Título: A caminho do paraíso
Autor: Braga, Gustavo Henrique; Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 23/07/2010, Economia, p. 9

Criação recorde de vagas derruba taxa de desemprego para 7% em junho, menor patamar para o mês desde 2002

O desemprego no Brasil chegou ao menor patamar para um mês de junho desde 2002.

De toda a população disposta a trabalhar, apenas 7% não estão ocupados. Com a forte expansão econômica no primeiro semestre do ano e o crescimento disseminado por todos os segmentos, o setor produtivo está demandando fortemente por mão de obra. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rol dos que mais incrementaram a folha de pagamento é encabeçado pela construção civil, que avançou 7,5% em quantidade de empregados nos últimos 12 meses. Na esteira desses bons números, seguem serviços e comércio (5,8%) e indústria (5,7%).

De acordo com Adriana Birigui, técnica da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), além do recorde para meses de junho, o resultado é o melhor para a primeira metade do ano desde 2003. A pesquisadora destaca o bom desempenho da indústria, com 196 mil postos a mais em comparação ao sexto mês do ano passado. O crescimento pode ser interpretado como um sinal de que o setor se recuperou dos efeitos da crise econômica, ponderou Adriana. No semestre, a taxa de desocupação média ficou em 7,3%. Em igual período do ano passado, o índice havia registrado 8,6%.

Em valores absolutos, o setor de serviços continua como o principal gerador de empregos, com incremento de 212 mil postos em 12 meses. Um cálculo do Banco Fator, com base na pesquisa do IBGE, aponta que a taxa de desemprego, sem considerar interferências atípicas como a Copa do Mundo, atingiu 6,96% em junho. O dado do desemprego de junho surpreendeu para baixo, devido a uma queda maior na população em busca de trabalho, destacou o economista chefe do Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Revés doméstico O único setor que seguiu contra a maré de contratações foi o de serviços domésticos. Em 12 meses, foram menos 37 mil empregos. O restante do mercado de trabalho vem de uma sequência de boas notícias. Entre maio e junho, houve queda de 6,6% na quantidade de pessoas que procuravam emprego. A população ocupada, na outra ponta, manteve-se estável em 21,9 milhões de pessoas. Na avaliação segmentada das regiões metropolitanas, o destaque fica com Porto Alegre, única cidade a registrar uma taxa de desocupação inferior a 5%. Belo Horizonte tem o que comemorar, com uma taxa de 5,1%. O pior desempenho é observado em Salvador, onde a proporção de desempregados é mais que o dobro da capital gaúcha: 12%.

O coordenador do Centro de Estudos Sindicais de Economia do Trabalho (Cesit) da Universidade de Campinas (Unicamp), Anselmo Luis dos Santos, interpreta o cenário como positivo e aposta que 2010 registrará o menor índice de desemprego da série histórica. A taxa de desocupação pode cair ainda mais, porque é a partir do segundo semestre que a indústria aumenta a produção. Provavelmente, chegaremos a índices na casa de 6% a 6,5% até dezembro, sugeriu.

Dinheiro no bolso O crescimento na oferta de postos de trabalho veio acompanhada de aumento da renda dos trabalhadores.

O rendimento médio apurado pela pesquisa foi de R$ 1.423 e representou um aumento de 0,5% na comparação com maio e de 3,4% a mais em relação a junho de 2009. O indicador pode ser interpretado como consequência da falta de mão de obra, que obriga as empresas a pagarem mais. Santos considera que a melhoria na renda é, na verdade, resultado da maior oferta de propostas de emprego, o que permite ao trabalhador optar pela empresa que oferece as melhores condições.

A escassez de trabalhadores qualificados ocorre em setores específicos, principalmente na construção civil e na indústria. Esses profissionais estão em boas condições para receber aumentos expressivos de salário, ponderou.