Título: Eduardo Braga deve ir para a Previdência
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2010, Política, p. A12
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, reuniu-se ontem por mais de três horas com a presidente eleita, Dilma Rousseff, na Granja do Torto, em Brasília. Segundo apurou o Valor, ele permanece no cargo no governo Dilma. Ontem, também, o PMDB conseguiu definir preferência pelo nome de Eduardo Braga (AM) para ministro da Previdência, acabando com a disputa que vinha travando com Garibaldi Alves (RN). Na avaliação de integrantes da transição e do atual governo, Jobim conseguiu dar respeitabilidade e visibilidade a uma Pasta delicada, ganhando o respeito dos comandantes das três Forças.
A permanência de Jobim não resolve a inquietação do PMDB, pois ele está incluído na cota pessoal da presidente eleita. O partido espera que Dilma Rousseff anuncie, até o fim desta semana, o nome dos demais integrantes do partido que vão compor o futuro ministério.
Dois deles já estão confirmados: Edison Lobão, indicação dos senadores para o Ministério de Minas e Energia; e Wagner Rossi, apoiado pelos deputados para permanecer no Ministério da Agricultura. O segundo indicado pelo senadores do PMDB, definido também ontem, é Eduardo Braga, ex-governador do Amazonas e eleito senador, cujo nome ganhou força no fim de semana, desbancando Garibaldi. O destino será o Ministério da Previdência, Pasta que, a contragosto, o partido deve aceitar. Integrantes do partido temem que Dilma resolva fazer mudanças na Previdência - possivelmente ligadas ao funcionalismo público - medida que sempre gera desgaste junto ao eleitorado. "[O presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] era mais político, não teve coragem de fazer nada. Dilma é diferente, é técnica", avaliou um interlocutor da legenda.
Já os deputados não conseguiram chegar a um consenso e elaboraram uma lista com seis nomes para que a equipe de transição escolha quem será ministro. A bancada sugeriu os nomes de Mendes Ribeiro (RS); Leonardo Quintão (MG); Fátima Pelaes (AP); Marcelo Castro (PI); Pedro Novais (MA) e Almeida Lima (SE). A Pasta destinada a um deles será o Turismo. A meta inicial era o Ministério das Cidades, ocupado hoje pelo PP, mas o partido foi obrigado a abrir mão. Contentou-se na expectativa de comandar uma Pasta que recebe um número elevado de emendas parlamentares e que terá visibilidade com a Copa 2014 e as Olimpíadas de 2016.
O PMDB continua reclamando que Dilma e a equipe de transição não estão levando em conta o tamanho do partido na hora de definir os espaços no futuro ministério. A demora na definição está gerando crises internas na legenda. Já existem avaliações de que o vice-presidente eleito e presidente do PMDB, Michel Temer (SP), está sem forças políticas para reivindicar posições estratégicas no futuro governo. E que, quanto mais tempo essa situação perdurar, maior se tornará esse desgaste.
Além disso, alguns setores pemedebistas reclamam que Temer age como "colega de escola" ao buscar espaços para amigos e aliados, como o ex-governador Moreira Franco, o atual ministro Wagner Rossi, e o deputado Mendes Ribeiro. A efetivação de Mendes Ribeiro, por exemplo, abriria uma vaga de deputado para Eliseu Padilha, primeiro suplente no Rio Grande do Sul e aliado histórico do vice-presidente eleito. O Rio Grande do Sul não tem ministro indicado ainda para o governo Dilma.
A situação de Moreira Franco é mais específica. Ele integrou a coordenação de campanha de Dilma e foi o responsável pela elaboração do programa de governo do PMDB. A intenção era acomodá-lo no Ministério das Cidades, mas a manobra não deu certo. A equipe de transição ofereceu a ele a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Pasta considerada com "pouca musculatura política". A rigor, a SAE ficou sem função. Até o momento, não foram apresentadas novas alternativas.
Não é apenas esse o problema de Moreira. Ele também sofre com a rejeição do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho. E esse sentimento é compartilhado por outros integrantes do partido. "Se alguém tem força no PMDB do Rio é o Cabral, que reelegeu-se governador, venceu a eleição para a Prefeitura do Rio e está se destacando como Executivo no combate à criminalidade", destacou um interlocutor do partido.
Mas a força política de Cabral não foi suficiente para fazer com que ele emplacasse o ministro da Saúde. O anúncio antes da hora de Sérgio Côrtes afastou as chances do secretário de Saúde fluminense de assumir o cargo. Dilma ainda está avaliando outras opções.
Alexandre Padilha, que foi cotado para a Saúde em um período da transição, deveria ter sido anunciado como ministro palaciano na semana passada, junto com o secretário-geral Gilberto Carvalho e o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. Com o impasse em torno da Saúde, Dilma preferiu deixar a definição da Secretaria de Relações Institucionais para um momento posterior. Não há previsão sobre se essa vaga vai se resolver nesta semana. "O anúncio dos ministros do PMDB não tem qualquer relação com o futuro titular da Saúde", avisou um ministro do atual governo.