O ajuste vai exigir menor gasto público, corte de custeio, salário mínimo mais fraco. O que impacta não só as contas do governo federal, mas as de estados e municípios. No caso dos municípios, 2011 pega justamente o segundo período de mandato dos prefeitos, quando eles executam a maior parte dos seus orçamentos. "Tem uma pressão potencial de gastos aí muito forte", diz Porto.

Por tais razões, o consultor acredita que o ano que vem será tenso. Não só por conta das acomodações políticas, mas porque Dilma tem um perfil mais gerencial e racionalidade economica mas não tem o poder de arbitragem do Lula. "Ela tem poder, de fato, mas o Lula é um ponto fora da curva, é forçoso reconhecer".