Título: Mercado resiste e mantém alta da Selic
Autor: Cotias , Adriana
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2010, Financas, p. C5

As medidas adotadas pelo Banco Central não alteraram, pelo menos no curto prazo, as apostas sobre o rumo da política monetária. Analistas mantém a projeção majoritária de que o Comitê de Política Monetária (Copom) elevará a taxa Selic em janeiro. Com a ação junto ao crédito anunciada na sexta-feira, entendem os analistas, o Banco Central pode até "ganhar tempo" para retomar o ciclo de aperto monetário. Mas não muito. Essa é a visão predominante entre bancos, corretoras e consultorias que não alteraram as projeções para a taxa Selic em dezembro de 2010 e dezembro de 2011. O Bradesco, uma das poucas instituições que já esperavam a manutenção da Selic em 10,75% até dezembro de 2011, não alterou sua avaliação, após o anúncio do BC. Octavio de Barros, diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas do banco, mantém as projeções, mas reafirma que elas contemplam a possibilidade de o resultado fiscal ser "surpreendentemente positivo", além das medidas macroprudenciais já anunciadas na sexta-feira.

O Itaú Unibanco também sustenta suas projeções em 10,75% para dezembro de 2010 e 12,75% ao final de 2011. "Parece mais provável que o BC mantenha o seu procedimento de comunicação formal: sinalizar alta agora, subir em janeiro. Mantemos nossa visão de que as altas de juros vão começar em janeiro com 0,50 ponto percentual. É razoável que, em função das medidas, o aperto total possa ser menor do que o previsto em nosso cenário atual, de 2 pontos percentuais", afirma o banco.

O Santander segue firme com a expectativa de manutenção da Selic em 10,75% neste mês, alcançando 13% em dezembro de 2011. "Não acreditamos que as medidas anunciadas pelo BC são substitutas perfeitas de política monetária. Persiste a necessidade de aperto monetário frente às expectativas de inflação", diz a economista Tatiana Pinheiro, para quem "a conta da expansão monetária e fiscal chegou. E é salgada".

Na mesma linha, José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, mantém a projeção de alta da Selic em 0,50 ponto em janeiro, e avisa que cabe esperar com calma os desdobramentos. "Difícil discordar das medidas adotadas nesta sexta-feira. E é pretensioso afirmar que os compulsórios não são um instrumento adequado para a política monetária", afirma. Ele observa que o BC atribui o uso dessa instrumento à prudência. "Só que prudência tem custo. E contrai o crédito. De modo mais rápido do que um ciclo de alta na Selic, certamente. O que não implica que substitua um ciclo de alta na Selic", diz o economista. A dúvida agora, diz Lima Gonçalvez, é qual será: o tamanho do estrago causado pelos choques de preços de alimentos e alguns administrados nas próximas semanas e o cronograma de anúncios de uma política fiscal como a anunciada pelo ministro Mantega.

O BNP Paribas mantém suas projeções em 10,75% para o final deste ano e 12,75% para dezembro de 2011, mas o início do ciclo de alta que era esperado para abril foi antecipado para janeiro. "As medidas anunciadas como macroprudenciais têm impacto monetário, mas podem ser vistas como complementares e não substitutas de aumento da Selic", afirma Marcelo Carvalho, economista-chefe para a América Latina.

André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, que esperava alta da Selic em 0,25 ponto na semana que vem, com a taxa avançando a 11% ao ano, mantém a projeção. "Alterar agora a projeção seria casuístico da nossa parte e acreditamos

que nosso call é balizado em fortes premissas econômicas", afirma o economista em relatório. Ele lembra que o presidente do BC, Henrique Meirelles, apontou em sua entrevista na sexta-feira cedo que a alta dos compulsórios não substitui o instrumento de política monetária por excelência --a taxa Selic. "Levando em conta todas as questões que envolvem a reunião do Copom na semana que vem, fica no ar certa inquietação quanto as medidas agora anunciadas. Nos parece que esta medida tem o objetivo primário não a resolução de eventuais bolhas de crédito -como explicado pelo presidente do BC-, mas antes de tudo sinalizar ao mercado que o BC não irá subir os juros no próximo Copom."

O Royal Bank of Scotland Group também projetava elevação da Selic na semana que vem, mas em 0,50 ponto percentual. Zeina Latif, economista-señior da instituição no Brasil, reconhece que sua convicção a respeito desse próximo ajuste diminuiu, mas ela não vê mudanças no cenário. "O aumento de juros agora continua sendo [a decisão] mais apropriada. Antes do anúncio das medidas, e agora depois do anúncio, não vejo necessidade de uma elevação expressiva do juro básico, mas os riscos inflacionários estão aí.

Já Marcelo Salomon, economista-chefe do Barclays Capital, está revisando cenário de política monetária e agora espera que o BC inicie a elevação dos juros no primeiro trimestre do próximo ano, com um novo ciclo de três altas consecutivas de 50 pontos bases, levando a Selic de 10,75% para 12,25% ao ano. Para ele, a elevação será na segunda reunião do ano, em março, mas se tanto a inflação observada quanto as expectativas de inflação continuarem a subir, aumenta a probabilidade de mudança em janeiro. "Embora as medidas sejam apresentadas em um cenário macroprudencial, na nossa visão, elas essencialmente representam o início da segunda etapa do ciclo de aperto monetário", explica.

Para o economista do banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, a elevação do compulsório reforça a tendência de o BC seguir o "ritual" de comunicação com o mercado, primeiro "preparando terreno" na ata da reunião de dezembro e no Relatório de inflação do 4º trimestre, para só então aumentar os juros na reunião de janeiro de 2011. Para ele, o ciclo de alta de dois pontos percentuais já precificado pelo mercado futuro de juros deve passar a ser teto, com maior probabilidade de a Selic fechar 2011 em 12,25% ao ano.